O
COMBATE POR MEIO DA PALAVRA DE DEUS, PELA ORAÇÃO,
PENITÊNCIA
E DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS...
Com efeito, o combate espiritual
contra as forças do mal, presente em todos os pecados, é constante em nossa
vida, pois, basta um pequeno descuido e a tentações se apresentam querendo nos
arrastar para a morte que o pecado causa. Jesus mesmo combateu as tentações que
são essas forças do mal, e nos ensinou como combatê-las, primeiro pela Palavra
de Deus, depois pela oração e o exercício da penitência, e em seguida pelo uso
dos demais dons que o Espírito Santo dispõe à nosso favor, especialmente o
discernimento dos espíritos, para assim combatamos eficazmente tudo o que se
levanta contra os filhos de Deus e contra tudo o que é sagrado.
1. O COMBATE POR MEIO DA PALAVRA DE
DEUS
“Em
seguida, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo
demônio. Jejuou quarenta dias e quarenta noites. Depois, teve fome. O tentador
aproximou-se dele e lhe disse: Se és Filho de Deus, ordena que estas pedras se
tornem pães. Jesus respondeu: Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de
toda palavra que procede da boca de Deus (Dt 8,3).”
“O
demônio transportou-o à Cidade Santa, colocou-o no ponto mais alto do templo e
disse-lhe: Se és Filho de Deus, lança-te abaixo, pois está escrito: Ele deu a
seus anjos ordens a teu respeito; proteger-te-ão com as mãos, com cuidado, para
não machucares o teu pé em alguma pedra (Sl 90,11s). Disse-lhe Jesus: Também
está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus (Dt 6,16).”
“O
demônio transportou-o uma vez mais, a um monte muito alto, e lhe mostrou todos
os reinos do mundo e a sua glória, e disse-lhe: Dar-te-ei tudo isto se,
prostrando-te diante de mim, me adorares. Respondeu-lhe Jesus: Para trás,
Satanás, pois está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás (Dt
6,13). Em seguida, o demônio o deixou, e os anjos aproximaram-se dele para
servi-lo.” (Mt 4,1-11).
“Finalmente,
irmãos, fortalecei-vos no Senhor, pelo seu soberano poder. Revesti-vos da
armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio. Pois não é
contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e
potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças
espirituais do mal (espalhadas) nos ares.
Tomai,
por tanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias maus e
manter-vos inabaláveis no cumprimento do vosso dever. Ficai alerta, à cintura
cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés
calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz. Sobretudo, embraçai o
escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno.
Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra
de Deus.”
(Ef. 6,10-17).
“Porque
a palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois
gumes e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e
discerne os pensamentos e intenções do coração. Nenhuma criatura lhe é
invisível. Tudo é nu e descoberto aos olhos daquele a quem havemos de prestar
contas.” (Hb 4,12-13).
“E
desde a infância conheces as Sagradas Escrituras e sabes que elas têm o condão
de te proporcionar a sabedoria que conduz à salvação, pela fé em Jesus Cristo.
Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender,
para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna
perfeito, capacitado para toda boa obra.” (2Tm 3,14-17).
2. O COMBATE PELA ORAÇÃO...
A oração é um dom precioso de comunicação,
por ela nos elevamos ao Senhor e pomos diante dele as nossas necessidades e as
dos nossos irmãos e irmãs na fé, espalhados no mundo inteiro. De fato, a oração
é também uma arma de combate espiritual maravilhosa, por ela nos armamos das
armas da graça, da piedade e da autoridade divina que o Senhor nos concede para
expulsarmos os males físicos, psíquicos, espirituais e morais.
Eis alguns exemplos de combate
espiritual pela fé e a oração: “Então os
discípulos lhe perguntaram em particular: Por que não pudemos nós expulsar este
demônio? Jesus respondeu-lhes: Por causa de vossa falta de fé. Em verdade vos
digo: se tiverdes fé, como um grão de mostarda, direis a esta montanha:
Transporta-te daqui para lá, e ela irá; e nada vos será impossível. Quanto a esta
espécie de demônio, só se pode expulsar à força de oração e de jejum.” (Mt
17,19-20). O dom da fé faz aumentar o poder de Deus em nossa vida; e a oração
juntamente com o jejum e a penitência nos ajuda a realizar a obra libertadora
que o Senhor preparou como nossa missão.
Ora, quando tratamos de combate pela
oração, tratamos de vigilância, pois esta é profundamente necessária para
termos um discernimento perfeito, e não nos deixarmos levar pela “carne que é fraca” como nos ensina o
Senhor: “Retirou-se Jesus com eles para
um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali
orar. E, tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a
entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes, então: Minha alma está triste até a
morte. Ficai aqui e vigiai comigo.”
“Adiantou-se
um pouco e, prostrando-se com a face por terra, assim rezou: Meu Pai, se é
possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas
sim o que tu queres. Foi ter então com os discípulos e os encontrou dormindo. E
disse a Pedro: Então não pudestes vigiar uma hora comigo... Vigiai e orai para
que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca.”
(Mt 26,36-41).
Então, para que este combate seja
eficaz e proveitoso, eis a recomendação de São Paulo nos faz: “Intensificai as
vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no
qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos os cristãos.” (Ef.
6,18). Ou ainda: “Orai sem cessar. Em
todas as circunstâncias, dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade
de Deus em Jesus Cristo. Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias.
Examinai tudo: abraçai o que é bom. Guardai-vos de toda a espécie de mal. O Deus
da paz vos conceda santidade perfeita. Que todo o vosso ser, espírito, alma e
corpo, seja conservado irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus
Cristo! Fiel é aquele que vos chama, e o cumprirá.” (1Tess. 5,17-24).
3. O DOM DO DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS
Discernimento dos espíritos, dom do
Espírito Santo que nos dá a conhecer o que vem e o que não vem de Deus; como
escreveu São Paulo: “Ora, nós não recebemos o espírito do mundo, mas sim o
Espírito que vem de Deus, que nos dá a conhecer as graças que Deus nos
prodigalizou”. (1Cor 2,12).
Douto nesse entendimento, São João
nos exorta: “Caríssimos, não deis fé a qualquer espírito, mas examinai os
espíritos para ver se são de Deus, porque muitos falsos profetas se levantaram
no mundo. Nisto se reconhece o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que
Jesus Cristo se fez carne é de Deus; e todo espírito que não confessa Jesus
esse não é de Deus, mas é o espírito do Anticristo de cuja vinda tendes ouvido,
e já está agora no mundo.
Vós, filhinhos, sois de Deus, e os
vencestes, porque o que está em vós é maior do que aquele que está no mundo.
Eles são do mundo. É por isto que falam segundo o mundo, e o mundo os ouve.
Nós, porém, somos de Deus. Quem conhece a Deus, ouve-nos; quem não é de Deus,
não nos ouve. É nisto que conhecemos o Espírito da Verdade e o espírito do
erro”. (1Jo 4,1-6).
Para uma melhor compreensão desse
dom do Espírito Santo, temos uma bela explanação do Bispo Diádoco de Foticéia,
cujo título é: A ciência do discernimento dos espíritos vem da percepção da
Inteligência. Eis como ele se expressa:
“A luz da verdadeira ciência está em
discernir sem errar o bem do mal. Feito isto, a via da justiça que leva a mente
à Deus, sol de justiça, introduz então a inteligência naquele infinito fulgor
do conhecimento, que lhe faz procurar daí em diante, com segurança, a caridade.
Os que combatem precisam manter
sempre o espírito fora das agitações perturbadoras para discernir os
pensamentos que surgem: guardar os bons, vindos de Deus, no tesouro da memória;
expulsar os maus e demoníacos dos antros da natureza. O mar, quando tranquilo,
deixa os pescadores verem até o fundo, de sorte que quase nenhum peixe lhes
escape; mas, agitado pelos ventos, ele esconde na turva tempestade aquilo que
se via tão facilmente no tempo sereno. Assim, toda a perícia dos pescadores se
vê frustrada.
Somente, porém, o Espírito Santo tem
o poder de purificar a mente. Se o forte não entrar para espoliar o ladrão,
nunca se libertará a presa. É necessário, portanto, alegrar em tudo o Espírito
Santo pela paz da alma, mantendo em nós sempre acesa a lâmpada da ciência.
Quando ela não cessa de brilhar no íntimo da mente, conhecem-se os ataques
cruéis e tenebrosos dos demônios, o que mais ainda os enfraquece sendo eles
manifestados por aquela santa e gloriosa luz.
Por esta razão diz o Apóstolo: Não
apagueis o Espírito, isto é, não causeis tristeza ao Espírito Santo por
maldades e maus pensamentos, para que não aconteça que ele deixe de
proteger-vos com seu esplendor. Não que o eterno e vivificante Espírito Santo
possa extinguir-se, mas é a sua tristeza, quer dizer, seu afastamento que deixa
a mente escura sem a luz do conhecimento e envolta em trevas.
O sentido da mente é o paladar
perfeito que distingue as realidades. Pois como pelo paladar, sentido corporal,
sabemos discernir sem erro o bom do ruim quando estamos com saúde e desejamos
as coisas delicadas, assim nossa mente, começando a adquirir a saúde perfeita e
a mover-se sem preocupações, poderá sentir abundantemente a consolação divina e
conservar, pela ação da caridade, a lembrança do gosto bom para aprovar o que
for ainda melhor, conforme ensina o Apostolo: Isto peço: que vossa caridade
cresça sempre mais na ciência e na compreensão, para discernirdes o que é ainda
melhor”. (Capítulos
sobre a Perfeição Espiritual, Diádoco de Foticéia, bispo Séc. V).
Por fim, menciono outra fonte de
discernimento perfeito dos espíritos revelada por São Paulo na Carta aos
Romanos: “Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes
vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso culto
espiritual. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela
renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de
Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito”. (Rom 12,1-2).
“Além disso, irmãos, tudo o que é
verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o
que é amável, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável, eis o
que deve ocupar vossos pensamentos. O que aprendestes, recebestes, ouvistes e
observastes em mim, isto praticai, e o Deus da paz estará sempre convosco”.
(Fil 4,8-9).
ORAÇÃO PARA OBTER O DOM DO
DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS
“Eterno
Deus Onipotente, Justo e Misericordioso, concedei-nos a nós míseros, praticar
por vossa causa o que reconhecemos ser a vossa vontade e querer sempre o que
vos agrade, a fim de que interiormente purificados, iluminados e abrasados pelo
fogo do Espírito Santo, possamos seguir as pegadas de Vosso Filho, Nosso Senhor
Jesus Cristo, e por vossa graça unicamente chegar até vós, ó Altíssimo, que em
Trindade Perfeita e Unidade Simples viveis e reinais na Glória como Deus
Onipotente por toda a eternidade, amém.” (São Francisco de Assis).
Paz e Bem!
Frei Fernando,OFMConv.

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