AS SAGRADAS ESCRITURAS
As Sagradas Escrituras são a
voz e a presença de Deus em meio à sua criação; e tal revelação ou conhecimento
se nos veio pela experiência de fé do povo que o Senhor escolheu para revelar
ao mundo quem Ele é; revelar as suas leis, naturais e divinas; e como devemos
nos relacionar com Ele; quais são seus desígnios a respeito da humanidade; e ainda
qual a finalidade da vinda do Seu Filho, Jesus Cristo, a este mundo.
Ora, ao escolher Abraão,
patriarca do povo Hebreu, para ser o pai da fé, o Senhor se mostrou
misericordioso para com toda humana criatura, representadas por ele e por seus
descendentes. Através da experiência da fé de Abraão e dos seus descendentes,
conhecemos tudo o que diz respeito à presença dos homens sobre a face da terra:
sua origem e de todas as coisas; qual a finalidade da obra da criação; o porquê
do desequilíbrio que há nela; quem causou tal desequilíbrio; o porquê da morte;
como Deus fez para liberta-nos do pecado, da morte e de todo mal; como viver em
comunhão permanente com Ele, o nosso Criador e Pai de nossas almas; qual o
destino final deste mundo e de todas as coisas criadas; o que haverá após a nossa
morte, isto é, o juízo final. E após este juízo o que de fato acontecerá, ou
seja, como será a nova criação. Todas as respostas a estas indagações se
encontram nas Sagradas Escrituras, e somente pela fé somos capazes de
compreendê-las e vive-las para a nossa salvação.
Com efeito, há no ser humano
um profundo desejo inato da permanência na vida, porque ninguém em sã
consciência quer a morte pela morte; a não ser pelo fato de ter estragado de
tal forma a sua vida, que já não encontra mais sentido para ela. Logo, as
indagações que fazemos a partir de nós mesmos e das outras criaturas, requer
respostas tão convincentes que possam tranquilizar os nossos corações com
certezas e esperanças, que nos façam viver em paz e sermos felizes, mesmo tendo
consciência que naturalmente morreremos. Todavia, nenhuma resposta humana para
o nosso desejo de vida permanente é suficiente para nos tranquilizar
totalmente, ou seja, precisamos da fé em Deus, porque somente em Deus a vida é
eterna. Então, como vivermos a fé ou da fé? Vamos às perguntas e respostas para
isto.
Por que o homem existe?
Porque Deus o criou “à sua imagem e semelhança” (cf. Gn 1,26-27). Ora, somente
o entendimento da fé responde a essa pergunta; qualquer resposta racional,
desprovida da graça de Deus, não satisfará nosso desejo da verdade, porque fora
da graça de Deus não há satisfação permanente.
E por que todas as coisas
existem? Por causa do homem, sem ele, a criação não teria nenhum sentido. Ora,
Deus criou o homem em estado de graça para governar a terra e tudo o que há nela
em perfeita comunhão Consigo (Gn 1,26), por isso, Ele o pôs num paraíso (cf. Gn
2,4b-10). Todavia, existe ainda uma outra finalidade na criação do homem e de
todas as coisas, qual seja, Deus criou o homem para participar de sua natureza
divina e de sua glória eterna (cf. 1Pd 1,4).
Por que há tanto
desequilíbrio na criação? Deus é infinitamente Perfeito, e criou tudo com sua
perfeição própria para atingir a plenitude do serviço uns dos outros. Quanto ao
homem, Deus o criou com a liberdade de ser e estar no mundo, isto é, com todas
as virtudes e capacidades naturais e sobrenaturais, como dádivas de sua graça
para governa-se e governar todas as coisas; e deu-lhe ainda o poder de decidir
livremente pelo bem para manter sua liberdade ou pelo mal para perdê-la (cf. Dt
30,19-20); e como o homem decidiu pelo mal, de fato, perdeu a liberdade e a
comunhão com seu Criador, para viver na escravidão do pecado, que consiste na
não vontade de Deus em todos os sentidos da vida. E o resultado da
desobediência humana são as tragédias e os desequilíbrios entre si e em toda a
criação (cf. Gn 3).
E quem causou este
desequilíbrio, foi somente o homem ou teve a participação de algum outro ser?
Ora, tudo o que conhecemos da obra de Deus, conhecemos ou naturalmente ou por
revelação (cf. Rm 1,19-20; Hb 1,1-4), desse modo, por exemplo, entendemos o
tempo como algo que se move para um fim determinado, pois para nós o tempo não
para, mas na realidade ele é uma lei natural que move todas as coisas sem ser
notado em si mesmo, mas somente no que é movido por causa dos efeitos e do fim
de todas as coisas. Outro exemplo é o ar que respiramos, ele é invisível, não o
tocamos, não o vemos, mas sem ele não existimos; desse modo, conhecendo que o
ar é também uma lei natural, entendemos por ele que Deus criou as coisas
visíveis e as invisíveis. Logo, inferimos que a criação divina é tanto natural,
revelada em nossa natureza e pelo tempo; quanto metafísica, revelada por Deus,
Ele mesmo, e em suas criaturas invisíveis e eternas. Daí, concluímos que a
criação natural depende diretamente do invisível que a sustenta, quer físico
quer metafísico. Portanto, por graça de Deus, foi-nos dado conhecer que existe um
ser invisível (Lúcifer), criado por Deus para o bem, mas que se interpôs entre
Deus e sua criação, por consentida desobediência. No entanto este ser e seus
séquitos foram banidos para sempre da presença do Altíssimo (cf. Ez 28,11-19; cf
Jo 16,11; Ap 12, 7-9). Por isso, recebeu a alcunha de demônio ou satanás,
causador do pecado e de todo o mal que existe na face da terra e na criação,
isto é, entre os anjos decaídos (cf. Ap 12, 7-9; 20,1-3). Porém, compreenda-se
bem isto, ele não é Deus nem como Deus, mas uma criatura infinitamente nada em
relação a Deus.
Por que a morte existe? Pelo
que conhecemos da revelação divina, a morte tem duas conotações: primeira, ela é
punição temporal pelo pecado humano até o julgamento final (cf. Gn 3,19);
segunda: após o julgamento final, os julgados culpados, serão condenados à uma
é pena eterna, que São João, no Apocalipse, chama de “segunda morte” (cf. Ap
21,18). Porém, antes que tudo isto aconteça, ainda nesse tempo que nos é dado,
pode haver o arrependimento e o perdão dos pecados e a consequente reconciliação
com Deus, ou seja, tudo pode ser mudado por uma sincera conversão ao Senhor, e
isto de todo coração (cf. Jr 29,12-14).
O que Deus fez para
livrar-nos do pecado, da morte e de todo o mal? Não obstante a desobediência
humana e a punição temporal imposta, o Senhor veio em nosso auxílio, como rezamos
na quarta oração eucarística: “Nós
proclamamos a vossa grandeza, Pai santo, a sabedoria e o amor com que fizestes
todas as coisas: criastes o homem e a mulher à vossa imagem e lhes confiastes
todo o universo, para que, servindo a vós, seu Criador, dominassem toda
criatura. E quando pela desobediência perderam a vossa amizade, não os
abandonastes ao poder da morte, mas a todos socorrestes com bondade, para que,
ao procurar-vos, vos pudessem encontrar”.
“E, ainda mais, oferecestes muitas vezes aliança aos homens e às
mulheres e os instruístes pelos profetas na esperança da salvação. E de tal
modo, Pai santo, amastes o mundo que, chegada a plenitude dos tempos, nos
enviastes vosso próprio Filho para ser o nosso Salvador. Verdadeiro homem,
concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria, viveu em tudo a condição
humana, menos o pecado, anunciou aos pobres a salvação, aos oprimidos a
liberdade, aos tristes, a alegria. E para realizar o vosso plano de amor,
entregou-se à morte e, ressuscitando dos mortos, venceu a morte e renovou a
vida. E, a fim de não mais vivermos para nós, mas para ele, que por nós morreu
e ressuscitou, enviou de vós, ó Pai, o Espírito Santo, como primeiro dom aos
vossos fiéis para santificar todas as coisas, levando à plenitude a sua obra”. (Missal
Romano).
Então, como viver em
permanente comunhão com o Senhor de nossa vida? Ora, pelo sacramento do
batismo, o ser humano nasce da água e do Espírito Santo na ordem da graça para
a vida eterna; nele temos o perdão do pecado original, para vivermos em
permanente estado de graça, isto é, em estado de comunhão com Deus, pois a
obediência perdida com o pecado original é restabelecida neste sacramento, para
que façamos em tudo a sua santa vontade. Também neste sacramento acontece nossa
morte e ressurreição com Cristo Jesus, como bem nos ensinou São Paulo: “Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte
pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai,
assim nós também vivamos uma vida nova”. (Rm 6,4). Vida nova que consiste
em permanecermos nele para darmos os frutos da redenção que dele recebemos (cf.
Jo 15,1-8).
Qual o destino deste mundo e de todas as
coisas que nele há? Conforme a revelação divina, nas Sagradas Escrituras (cf. Mt
24,1-36; 2Pd 3; Ap 21 e 22), este mundo, desde a primeira vinda de Jesus
Cristo, está passando por uma renovação definitiva, que culminará com a sua
segunda vinda, vejamos: “Sabei antes de
tudo o seguinte: nos últimos tempos virão escarnecedores cheios de zombaria,
que viverão segundo as suas próprias concupiscências. Eles dirão: Onde está a
promessa de sua vinda? Desde que nossos pais morreram, tudo continua como desde
o princípio do mundo. Esquecem-se propositadamente que desde o princípio
existiam os céus e igualmente uma terra que a palavra de Deus fizera surgir do
seio das águas, no meio da água, e deste modo o mundo de então perecia afogado
na água. Mas os céus e a terra que agora existem são guardados pela mesma
palavra divina e reservados para o fogo no dia do juízo e da perdição dos
ímpios”.
“Mas
há uma coisa, caríssimos, de que não vos deveis esquecer: um dia diante do
Senhor é como mil anos, e mil anos como, um dia. O Senhor não retarda o
cumprimento de sua promessa, como alguns pensam, mas usa da paciência para
convosco. Não quer que alguém pereça; ao contrário, quer que todos se
arrependam. Entretanto, virá o dia do Senhor como ladrão. Naquele dia os céus
passarão com ruído, os elementos abrasados se dissolverão, e será consumida a
terra com todas as obras que ela contém. Uma vez que todas estas coisas se hão
de desagregar, considerai qual deve ser a santidade de vossa vida e de vossa
piedade, enquanto esperais e apressais o dia de Deus, esse dia em que se hão de
dissolver os céus inflamados e se hão de fundir os elementos abrasados! Nós,
porém, segundo sua promessa, esperamos novos céus e uma nova terra, nos quais
habitará a justiça. Portanto, caríssimos, esperando estas coisas, esforçai-vos
em ser por ele achados sem mácula e irrepreensíveis na paz. Reconhecei que a
longa paciência de nosso Senhor vos é salutar...” (2Pd 3,3-15a).
Naquele dia, “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra a aflição e a
angústia apoderar-se-ão das nações pelo bramido do mar e das ondas. Os homens
definharão de medo, na expectativa dos males que devem sobrevir a toda a terra.
As próprias forças dos céus serão abaladas. Então verão o Filho do Homem vir
sobre uma nuvem com grande glória e majestade. Quando começarem a acontecer
estas coisas, reanimai-vos e levantai as vossas cabeças; porque se aproxima a
vossa libertação”. (Lc 21,25-27).
Como será o juízo pessoal e final? Façamos
uma analogia entre os meios de armazenamento da TI (Tecnologia da Informação)
atual e as nossas almas; por exemplo, tudo o que fazemos em termos de informações,
deixamos gravados em HDs (Discos Rígidos) ou num cartão SD (Cartão de Memória)
para acessa-los quando preciso; de igual modo, tudo o que pensamos, desejamos,
decidimos e praticamos, ficam gravados em nossas almas para o dia do julgamento
pessoal e final; assim, no dia eterno, quando formos julgados, nossa vida
passará diante de nós e Deus, como se fosse na tela de nosso computador; e ao
presenciarmos nosso modo de ser diante de Deus e da vida que levamos, obteremos
o resultado de nossa prática existencial.
A esse respeito, bem nos ensinou São Paulo:
“Que os homens nos considerem, pois, como
simples operários de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. Ora, o que
se exige dos administradores é que sejam fiéis. A mim pouco se me dá ser
julgado por vós ou por tribunal humano, pois nem eu me julgo a mim mesmo. De
nada me acusa a consciência; contudo, nem por isso sou justificado. Meu juiz é o
Senhor. Por isso, não julgueis antes do tempo; esperai que venha o Senhor. Ele
porá às claras o que se acha escondido nas trevas. Ele manifestará as intenções
dos corações. Então cada um receberá de Deus o louvor que merece”. (1Cor
4,1-5). E ainda na Carta aos Hebreus: “Como está determinado que os homens
morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo...” (Hb 9,27). Porém, fiquemos
atentos também ao ensinamento de São Tiago: “Falai, pois, de tal modo e de tal modo procedei, como se estivésseis
para ser julgados pela lei da liberdade. Haverá juízo sem misericórdia para
aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o julgamento”.
(Tg 2,14-15).
Portanto, aproveitemos o presente tempo que
nos é dado pelo Senhor, nesse e em todos os momentos de nossa vida, pois o
tempo é uma lei divina que nos envolve e nos encaminha para a eternidade, ele
não para até que cheguemos ao fim determinado. Que esse tempo dado à todos é
tempo de conversão e profunda comunhão de amor com o Senhor, assim nos
sentiremos amados, amparados e conduzidos por ele, até chegarmos à felicidade
eterna do Seu Reino de justiça e paz.
Como será a Nova Criação? Será conforme o
que já nos foi revelado nos escritos do Antigo e do Novo Testamento: “Nós, porém, segundo sua promessa, esperamos
novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça”. (2Pd 3,13). Com
efeito, “Conheço um homem em Cristo que
há catorze anos foi arrebatado até o terceiro céu. Se foi no corpo, não sei. Se
fora do corpo, também não sei; Deus o sabe. E sei que esse homem - se no corpo
ou se fora do corpo, não sei; Deus o sabe - foi arrebatado ao paraíso e lá
ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir”. (2Cor
12,2-4). Também São João descreve com perfeição de detalhas a nova criação: “Vi,
então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra
desapareceram e o mar já não existia. Eu vi descer do céu, de junto de Deus, a
Cidade Santa, a nova Jerusalém, como uma esposa ornada para o esposo”.
“Ao mesmo tempo, ouvi do trono uma grande
voz que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens. Habitará com eles
e serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Enxugará toda lágrima de seus
olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a
primeira condição. Então o que está assentado no trono disse: Eis que eu renovo
todas as coisas. Disse ainda: Escreve, porque estas palavras são fiéis e
verdadeiras. Novamente me disse: Está pronto! Eu sou o Alfa e o Ômega, o Começo
e o Fim. A quem tem sede eu darei gratuitamente de beber da fonte da água viva.
O vencedor herdará tudo isso; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho”. (Ap
21,1-7).
E qual deve ser a nossa atitude diante de
tais revelações? Preparar-nos para o grande dia do Senhor, vivendo conforme ele
nos ensinou, especialmente no que diz respeito ao julgamento antes do tempo: “Sede misericordiosos, como também vosso Pai
é misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não
sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados; dai, e dar-se-vos-á.
Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada e transbordante, porque,
com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também”. (Lc
6,36-38).
E sabes por quê? São Paulo, responde: “Que os homens nos considerem, pois, como
simples operários de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. Ora, o que
se exige dos administradores é que sejam fiéis. A mim pouco se me dá ser
julgado por vós ou por tribunal humano, pois nem eu me julgo a mim mesmo. De
nada me acusa a consciência; contudo, nem por isso sou justificado. Meu juiz é
o Senhor. Por isso, não julgueis antes do tempo; esperai que venha o Senhor.
Ele porá às claras o que se acha escondido nas trevas. Ele manifestará as
intenções dos corações. Então cada um receberá de Deus o louvor que merece”.
(1Cor 4,1-5).
Por fim, vejamos o que o Senhor disse a São
João: “Disse ele ainda: Não seles o texto
profético deste livro, porque o momento está próximo. O injusto faça ainda
injustiças, o impuro pratique impurezas. Mas o justo faça a justiça e o santo
santifique-se ainda mais. Eis que venho em breve, e a minha recompensa está
comigo, para dar a cada um conforme as suas obras. Eu sou o Alfa e o Ômega, o
Primeiro e o Último, o Começo e o Fim. Felizes aqueles que lavam as suas vestes
para ter direito à árvore da vida e poder entrar na cidade pelas portas”.
(Ap 22,10-12).
“Aquele
que atesta estas coisas diz: Sim! Eu venho depressa! Amém. Vem, Senhor Jesus! A
graça do Senhor Jesus esteja com todos”. (Ap 22,20-21).
Paz e Bem!
Frei Fernando Maria, OFMConv.
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