ORIGEM E FORMAÇÃO DO CÂNON DO NOVO TESTAMENTO
Novo Testamento (do grego: Διαθήκη Καινὴ, Kaine Diatheke) é o nome dado à coleção de livros que compõe a segunda parte da Bíblia cristã. A primeira parte é denominada Antigo Testamento. Seu conteúdo foi escrito após a morte de Jesus Cristo e é dirigido explicitamente aos cristãos, embora dentro da religião cristã tanto o Antigo quanto o Novo Testamento são considerados, em conjunto, Escrituras Sagradas. [1]
Os livros que compõe essa segunda parte da Bíblia foram escritos a medida que o cristianismo era difundido no mundo antigo, refletindo e servindo como fonte para a teologia cristã. Essa coleção de 27 livros influenciou não apenas a religião, a política e a filosofia, mas também deixou sua marca permanente na literatura, na arte e na música. [2]
O Novo Testamento é constituído por uma coletânea de trabalhos escritos em momentos diferentes e por vários autores. Em praticamente todas as tradições cristãs da atualidade, o Novo Testamento é composto de 27 livros. Os textos originais foram escritos por seus respectivos autores a partir do ano 42 dC[3], em grego koiné[4], a língua franca da parte oriental do Império Romano, onde também foram compostos. A maioria dos livros que compõe o Novo Testamento parece ter sido escrito por volta da segunda metade do século I.[5]
Fazem parte dessa coleção de textos as 13 cartas do apóstolo Paulo (maior parte da obra, escritas provavelmente entre os anos 50 e 68 dC[6]), os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João (narrativas da vida, ensino e morte de Jesus Cristo, conhecidos como os Quatro Evangelhos), Atos dos Apóstolos (narrativa do ministério dos Apóstolos e da história da Igreja primitiva) além de algumas epístolas católicas menores escrito por vários autores e que tem com conteúdo instruções, resoluções de conflito e outras orientações para a igreja cristã primitiva. Por fim, o Apocalipse do apóstolo João.
Nem todos esses livros foram aceitos imediatamente pela Igreja. Alguma dessas cartas foram contestadas na antiguidade, como apocalipse de João e algumas Epístolas Católicas menores (II Pedro, Judas, Tiago, II e III João).[7] Entretanto, gradualmente eles se juntaram a coleção já existente que era aceita pelos Cristãos, formando o cânone do Novo Testamento. Outros livros, como o Pastor de Hermas, as epístolas de Policarpo, de Inácio e as cartas de Clemente, circularam na coleção antiga de livros que era aceita por algumas comunidades cristãs. Porém, esses livros foram excluídos do Novo Testamento pela Igreja primitiva.[8]
Curiosamente, apesar do Cânon do Antigo Testamento não ser aceito uniformemente dentro do cristianismo (católicos, protestantes , ortodoxos gregos, eslavos e armênios divergentes quanto aos livros incluídos no Antigo Testamento), os 27 que formam o Cânon do Novo Testamento foram aceitos quase que universalmente dentro do cristianismo, pelo menos desde o século III. As exceções são o Novo Testamento da Igreja Ortodoxa da Etiópia, por exemplo, que considera autêntico o Pastor de Hermas (séc. II) e a Peshitta, Bíblia da Igreja Ortodoxa Síria, utilizada por muitas Igrejas da Síria, que não inclui o Apocalipse de João na lista de livros inspirados.[9]
Livros do Novo Testamento
Os 27 livros do Novo Testamento foram escritos em diversos lugares e por autores diferentes que classificaram seus Escritos como inspirados, ao lado dos Escritos do Antigo Testamento. Entretanto,ao contrário do Antigo Testamento, o Novo foi produzido em um curto espaço de tempo, durante menos de um século.[10] Esses livros eram respeitados, colecionados e circulavam na igreja primitiva como Escrituras Sagradas. O fato desses livros terem sido lidos, citados, colecionados, e passados de mão em mão dentro das igreja do início do cristianismo, assegura que a Igreja Primitiva tinham eles como proféticos ou divinamente inspirados desde o começo. [11]
Evangelhos
A palavra Evangelho significa "Boas Novas". Eles referem-se ao nascimento do Messias prometido. Cada um dos quatro evangelhos do Novo Testamento narra a história da vida e da morte de Jesus de Nazaré. Esses evangelhos são composições anônimas que levam o nome dos seus autores no título.[12] Assim, no século II esses livros eram denominados na seguinte fórmula: "O Evangelho de..." ou "O Evangelho segundo..." (Em grego: τὸ εὐαγγέλιον κατὰ ...) + nome do evangelista que foi o autor do evangelho. Todos os quatro evangelhos foram reunidos logo após o Evangelho de João ter sido escrito. [13] A coleção de quatro livros era conhecida como "O Evangelho" no começo do segundo século. Assim, o cristianismo primitivo sempre aceitou esses evangelhos porque conheciam seus autores. [14] Os evangelhos de Mateus, Marcos e João parecem ter sido escritos como biografias, seguindo o modelo da antiguidade, enquanto Lucas e Atos parece ter sido composto como uma monografia histórica em dois volumes.[15] São eles:
Evangelho de Mateus - atribuído ao apóstolo Mateus. Este evangelho começa com a genealogia de Jesus e a história do seu nascimento. Termina com o comissionamento dos discípulos por Jesus depois de ressuscitado. O principal objetivo do evangelho de Mateus é mostrar para os judeus que Jesus era o Messias. Apesar dos vários debates sobre sua datação, ele provavelmente foi escrito depois da morte de Jesus (31dc) entre os anos 50-65dc.[16] Era considerado o manifesto da igreja de Jerusalém e, por conseguinte, o documento fundamental do início da fé cristã;[17]
Evangelho de Marcos - atribuído a Marcos, o Evangelista. Marcos não era um dos doze apóstolos de Jesus, mas foi um dos ajudantes de Paulo e depois de Pedro.[18] Segundo os pais da igreja, o evangelho de Marcos foi escrito com base no ensino do apóstolo Pedro, depois de uma palestra feita em Roma para os pagãos por volta do ano 65 dc.[19]<[20][21] Este evangelho começa com a pregação de João Batista e o batismo de Jesus. Alguns manuscritos antigos não trazem os versículos 9-20 do último capítulo;[22] outros manuscritos apresentam finais diferentes.[23]
Evangelho de Lucas - atribuído a Lucas, que também não foi um dos doze apóstolos, mas é mencionado no Novo Testamento como companheiro do apóstolo Paulo (II Timóteo 4:11) e médico (Colossenses 4:14).[24] O autor não foi testemunha ocular das coisas que registrou, mas fez uma minuciosa investigação com essas pessoas que presenciaram os fatos contidos nesse evangelho (Lucas 1:1-4). Ele é digido para alguém chamado Teófilo, que até hoje é desconhecido. Este evangelho começa com histórias paralelas do nascimento e da infância de João Batista e Jesus e termina com as aparições de Jesus ressuscitado e sua ascensão ao céu. Seus objetivos era contar a história de Cristo a partir dessas testemunhas oculares. Foi escrito provavelmente no ano 63dc;[25]
Evangelho de João - atribuído ao apóstolo João, filho de Zebedeu. Este evangelho começa com um prólogo filosófico e termina com as aparições de Jesus ressuscitado. Foi escrito no final do século I[26] e tinha como objetivo complementar de diversas maneiras o registro que tinha sido fornecido sobre a história de Jesus pelos outros três evangelistas.[27]
Os três primeiros evangelhos listados acima são classificados como os Evangelhos sinópticos. Isso porque eles contêm relatos semelhantes da vida e ensino de Jesus. Esses três evangelhos possuem várias dependências literárias. Há duas possíveis explicações para sua formação. Alguma corrente de estudiosos mais liberais afirmam que eles foram escritos com base em uma fonte “Q” (Queller em alemão), que é desconhecida até os dias de hoje; Ou então com base no Evangelho segundo os Hebreus (65-100), que sobreviveu apenas em fragmentos encontrados nas citações feitas por vários pais da igreja primitiva. A segunda explicação para a dependência literária dos evangelhos sinóticos afirma que o evangelho de Mateus foi escrito primeiro. Depois, Lucas utilizou o evangelho de Mateus e o evangelho segundo os Hebreus, além de outros evangelhos que circulavam na época e que não sobreviveram até os dias de hoje. Por fim, o evangelho de Marcos seria fruto de uma palestra que Pedro deu com base nos evangelhos de Mateus e de Lucas.
Já o Evangelho de João é estruturado de forma diferente dos evangelhos sinóticos e inclui histórias de vários milagres palavras de Jesus que não são encontradas nos outros três evangelhos. Esses quatro evangelhos foram unanimemente aceitos como parte do Cânon Sagrado do Novo Testamento. Porém, ele foram apenas alguns entre os muitos outros evangelhos cristãos. A existência de tais textos é mencionada no início do Evangelho de Lucas (Lc 1:1-4). Outros evangelhos, como os chamados "evangelhos judaico-cristão" ou o Evangelho de Tomé, oferecem uma precisa ajuda para entender o contexto do cristianismo primitivo. Além disso, esses outros evangelhos que não foram incluídos no Cânon sagrado podem fornecer alguma ajuda na reconstrução do Jesus histórico.
História
Atos dos Apóstolos - É a continuação do Evangelho de Lucas (At 1.1 e 2) e conta a história de como a mensagem cristão foi anunciada em Jerusalém, Samaria e as demais regiões do império Romano (At 1.8). Nesse livro, destacam-se duas pessoas: Paulo e Pedro. Pedro dirige o trabalho cristão em Jerusalém, Samaria (At 1.12 – 8.25), Lida, Jope e Cesaréia (At 9.32-11.18). Esse livro também trata da conversão do apóstolo Paulo (At 9) e de suas viagens missionárias pelo Império Romano (At 13-28). Examinando o estilo, a fraseologia e outras evidências internas, a maioria dos estudiosos atribui a Lucas a autoria desse evangelho. Ele foi escrito provavelmente antes da morte do apostolo Paulo por Nero, por volta de 67-68 dc. Isso porque esse livro não cita a morte de Paulo, fato que seria muito relevante para a história cristã antiga.
Epístolas Paulinas
As epístolas paulinas (ou Corpus Paulinum) são cartas escritas pelo apóstolo Paulo. Essas epístolas tratam de pontos teológicos importantes para o desenvolvimento da doutrina cristã no cristianismo primitivo. Geralmente, essas epístolas foram escritas tanto para indivíduos, quanto para as primeiras comunidades cristãs.
Romanos
I Coríntios
II Coríntios
Gálatas
Efésios
Filipenses
Colossenses
I Tessalonicenses
II Tessalonicenses
I Timóteo
II Timóteo
Tito
Filémon
Hebreus
Hebreus - Sua autoria é incerta. A ciência moderna rejeita ter sido escrita por Paulo. Até mesmo na antiguidade sua autoria foi debatida. Orígenes escreveu: "Os homens dos tempos antigos afirmaram que Paulo foi o autor, mas quem escreveu essa Epístola apenas Deus sabe". O que se sabe é que ela foi escrita na segunda geração de cristãos (Hb 2.1-4) e após um intervalo considerável de tempo depois da conversão do destinatário (Hb 5.12). Assim, o livro de Hebreus parece ter sido escrito no final do ano 60dC.
Epístolas Católicas
Compreende as epístolas escritas para a igreja em geral. O termo "católico" [grego: καθολική, katholike, que significa "universal"] é usado para descrever essas cartas já nos manuscritos mais antigos onde essas cartas estão presentes. As cartas também são conhecidas como Epístolas Gerais.
Epístola de Tiago - Escrito por Tiago, irmão de Jesus e de Judas Tomé;
Primeira Epístola de Pedro - Escrita por Pedro;
Segunda Epístola de Pedro - Escrita por Pedro;
Primeira Epístola de João - Escrita por João;
Segunda Epístola de João - Escrita por João;
Terceira Epístola de João - Escrita por João;
Epístola de Judas - Escrita por Judas Tomé, o irmão de Jesus e de Tiago.
Profecia
Apocalipse - Último livro do Novo Testamento, o Apocalipse de João foi escrito pelo Apóstolo João, filho de Zebedeu. Alguns sustentam a posição de que seu autor foi outro João, da cidade de Patmos. Mas a evidência interna aponta o autor do Evangelho de João e das três epístolas Joaninas como seu autor. O livro começa com cartas para sete igrejas das província da Ásia. Depois toma a forma de um apocalipse, gênero literário popular tanto no judaísmo quanto no cristianismo antigo.
Idioma
Judeus e gentios utilizavam os mesmos idiomas para se comunicarem em Jerusalém na época de Jesus: aramaico, grego koiné, e até certo ponto, um dialeto coloquial de Mishnaic hebraico. Todos os livros que formaram o Novo Testamento foram escritos em grego Koiné, o dialeto vernáculo que na época era falado nas províncias romanas do Mediterrâneo Oriental. Estes livros foram posteriormente traduzidas para outros idiomas, principalmente, o latim, o sírio e o copta. Entretanto, alguns alegam que o Evangelho de Mateus foi escrito em hebraico com base na seguinte declaração de Papias, citada no livro História Eclesiástica, de Eusébio:
Mateus compôs as declarações (ta logia) em um estilo hebraico (hebraidi dialekto), e cada um registrou como foi capaz. [28]
Alguns interpretam que essa declaração mostra que o evangelho de Mateus foi escrito em hebraico. Entretanto, uma leitura cuidadosa demonstra que Papias afirma que o evangelho foi escrito “em um estilo hebraico”, e não “na língua hebraica”. Estudiosos como J. Kurzinger e David Alan Brack apoiam essa interpretação. O Comentário Bíblico Moody também defende esse posicionamento ao afirmar que:
Muitos explicaram a declaração de Papias, dizendo que se referia a uma forma original do aramaico do qual se traduziu o nosso evangelho grego. Mas o nosso texto grego não tem as marcas de uma tradução, e a ausência de qualquer traço de um original aramaico lança pesadas duvidas sobre tal hipótese. Goodspeed argumenta detalhadamente que seria contrario à prática grega dar uma tradução grega o nome do autor do original aramaico, pois os gregos apenas se preocupavam com aquele que passava a obra para o grego. Como exemplos (ele cita o evangelho de Pedro) e o Velho Testamento grego, que foi denominado Septuaginta (os setenta)segundo seus tradutores, não segundo seus autores Hebreus. [29]
Por isso, os estudos modernos mostram que o Evangelho de Mateus foi composta em grego e não é diretamente dependente de nenhuma tradução em uma língua semítica, embora a citação de textos do Antigo Testamento demonstra que o autor desse Evangelho sabia hebraico. Outros ainda afirmam que a Epístola aos Hebreus foi escrita em Hebraico, sendo traduzida depois para o grego por Lucas. Essa possibilidade também não é sustentada pelos estudiosos modernos, que argumentam que a qualidade literária de Hebreus sugere que foi composta diretamente em Grego, ao invés de ter sido traduzidos.
Outra questão importante também é notar que muitos livros do Novo Testamento, especialmente os evangelhos de Marcos e João, foram escritos em um grego relativamente "pobre". Eles estão distantes do refinado grego clássico encontrado nas composições feitas pela classe alta, elite governamental, e filósofos conceituados da época.
Uma minoria de estudiosos considera que a versão aramaica do Novo Testamento seria a original e acredita que o grego é apenas uma tradução. Este ponto de vista é conhecido como Primazia Aramaica.
Etimologia do termo Novo Testamento
O uso do termo Novo Testamento para descrever a coleção de textos que fazem parte da Bíblia, originou-se do latim Novum Testamentum, que foi pela primeira vez cunhado por Tertuliano. Alguns acreditam que esse termo é uma tradução do grego Διαθήκη Καινή.
Na opnião de alguns especialistas, esse termo grego era usado com o significado de “último desejo ou testamento”, conforme a tradução latina indica. O significado do termo aponta para um arranjo feito por um grupo que pode ser aceito ou rejeitado por outro grupo, embora esse não o possa alterar; e ele, quando aceito, une esses dois grupos de acordo com os termos ali contidos.
Esta frase grega encontra-se no próprio texto do Novo Testamento, onde é traduzido como "nova aliança”. Aliança significa acordo ou contrato que envolve as duas partes que firmam algo. A frase também aparece mais cedo na Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento). Em Jeremias 31:31, a Septuaginta usou essa frase grega para traduzir o original hebraico ברית חדשה (b e chadashah RIT). O termo hebraico é também traduzido geralmente como nova aliança.
Como resultado, algumas pessoas afirmam que o termo foi usado pelos primeiros cristãos para se referir à nova aliança de Deus com o homem por intermédio de Jesus Cristo. Cerca de dois séculos mais tarde, na época de Tertuliano e Lactâncio , a frase era usada para designar uma coleção particular de livros que alguns acreditavam que incorporava esta nova aliança.
Tertuliano oferece o primeiro uso conhecido dos termos Novum Testamentum (Novo Testamento) e Vetus Testamentum (Antigo Testamento). Por exemplo, em Against Marcion, livro 3 e capítulo 14 (escrito no III século, em 208DC), ele escreveu que "Isso pode ser entendido como o Verbo Divino, que é duplamente ligado com os dois testamentos da Lei e do Evangelho". No livro 4 do capítulo 6, complementou: "Pois é certo que todo o objetivo a que ele (Marcião) tem trabalhado arduamente, mesmo na elaboração de suas Antíteses ... é para que ele possa estabelecer uma diversidade entre o Antigo e o Novo Testamento, de modo que o seu próprio Cristo possa ser separado do Criador, como pertencentes a este deus rival e como estrangeiro da Lei e dos Profetas".
Lactâncio (sec. III e IV) , autor cristão que escreveu em latim a obra Divino Instituto no início de século IV, relata no livro 4 e capítulo 20 o seguinte:
"Mas toda a Escritura é dividido em dois Testamentos: o que precedeu o advento e da paixão de Cristo, isto é, a Lei e os Profetas, é chamado de Velho Testamento. Mas as coisas que foram escritas após a Sua ressurreição são nomeadas Novo Testamento. Os judeus fazem uso do Velho Testamento e nós do Novo. Mas os dois não são discordantes porque o Novo é o cumprimento do Velho, e em ambos há o mesmo testador: Cristo, que, depois de ter sofrido a morte por nós, fez-nos herdeiros do Seu reino eterno (...). Como o profeta Jeremias testemunha quando fala coisas como: "Eis que dias vêm, diz o Senhor, que eu vou fazer um novo testamento para a casa de Israel e para a casa de Judá, não segundo a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão para tirá-los da terra do Egito, porque não continuou no meu testamento, e eu a desconsiderei, diz o Senhor " [Jeremias 31:31-32] (...). Por Ele ter dito iria fazer um novo testamento para a casa de Judá, o Antigo Testamento, que foi dada por Moisés, não era perfeito. Mas sim o que era para ser dada por Cristo estaria completo."
A tradução da Vulgata do século V utiliza o termo testamentum em II Coríntios 3,6 e 14,6.
Que também nos fez caber ministros do novo testamento, não na letra, mas no espírito. Pois a letra mata, mas o espírito vivifica. (Douay-Rheims)
Mas os seus sentidos foram obscurecidos. Pois, até o dia de hoje, o véu escuro da leitura do Antigo Testamento, não foi tirado (pois em Cristo é anulada). (Douay-Rheims)
No entanto, a mais moderna tradução em Português da Bíblia, a Nova Versão Internacional, traduz esses versos do grego koiné da seguinte forma:
Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica.
Na verdade a mente deles se fechou, pois até hoje o mesmo véu permanece quando é lida a antiga aliança. Não foi retirado, porque é somente em Cristo que ele é removido.
Assim, é comum usar qualquer um desses dois termos em Português para traduzir: ou testamento ou aliança, mesmo que eles não sejam sinônimos.
Autoria
Por ser uma coleção de livros, o Novo Testamento foi escritor por vários autores. A visão tradicional é que esses livros foram escritos ou por apóstolos, como Mateus, João, Pedro e Paulo; ou por discípulos que trabalharam sob a direção desses apóstolos, como Marcos e Lucas. Todos esses escritores dos livros do Novo Testamento eram judeus, com exceção de Lucas. Três deles, Mateus, João e Pedro, faziam parte do grupo dos apóstolos de Jesus. Outros autores do Novo Testamento, como Marcos, Judas e Tiago foram ativos na igreja primitiva. Os três também já tinham contato com o grupo de apóstolos mesmo antes da morte de Jesus. Lucas e Paulo, embora não tenham sido testemunhas oculares da vida de Cristo, eram bem conhecidos daqueles que o foram. Nada se sabe sobre o autor de Hebreus.
Epístolas Paulinas
Treze das epístolas foram escritas pelo apóstolo Paulo. Alguns estudiosos aceitam apenas sete como autênticas. Entre essas cartas estão incluídas Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, Filipenses, I Tessalonicenses e Filemon. Os outros livros do novo testamento, para os estudiosos liberais, foram escritos por pessoas que estavam próximas do apóstolo Paulo.
Entretanto, boa parte dos estudiosos concordam que as 13 epístolas que levam a autoria de Paulo, foram escritas ou ditadas por ele. F F Bruce afirma que "já se foi o tempo em que se ousava negar a autenticidade e a autoria desses documentos".[30] Algumas dessas epístolas paulinas mostram claramente que foram ditadas por Paulo e escritas por um escriba: o livro de Romanos foi escrito por Tércio (Romanos 16,22) e o livro de I Coríntios parece ter sido escrita por Sóstenes (I Corintíos 1,1).
Das treze epístolas que levam o nome de Paulo, três foram escritas no fim de sua prisão em Roma. [31] I e II Timóteo e a carta de Tito são conhecida como epístolas pastorais.[32] As outras dez são conhecidas como epístolas de viagem, porque foram escritas nas viagens missionárias do apóstolo Paulo.
Hebreus
A Epístola aos Hebreus constitui o maior problema de autoria do Novo Testamento. Na verdade, a questão sobre a autoria de Hebreus é antiga, remontando ao século III.
O escritor eclesiástico Caio não considerava Hebreus como sendo escrita por Paulo.[33] Orígenes afirmava que “se pois alguma igreja considera essa epístola proveniente de Paulo, que seja louvada por isso, pois tão pouco esses homens da antiguidade a transmitiram como tal sem causa; mas só Deus sabe quem realmente escreveu essa epístola”.[34] Eusébio declarou que Clemente de Alexandria afirmava que essa epístola foi escrita por Paulo e hebraico, e traduzida para o grego por Lucas.[35] Já Tertuliano atribuia a autoria a Barnabé[36]; e Apolo foi uma sugestão de Martinho Lutero.[37]
Entretanto, a única certeza que se tem é que o autor não era discípulo imediato de Cristo (Hebreus 2,3). Era judeu, uma vez que empregava a primeira pessoa do plural para se referir ao seu público judaico. Era amigo de Timóteo e pertencia ao círculo paulino (Hebreus 13,23). Além disso, era muito versado no Antigo Testamento, fazendo uso da versão grega da Septuaginta (LXX).
Evangelhos
Os evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), tem uma inter-relação única. Eles descrevem muitos dos mesmos acontecimentos e atribuem a Jesus palavras semelhantes ou iguais. A visão dominante entre os estudiosos para explicar essa inter-relação é a hipótese das duas fontes. Esta hipótese propõe que Mateus e Lucas estruturaram seus evangelhos de forma significativa sobre o Evangelho de São Marcos; e outra fonte que continha os ditos de Jesus, conhecida como "Q" (derivado de Quelle, palavra alemã para "fonte"). A natureza e até mesmo a existência de uma fonte escrita contendo esse material partilhado por Mateus e Lucas e designada como Q tem sido questionada por alguns estudiosos, alguns dos quais propuseram a hipótese de variantes a fim de nuançar ou mesmo acabar com a fonte Q.
Os estudiosos que reconhecem a existência de Q argumentam que este era um documento único de escrita, enquanto alguns sugerem que o "Q" foi realmente um número de documentos ou tradições orais. Se fosse uma fonte documental, não há informações sobre o seu autor ou autores, e é praticamente impossível obter essa informação a partir dos recursos atualmente disponíveis.
Data da composição
Embora não se tenha nenhum dos documentos originais, mas tão somente manuscritos dos séculos posteriores, de modo geral acredita-se que os livros do Novo Testamento teriam sido escritos no século I da era comum. As datas exatas de escrita dos livros propostas por pesquisadores possuem variações. Alguns consideram que o Novo Testamento praticamente completo (com exceção de Apocalipse) já estava escrito antes do ano 70, com alguns livros tendo sido escritos apenas alguns anos após os eventos que narram. De outro lado estão pesquisadores que consideram que todos os livros do Novo Testamento foram escritos bem depois dos acontecimentos relativos à morte de Jesus.
Apesar do Evangelho de Mateus figurar como o primeiro livro do Novo Testamento bíblico, é de maneira geral aceito entre pesquisadores que este não foi o primeiro a ser escrito, nem entre os evangelhos e quanto às demais obras. Isto porque o Evangelho mais antigo teria sido o de Marcos, cuja data de escrita costuma ser calculada entre os anos 55 e 65 da era comum e pode ter servido de fonte para Lucas e Mateus ampliarem as informações sobre a vida de Jesus na terra, embora contenha 31 versículos a mais relativos a outros milagres não relatados pelos demais evangelistas.
Todavia, supõe-se que os livros mais antigos teriam sido as epístolas de Tiago e de Paulo aos gálatas, cuja época teria sido, aproximadamente, em torno do ano 49 da era comum, antes do Concílio de Jerusalém.
Já os últimos livros a serem escritos têm a sua autoria atribuída ao apóstolo João e seriam o seu Evangelho, as três epístolas e o Apocalipse. Este, por volta do ano 95 da era comum, em Patmos, no período da perseguição do imperador Domiciano.
Importante observar que o período que pode ter sido o de maior produção dos escritos do Novo Testamento corresponderia à década de 60 do século I, talvez como uma iniciativa de preservar as informações sobre as origens do cristianismo na época das perseguições de Nero, quando a maioria dos apóstolos foram martirizados, entre os quais Pedro e Paulo.
Por outro lado, as epístolas de Paulo foram muito utilizadas pelo apóstolo para fins de comunicação com as comunidades cristãs e com os pregadores durante os tempos de suas viagens missionárias e na época de Nero. Algumas cartas, como a epístola aos gálatas teriam sido bem antes da primeira perseguição aos cristãos do Império Romano. Outras teriam sido após os últimos relatos que constam no livro de Atos.
Referências
↑ GEISLER, Norman e NIX, William. Introdução bíblica. São Paulo: Vida, 2006. pág. 5 e 6.
↑ LASSUS, Jean. A Arte Cristã. Ecclesia. Página visitada em 23 de Junho de 2010.
↑ ROBINSON, John. Redating the New Testament. Wipf & Stock Publishers, 2000.
↑ LINDEBERG. Carter. Uma breve história do cristianismo. São Paulo: Loyola, 2008. pág. 26
↑ KENT, Grenville e RODIONOFF, Philip. O Código Da Vinci e a Bíblia: seria o cristianismo a maior fraude da história?. Tatuí: CPB, 2006. pág. 52 e 53.
↑ BOCK, Darrell L. Quebrando o Código Da Vinci. Osasco: Novo Século, 2004. pág. 117.
↑ GUEDES, Ivan (09 de julho de 2008). Os Livros Questionados e/ou Antilegomena. Blog Reflexão Bíblica. Página visitada em 23 de Junho de 2010.
↑ GEISLER, Norman e NIX, William. A Extensão do Cânon do Novo Testamento in Introdução Bíblica. São Paulo: Vida, 2006. pág. 119-122.
↑ RIBEIRO, Júnior (22 de fevereiro de 2009). W.A. Os apócrifos do Novo Testamento. Portal Graecia Antiqua. Página visitada em 23 de Junho de 2010.
↑ GEISLER, Norman e TUREK, Frank. Possuímos testemunhos antigos sobre Jesus? in Não tenho Fé suficiente para ser ateu. São Paulo: Vida, 2006. pág. 241-250.
↑ BRUCE, F F. The New Testament Documents: Are They Reliable? Leicester: InterVarsity, 1981. pág. 27.
↑ BLACK. David A. Por que quatro evangelhos?: razões históricas e científicas da escolha de Mateus, Marcos, Lucas e João. São Paulo: Vida, 2004. pág. 73.
↑ BRUCE, F F. The New Testament Documents: Are They Reliable? Leicester: InterVarsity, 1981. pág. 18.
↑ KENT, Grenville e RONDIONOFF, Philip. O Código Da Vinci e a Bíblia. Tatuí: CPB, 2006. pág. 54 e 55.
↑ WITHERINGTON III, Ben. História e Histórias do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2005. pág. 78.
↑ TENNEY, Merril. O Evangelho de Mateus in O Novo Testamento: sua origem e análise. São Paulo, Shedd, 2008. pág. 162.
↑ BLACK. David A. Por que quatro evangelhos?: razões históricas e científicas da escolha de Mateus, Marcos, Lucas e João. São Paulo: Vida, 2004. pág. 22.
↑ WITHERINGTON III, Ben. História e Histórias do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2005. pág. 80.
↑ MULHOLLAND, Dewey. Marcos: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 2008. pág. 15-19.
↑ EUSÉBIO (312-317 dc). A ordem dos evangelhos in História Eclesiástica. Novo Século. Página visitada em 23 de Junho de 2010.
↑ BLACK. David A. Por que quatro evangelhos?: razões históricas e científicas da escolha de Mateus, Marcos, Lucas e João. São Paulo: Vida, 2004. pág. 28-34 e 41-47.
↑ MULHOLLAND, Dewey. Marcos: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 2008. pág. 237-240.
↑ PAROSCHI, Wilson. Crítica Textual do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008. pág. 185.
↑ WITHERINGTON III, Ben. História e Histórias do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2005. pág. 83.
↑ MORRIS, Leon. Lucas: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1996. pág. 13 e 14.
↑ WITHERINGTON III, Ben. História e Histórias do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2005. pág. 85-88.
↑ BLACK. David A. Por que quatro evangelhos?: razões históricas e científicas da escolha de Mateus, Marcos, Lucas e João. São Paulo: Vida, 2004. pág. 34.
↑ EUSÉBIO. História Eclesiástica 3.39.15-16. São Paulo: Paulinas, 2005.
↑ HARRISON, Everest; PFEIFFER, Charles. Comentário Bíblico Moody vol. 4: os Evangelhos e Atos. São Paulo: Batista Regular, 2001, pág. 1
↑ BRUCE, F F. Merece Confiança o Novo Testamento?. São Paulo, Vida Nova, 2010. pág. 19 e 20.
↑ BRUCE, F F. Merece Confiança o Novo Testamento?. São Paulo, Vida Nova, 2010. pág. 20;
↑ TENNEY, Merrill. O Novo Testamento sua origem e análise. São Paulo: Shedd Publicações, 2008. pág. 341;
↑ EUSÉBIO, História Eclesiástica. 6.20.3;
↑ Citado de Orígenes por Eusébio em História Eclesiástica 6.25;
↑ Eusébio em História Eclesiástica 6.14, citando Hypotyses, de Clemente;
↑ TERTUALIANO, De Pudicitia XX;
↑ TENNEY, Merrill. O Novo Testamento sua origem e análise. São Paulo: Shedd Publicações, 2008. pág. 368
[editar]Bibliografia
TENNEY, Merril C. O Novo Testamento - sua origem e análise. São Paulo: Shedd Publicações, 2008;
PAROSCHI, Wilson. Crítica Textual do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1993;
BRUCE, F.F. Merece Confiança o Novo Testamento? São Paulo: Vida Nova, 2010;
EUSÉBIO. História Eclesiástica. São Paulo: Paulus, 2000;
SHELLEY, Bruce L. História do Cristianismo ao alcance de todos: uma narrativa do desenvolvimento da Igreja Cristã através dos séculos. São Paulo: Shedd, 2004;
BLACK, David Alan. Por que quatro evangelhos?: razões históricas e científicas da escolha de Mateus, Marcos, Lucas e João. São Paulo: Vida, 2004;
NORMAN, Geisler e NIX, Wilson. Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Vida, 2006;
frei é luan comfime se é esse o texto made um cometario para o blog do jocris.
ResponderExcluirhttp://jocriscandeias.blogspot.com/
ou
http://cristaosdeatitude.blogspot.com/