AS LETRAS DA VIDA
SOBRE O CONHECIMENTO HUMANO E SEUS RESULTADOS PRÁTICOS
Ao criar todas as coisas Deus tudo dispôs com suas leis e ordenações
para que a criação inteira cumprisse o seu múnus existencial, tal qual Ele
determinou em seu infinito amor. Ao homem, porém, deu alma inteligente e
profundo discernimento, e o cumulou de todas as virtudes para que não só
dominasse todas as coisas, mas também contribuísse para o seu desenvolvimento
até que tudo atingisse a perfeição desejada por Ele em seu santo desígnio.
Ora, dotado de alma imortal e inteligência racional, coube ao homem
interagir com seu Criador para conhecê-lo e conhecer seu modo de operar entre
nós; conhecer também a criação e dá-se conhecer a ela, produzindo os frutos
desse conhecimento. De fato, ao longo dos tempos vemos que tudo isso aconteceu
e continua acontecendo, quer pela ciência teológica, no que diz respeito ao
conhecimento de Deus e a nossa interação com Ele; quer por meio das ciências humanas
e naturais, ou ainda por outros tipos de conhecimentos científicos mais
complexos, tipo nanotecnologia, que é o estudo de manipulação da matéria numa escala atômica e molecular,
visando o conhecimento da criação e do homem em si mesmo. Assim procedendo o
homem não só vivência e acumula tais conhecimentos, como também colabora com o
Criador para o bem de toda criação.
Então, quais os tipos de conhecimentos os homens tem desenvolvido ao
longo de sua presença no mundo e quais os resultados práticos em meio a todo
este mistério da vida e do universo? Primeiro, a busca pelo conhecimento no
homem se deu a partir de suas necessidades, pois ao longo da existência humana
em meio à criação, surgiram questões que precisavam de respostas imediatas,
tais como: quem somos, de onde vimos, para onde vamos? Será que estamos
sozinhos no universo? Quem se encontra por traz de tudo isso? Por que nascemos,
vivemos e morremos? Qual o desfecho final disso tudo? Como chegar ao autor de
todas essas obras, incluindo nós que perguntamos? Isto para que, a partir das
respostas, o homem pudesse se desenvolver e satisfazer suas necessidade mais
urgentes, como viver bem e relacionar-se bem uns com os outros e com Deus, pois
a fé sempre esteve presente em todas as culturas de todos os tempos. Segundo,
existe em todos nós uma curiosidade natural que perpassa todas as gerações,
desde as mais ingênuas às mais sofisticadas. Desse modo, o homem aprendeu a
buscar essas respostas quer a partir dos fenômenos naturais enigmáticos, isto
é, sem explicação; quer a partir de estudos mais elaborados ou científicos, que
lhes trouxe certezas ou convicções racionais capazes de satisfazer todos os
seus asseios de entendimento das coisas e dos fenômenos à sua volta.
Vejamos então, ao longo da busca humana, quais tipos de conhecimentos
foram adquiridos e acumulados. Conhecimento empírico ou vulgar, ou ainda do
senso comum, que é o conhecimento dos primeiros indivíduos, não baseado numa
especulação mais apurada, mas sim em uma explicação paliativa que, de certa
forma, respondia ao que se estava almejando, que se dava mais por convencimento
e não por explicação elaborada racionalmente. Depois veio o conhecimento
filosófico, que se deu a partir das observações dos fenômenos naturais, mas já
com uma explicação racional mais elaborado, procurando responder o porquê da
vida e da existência das coisas e demais seres. Em seguida, veio o conhecimento
teológico por meio da revelação que Deus fez de si mesmo ao homem, dando-lhe
com isso, a possibilidade de conhecê-lo, amá-lo e servi-lo e permanecer na sua
presença aqui e por toda eternidade, e isso por meio da fé. Por último, veio o conhecimento
científico, que é o conhecimento racional, sistemático, exato e verificável da
realidade em que o homem vive e interage com os outros seres. É por esse tipo
de conhecimento, dado por Deus ao homem, que ele desenvolveu o progresso da
sociedade e dos meios adequados para se prolongar a vida e o equilíbrio social.
Porém, nem tudo é perfeito entre nós, isto porque atualmente a maior
parte dos homens não tem colaborado para o equilíbrio e bem estar do nosso planeta,
nosso habitat natural; pelo contrário tem colaborado mais para sua destruição
do que para sua perfeição. Se por um lado temos o avanço da medicina na
descoberta de medicamentos capazes de amenizar o flagelo da aids; por outro
vemos a ganância dos laboratórios que não querem abrir mão de suas patentes,
cedendo-as para que os governos possam dissipar essa terrível epidemia. Se por
um lado vemos o aumento de safras ano após ano; por outro vemos milhões
morrerem de fome, porque muitos preferem jogar fora os alimentos que não
atingiram o preço que desejavam, à doarem para serem consumidos pelos mais necessitados.
Se por um lado vemos as descobertas científicas para o tratamento e consumo de
água saudável; por outro vemos as descobertas químicas contaminarem os lenções
freáticos, causando a destruição de rios e mares, verdadeiro crime ecológico
sem precedentes. Se por um lado vemos as indústrias bélicas cada vez mais
sofisticadas com seus armamentos; por outro vemos milhares de guerras
fraticidas destruindo milhões de vidas inocentes.
Se por um lado vemos os conhecimentos tecnológicos em plena expansão, por
outro vemos os donos de tais tecnologias explorarem seus consumidores,
levando-os à dependência de suas tecnologias, a ponto de muitos morrem viciados
em tais máquinas.
Eis porque tantas catástrofes naturais e tantos desequilíbrios sociais
em todas as partes do nosso planeta, têm levado milhões ao desespero e à morte,
e isto, por não prevalecer a virtude da bondade e do bom senso com que o nosso
Criador nos dotou; e por fazerem do conhecimento acumulado uma bomba nuclear voltada
para autodestruição humana. Que o digam os arsenais de armas de guerra, os mais
potentes que existem, capazes de destruir a terra milhares de vezes, caso as
nações usem todo potencial nuclear estocado em seus paióis.
Então, pra que serve mesmo todo conhecimento humano acumulado? Serve
para o homem fazer o bem e somente o bem; mas não é isto que está acontecendo,
pois leva-se mais em conta os bens materiais e o consumismo exagerado, do que o
bem social como um todo. E assim, vemos as injustiças operando a todo vapor,
principalmente nas ciências econômicas e administrativas, onde a corrupção dos
poderes político, jurídico, legislativo e executivo tem sido a “bola da vez” e
a causa da ruína dos mais pobres e abandonados de nossa sociedade. E quando
aparece governos que procuram dar mais atenção a esses miseráveis, as elites políticas,
mantenedora do poder manipulador das massas, fazem de tudo para que tais
administrações não tenham sucesso; pois não querem perder seu “status quo”,
adquirido pelas mais espúrias práticas de manipulações para se chegar ao poder.
O resultado são oposições e brigas políticas intermináveis, tendo como
cúmplice os meios de comunicação de massa, que favorecidos pelos muitos
dividendos recebidos das propagandas a favor dos manipuladores, usam seus
conhecimentos midiáticos para devorar o bom senso e o poder de reação dos menos
favorecidos, pois eles sabem que os votos dessas massas empobrecidas, são
valiosíssimos para manterem no poder os políticos manipuladores que lhes pagam,
e pagam caro com o dinheiro que não suaram para adquirir.
E assim, a inteligência humana que foi dada para o bem, não está sendo
usada como convém, pois raras são as exceções, que usam os conhecimentos acumulados
para livrar-nos dos perigos e tormentos que se nos apresenta nossa própria
negligência. Pois, se os homens seguissem as ordens divinas, expressas nos
mandamentos e no Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, faríamos deste mundo
um verdadeiro paraíso, pois nenhum conhecimento humano se compara à sabedoria
de Deus, que nos é comunicada pelo Espírito Santo em Jesus Cristo.
Portanto, nem tudo está perdido, uma vez que a Sabedoria de Deus veio em
nosso socorro por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos deu o Espírito
Santo, como penhor de nossa redenção. Precisamos, então, fazer de nossa história
uma história de salvação, acolhendo o perdão do Senhor e a graça de
participarmos do seu Reino de amor, cuja parte visível neste mundo é a Igreja da
qual nascemos pelo batismo. Destarte, ouçamos o Senhor em sua oração e exortação:
“Por aquele tempo, Jesus pronunciou estas palavras: Eu te bendigo, Pai, Senhor
do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as
revelaste aos pequenos. Sim, Pai, eu te bendigo, porque assim foi do teu
agrado. Todas as coisas me foram dadas por meu Pai; ninguém conhece o Filho,
senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho
quiser revelá-lo. Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu
vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou
manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque
meu jugo é suave e meu peso é leve. (Mt 11,25-30).
Por fim, resta abordar, que todo conhecimento acumulado nos veio por
meio das experiências que deram certo e de certo modo contribuíram e contribuem
para o bem de todos. Não digo isso em referência aos conhecimentos bélicos,
pois estes só servem à indústria de armas de destruição em massa, capazes de
destruírem a vida em segundos, nem dos conhecimentos científicos voltados para
as grandes corporações, que só pensam no lucro e nada mais. No entanto, digo
dos conhecimentos nas áreas educacionais, medicinais, alimentares, industriais,
desenvolvimento humano sustentável, direitos humanos universais, etc. Pois tudo
isso nos foi transmitido por meio da Palavra escrita ou da tradição oral, a
exemplo do próprio Deus que tudo fez por meio de Sua Palavra, pois a palavra
tem o poder de não só transmitir conhecimentos, mas de fazer acontecer o que é
transmitido conforme a verdade pronunciada. Já dizia um velho bispo: “Somos
Palavra de Deus realizada”, referindo-se à criação e a nós, criados à “imagem e
semelhança” de Deus. De fato, Deus é eterno e tudo faz para a eternidade. Se
tudo no tempo dizemos ser relativo, o resultado do que dizemos ser relativo,
não é; porque a Fonte que nos gerou é Eterna, desse modo, tudo o que fazemos
para a eternidade é que fazemos, seja para o bem ou para o mal. Felizes os que
vivem somente para o bem, esses terão uma feliz recompensa.
Paz e Bem!
Frei Fernando Maria,OFMConv.