CRÔNICAS DE MINHA ALMA
A ALEGRIA DA ALMA NO SENHOR
A alma humana, criada “à imagem e semelhança de
Deus” (cf. Gn1,26-27), é eterna como o Próprio Deus é. Ora, porque Deus é
eterno, tudo criou para a eternidade; essa verdade se aplica perfeitamente à
alma humana, porque ela é soberana por seu livre arbítrio, que consiste no
poder que lhe foi conferido de escolher permanecer em Deus ou não.
Todos os atributos divinos estão presentes como
dons em nossas almas: amor, verdade, liberdade, fidelidade, misericórdia,
bondade, justiça, mansidão, etc. Mas, por que então temos uma sociedade tão
desumana, corrupta, violenta e injusta? Porque os homens não levam mais em
conta a vida em sua essência; mas sim a terrível decadência dos valores
existenciais, para cultivarem toda espécie de mal, destruindo com isso, a
grandeza de sermos “a imagem e semelhança” de Deus. Ora, só é possível atingirmos
a plenitude dos desígnios divinos a nosso respeito, se vivermos em conformidade
com os dons que de Deus recebemos; caso contrário, nada teremos de bom, mas somente
o mal que cultivarmos. É por isso que temos uma sociedade tão desigual, tão
pervertida e infeliz.
A verdadeira alegria da alma nasce da profunda união
com Deus e de sua permanência Nele, pois Deus é a Fonte do Amor, do Sumo Bem,
da Santidade, da Felicidade e da verdadeira satisfação. “Quem a Deus tem, dizia
Santa Tereza D’avila, nada lhe falta”. Assim é a alma imersa em Deus e
comandada por Ele em suas inspirações e ações; tudo faz para a glória de Deus
(cf. Col 3,17), porque Deus é a causa de sua alegria. Vemos essa experiência,
por exemplo, no Cântico do Magnificat: “Maria
canta o que Lhe vai na alma (“eu
glorifico, eu exulto”). Mas é um eu em relação, dirigido a Deus, para
descrever o que Deus fez nela e faz pelo Seu povo”.
De fato, a verdadeira alegria é compartilhada,
porque é transbordante; na verdade, ela é um bem eterno que se expande, porque
irradiante de beleza e esplendor, alcança tudo e todos, até mesmo os corações
mais distantes de Deus. A alegria verdadeira é fruto do acolhimento da vontade
de Deus em nossa vida, pois ela é revelação da presença de Cristo em nossas
almas, que pela Eucaristia nos une a Si, para vivermos Nele a unicidade divina recebida
no batismo.
Sei que não estamos ainda na posse definitiva da
verdadeira alegria, porque ela é atributo divino; por isso, enquanto aqui
estivermos, ela é dom da graça de Deus para nós. Todavia, quando a recebemos
como revelação permanente, ela é completa, como nos ensinou São João: “O que era desde o princípio, o que temos
ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que temos contemplado e as
nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da vida - porque a vida se
manifestou, e nós a temos visto; damos testemunho e vos anunciamos a vida
eterna, que estava no Pai e que se nos manifestou -, o que vimos e ouvimos nós
vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão conosco. Ora, a nossa
comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo. Escrevemos-vos estas
coisas para que a vossa alegria seja completa”. (1Jo 1,1-4).
Paz e Bem!
Frei Fernando,OFMConv.
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