SÉRIE MEDITAÇÕES
OS NOVÍSSIMOS DO HOMEM,
OS ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS DE SUA VIDA...
A
MORTE
Em tudo o que fizeres, lembra-te de teu
fim, por isso, evites cometer pecados. (cf. Eclo 7,40). A morte é tão real para
nós quanto a vida que vivemos dia a dia, todavia, não pensamos nela com
frequência, a não ser quando passamos por algum perigo iminente e escapamos por
pouco. Isso acontece, talvez, porque nos acomodamos com as seguranças que
criamos, no entanto, nada somos além de um sopro de vida; na verdade, andamos
como que na corda bamba da existência ou ainda singrando no mar revolto desta
vida em busca de algum porto seguro de salvação.
Com efeito, meditando sobre a morte, assim
escreveu Santo Afonso Maria de Ligório, em sua obra intitulada, “Preparação Para a Morte”: “Considerai
que sois pó, e que em pó vos haveis de tornar. Virá um dia em que morrereis e
sereis lançado à podridão num fosso, onde o vosso único vestido serão os
vermes. Tal é a sorte reservada a todos os homens, aos nobres e aos plebeus,
aos príncipes e aos vassalos. Logo que a alma saia do corpo com o último
suspiro, dirigir-se-á à eternidade e o corpo deverá reduzir-se a pó”.
De fato, a morte nos acompanha a cada instante e vemos ela acontecer
na vida dos que partem antes de nós, só que um dia partiremos também como eles,
e de tudo o que fizemos restarão apenas lembranças que logo cairão no esquecimento.
Por isso, precisamos rezar como o salmista: “Só em Deus a minha alma tem repouso, porque dele é que me vem a
salvação. Só ele é meu rochedo e salvação, a fortaleza, onde encontro segurança!”
(Sl 61,1-2). Porque sem Deus não há esperança, não há vida, não há nada, só o
caos.
O JUIZO PESSOAL
“Como está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em
seguida vem o juízo...” (Heb 9,27). Quem não haverá de ser julgado? Ora, ninguém
escapará ao juízo divino, até mesmo os inocentes que receberão a sentença
favorável por sua inocência, também eles serão julgados. E esta é uma das
maiores certezas que temos por tudo o que recebemos de Deus, que nos criou por
amor e somente para amarmos. “Ora, qual é o filho a quem seu pai não corrige?”
(Heb 12,7c).
Então, que julgamento é esse? Na verdade, todos nós que fomos
batizados nascemos na ordem da graça para a vida eterna e não para o pecado,
logo, ele não devida fazer mais parte de nossa vida. Pois, assim nos ensinou
São Paulo: “De agora em diante, pois, já
não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo. A lei do
Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte. O
que era impossível à lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus o fez.
Enviando, por causa do pecado, o seu próprio Filho numa carne semelhante à do
pecado, condenou o pecado na carne, a fim de que a justiça, prescrita pela lei,
fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o espírito”.
(Rom 8,1-4).
Acontece que muitos se aproveitam da liberdade que receberam para
agirem, não conforme a vontade de Deus, presente em nossa liberdade de escolha
e decisão, mas como insensatos que não levam em conta o fim de seus dias e a eternidade
na qual serão julgados logo após sua morte. Bem nos alertou São Paulo a esse
respeito quando escreveu: “Irmãos, não
somos devedores da carne, para que vivamos segundo a carne. De fato, se
viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes
as obras da carne, vivereis, pois todos os que são conduzidos pelo Espírito de
Deus são filhos de Deus”. (Rom 8,12-14).
Enfim, a respeito do juízo só não o temerão aqueles que em sua
vida natural se portaram como verdadeiros filhos de Deus, isto é, fiéis aos seus
mandamentos e dignos do seu Reino pelas obras que os acompanham. Por isso,
nosso Senhor Jesus Cristo nos ensina: “Vigiai
e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é
fraca”. (Mt 26,41). Então, rezemos com o salmista: “Escutai, Senhor, a voz de minha oração, tende piedade de mim e ouvi-me.
Fala-vos meu coração, minha face vos busca; a vossa face, ó Senhor, eu a
procuro. Não escondais de mim vosso semblante, não afasteis com ira o vosso
servo. Vós sois o meu amparo, não me rejeiteis. Nem me abandoneis, ó Deus, meu
Salvador. Ensinai-me, Senhor, vosso caminho; por causa dos adversários,
guiai-me pela senda reta”. (Sl 26,7-9.11).
O PARAÍSO CELESTE
Ao contemplarmos este mundo notamos tanta disparidade e
desequilíbrio, apesar das perfeições também nele notadas, que achamos difícil crer
que ele foi criado por Deus, que é infinitamente Perfeito. De fato, Deus é
Infinitamente Perfeito e tudo criou para atingir a plenitude de sua Perfeição.
É por isso, que em tudo Ele pôs inteligência, sabedoria e leis que se
articuladas conforme sua vontade, atingirão a perfeição de Sua Caridade e os
atributos de sua Natureza Divina que são Santidade e Imortalidade, como Ele
mesmo desejou em seu desígnio de amor (cf. Sab 2,23-24). Ora, mesmo as
imperfeições e maquinações maléficas aqui notadas são também elas articuladas,
só que por uma inteligência inferior, e por isso, dão sempre em nada, porque
são adversas à perfeição e a intenção do nossa Criador. Logo, todo esse
desequilíbrio, obviamente, dará lugar à justiça divina, à verdade eterna e ao
amor perfeito que é o anseio de todas as criaturas.
É como escreveu São Paulo: “Tenho
para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a
glória futura que nos deve ser manifestada. Por isso, a criação aguarda
ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus. Pois a criação foi sujeita à
vaidade (não voluntariamente, mas por vontade daquele que a sujeitou), todavia
com a esperança de ser também ela libertada do cativeiro da corrupção, para
participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Pois sabemos que toda a
criação geme e sofre como que dores de parto até o presente dia. Não só ela,
mas também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos em nós mesmos,
aguardando a adoção, a redenção do nosso corpo. Porque pela esperança é que
fomos salvos”. (Rom 8,18-24a).
Então, que salvação é esta, que paraíso é este? “Nota bem o seguinte: nos últimos dias haverá
um período difícil. Os homens se tornarão egoístas, avarentos, fanfarrões,
soberbos, rebeldes aos pais, ingratos, malvados, desalmados, desleais,
caluniadores, devassos, cruéis, inimigos dos bons, traidores, insolentes, cegos
de orgulho, amigos dos prazeres e não de Deus, ostentarão a aparência de
piedade, mas desdenharão a realidade. Dessa gente, afasta-te!” (2Tim
3,1-5). “Entretanto, virá o dia do Senhor
como ladrão. Naquele dia os céus passarão com ruído, os elementos abrasados se
dissolverão, e será consumida a terra com todas as obras que ela contém. Uma
vez que todas estas coisas se hão de desagregar, considerai qual deve ser a
santidade de vossa vida e de vossa piedade, enquanto esperais e apressais o dia
de Deus, esse dia em que se hão de dissolver os céus inflamados e se hão de
fundir os elementos abrasados! Nós, porém, segundo sua promessa, esperamos
novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça. (2Ped 3,10-13).
“Vi, então, um novo céu e
uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar já
não existia. Eu vi descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, a nova
Jerusalém, como uma esposa ornada para o esposo. Ao mesmo tempo, ouvi do trono
uma grande voz que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens.
Habitará com eles e serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Enxugará
toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor,
porque passou a primeira condição”. (Apo 21,1-4). “Portanto, caríssimos, esperando estas coisas, esforçai-vos em ser por
ele achados sem mácula e irrepreensíveis na paz”. (2Ped 3,14).
Santo Afonso descreveu assim a felicidade do céu: “Depois de entrar na felicidade de Deus, a
alma não terá mais nada a sofrer. No paraíso não há doenças, nem pobreza, nem
incômodos. Deixam de existir as vicissitudes dos dias e das noites, do frio e
do calor; é um dia perpétuo, sempre sereno, primavera perpétua, sempre
deliciosa. Não há perseguições nem ciúmes; neste reino de amor, todos os seus
habitantes se amam mútua e ternamente, e cada qual é tão feliz da ventura dos
outros como da própria. Não há receios, porque a alma, confirmada na graça, já
não pode pecar nem perder a Deus. Tudo é novo, tudo consola, tudo satisfaz.
Os olhos deslumbrar-se-ão
com a vista desta cidade cuja beleza é perfeita. Que maravilha não nos causaria
a vista de uma cidade cujas ruas fossem calçadas de cristal, e cujas casas
fossem palácios de prata ornados de cortinados de ouro e de grinaldas de flores
de toda espécie. Oh, quanto mais bela ainda é a cidade celeste!
Que delicioso não será ver
todos os seus habitantes vestidos com pompa real, porque todos efetivamente são
reis, como lhes chama Santo Agostinho: Quot cives, tot reges (Quantos cidadãos,
tantos reis). Que delicioso não será ver Maria, que parecerá mais bela que todo
o paraíso! Que delicioso não será ver o Cordeiro divino, Jesus, o Esposo das
almas!
Numa palavra, o paraíso é a reunião de todos os gozos que se podem
desejar.
Mas essas inefáveis delícias
até aqui consideradas são apenas os menores bens do paraíso. O bem, que faz o
paraíso, é o Bem supremo, que é Deus, diz Santo Agostinho. A recompensa que o
Senhor nos promete não consiste unicamente nas belezas, nas harmonias, nos
outros encantos da bem-aventurada cidade; a recompensa principal é Deus, isto
é, consiste em ver Deus face a face, a amá-Lo. Assegura Santo Agostinho que, para
os condenados, seria como estar no paraíso se chegassem a ver Deus. E
acrescenta que se fosse dado a uma alma, ao sair desta vida, a escolha de ver a
Deus ficando nas penas do inferno, ou ser livre das penas do inferno e ao mesmo
tempo privada da vista de Deus, ela preferiria a primeira condição.
A felicidade de contemplar
com amor a face de Deus, não a podemos conceber neste mundo, mas procuremos
avaliá-la, ainda que não seja senão pela rama, segundo os efeitos que
conhecemos”. (Preparação
para a Morte, Parceria Antônio Maria Pereira, Livraria Editora, Lisboa, 5a.
edição, 1922, pp. 207 e ss.). (http://www.mensageiradapaz.org/novissimos.html
– 18/01/13).
O INFERNO
Não haveria justiça alguma se a maldade dos anjos e dos homens
fosse recompensada; se a verdade presente em todas as coisas não viesse à tona;
se não se revelasse os reais pensamentos e intenções dos corações; se todo esse
desequilíbrio do jeito que se encontra aqui continuasse na eternidade. E se
Deus, depois de enviar o seu Filho Único, nascido da Virgem Maria, para nos
salvar por sua morte e ressurreição, não nos desse um repouso definitivo fruto
do sacrifício de seu Filho para a nossa redenção, o que seria de nós e de toda
a criação? E como ficaria o derramamento de todo sangue inocente que clama
justiça aos céus à começar pelo sangue de Cristo, seu Filho amado?
Muitos dizem: Deus é amor, e por isso jamais punirá alguém.
Realmente Deus é amor, então, vivamos segundo o amor de Deus e jamais haverá
punição alguma; mas se desdenharmos de Seu Infinito Amor, o que restará? Somente
o ódio, porque todo pecado mortal se transforma em ódio, e é assim que vivem os
que estão condenados no inferno. Pois todo pecado mortal é sinônimo de
infortúnio e maldição; cada ato pecaminoso é um doloroso desligamento de Deus;
e caso não haja arrependimento e reparação desses pecados, também não haverá salvação
para aqueles que os cometem.
Com efeito, assim está escrito na Carta aos Hebreus: “Depois de termos recebido e conhecido a
verdade, se a abandonarmos voluntariamente, já não haverá sacrifício para
expiar este pecado. Só teremos que esperar um juízo tremendo e o fogo ardente
que há de devorar os rebeldes. Se alguém transgredir a Lei de Moisés - e isto
provado com duas ou três testemunhas -, deverá ser morto sem misericórdia.
Quanto pior castigo julgais que merece quem calcar aos pés o Filho de Deus,
profanar o sangue da aliança, em que foi santificado, e ultrajar o Espírito
Santo, autor da graça! Pois bem sabemos quem é que disse: Minha é a vingança;
eu a exercerei (Dt 32,35). E ainda: O Senhor julgará o seu povo (Sl 134,14). É
horrendo cair nas mãos de Deus vivo”. (Heb 10,26-31).
Portanto, a respeito do céu ou do inferno não é preciso provar
nada intelectualmente, porque todos nós que aqui estamos já os experimentamos naquilo
que pensamos e vivemos. De fato, cada um colhe sempre o que planta, desse modo,
o julgamento já se faz presente implicitamente em cada ato praticado, cujo
resultado é detectado pelo estado de alma que cada um traz em si mesmo. É como
nos ensinou São Paulo: “Não vos enganeis:
de Deus não se zomba. O que o homem semeia, isso mesmo colherá. Quem semeia na
carne, da carne colherá a corrupção [e a morte]; quem semeia no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. Não nos cansemos de fazer o bem, porque a
seu tempo colheremos, se não relaxarmos. Por isso, enquanto temos tempo,
façamos o bem a todos os homens, mas particularmente aos irmãos na fé”.
(Gal 6,7-10).
Paz e Bem!
Frei Fernando Maria,OFMConv.
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