CRÔNICAS DE MINHA ALMA: CAMINHOS DA
ORAÇÃO...
O caminhar é algo na vida que nos leva a
algum lugar. Por isso, todo caminhante procura traçar um itinerário para não perder
o rumo ao qual se destina. Ninguém caminha sem rumo, e mesmo que alguém o faça,
saiba este que o seu “caminhar sem rumo certo” o fará chegar a algum lugar,
mesmo que não queira. Assim, quando estamos no comando do itinerário e do rumo
traçados, tudo se encaminha para um destina-se feliz conforme os objetivos a serem
alcançados. Na vida espiritual, também é assim, especialmente quando tratamos
do dom da oração, pois ele é um dos meios mais eficazes de nosso encontro com
Deus e da nossa permanência Nele.
Com efeito, a oração é como que uma via de
perfeição que a alma percorre, sequiosa da Verdade, até chegar à perfeita união
com ela, para com ela saciar-se e nunca mais sentir sede alguma. Digamos que é uma
ida para se tomar possa da graça prometida, à qual precisamos alcançar para
atingirmos a santidade desejada. Assim pela oração, a alma desagua no mar de
Deus, e se deixa tomar totalmente por Ele. De fato, a oração é esse dom que nos
leva à plenitude da Vontade Divina e a tudo o que ela nos proporciona.
Exatamente como nos ensinou São Paulo: “Por
esta causa dobro os joelhos em presença do Pai, ao qual deve a sua existência toda
família no céu e na terra, para que vos conceda, segundo seu glorioso tesouro,
que sejais poderosamente robustecidos pelo seu Espírito em vista do crescimento
do vosso homem interior. Que Cristo habite pela fé em vossos corações, arraigados
e consolidados na caridade, a fim de que possais, com todos os cristãos,
compreender qual seja a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, isto
é, conhecer a caridade de Cristo, que desafia todo o conhecimento, e sejais
cheios de toda a plenitude de Deus”. (Ef 3,14-19).
E, então, quais são esses caminhos da
oração? O primeiro deles é a intimidade. Quem goza da intimidade divina, sabe
ouvir e sabe dialogar com Deus suavemente, amorosamente, e prontamente se
dispõe a servi-lo gozando de Sua constante companhia, fazendo acontecer até mesmo
o que nos parece ser impossível, como fazer o mar se abrir, o sol parar, a
montanha atirar-se ao mar ou os mortos ressuscitarem, etc.; como nos ensinaram
os patriarcas, os profetas e todos os santos que seguiram a Jesus fielmente.
Um segundo caminho é a oração a partir da
vida, sintonizando oração e prática das virtudes evangélicas, especialmente o
amor ao próximo, o desapego dos bens materiais e a prática da humildade. Santa
Teresa de Ávila, mestra em oração, dizia: “A oração é amizade com Deus, e esta não
é viável sem a amizade com os irmãos; não é possível sem a liberdade de
espírito, e sem disponibilidade à ação de Deus sobre quem ora”. Pois era assim
que ela rezava: “Quem vos ama de verdade, Bem meu, vai seguro por um amplo
caminho real, longe do despenhadeiro, estrada na qual, ao primeiro tropeço,
Vós, Senhor, dais a mão; não se perde, por alguma queda, nem mesmo por muitas,
quem tiver amor a Vós, e não às coisas do mundo”.
Um terceiro caminho da oração é não ceder
às dificuldades que certamente aparecem, principalmente as preocupações e distrações.
Pois, frequentemente somos tentados por todos os lados a não nos refugiarmos
aos pés do Senhor, mas o Senhor mesmo nos alerta, como alertou à Marta, irmã de
Maria: “Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, andas muito inquieta e te
preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria
escolheu a boa parte, que lhe não será tirada”. Portanto: “Vigiai e orai para
que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca”. (Lc
10, 41-42; Mt 26,41).
Um quarto caminho da oração é a
sintonização com a oração que o Senhor mesmo nos ensinou, o “Pai nosso”.
Meditando a oração do Senhor, vemos como ele interioriza cada palavra da oração
e a traz para o cotidiano, ou seja, Deus tudo sabe de nós, mas em seu amor quer
que expressemos a nossa vontade para ser acolhida por Sua Vontade Santa e assim
disponibilizar o que estamos expressando. Porém, muita atenção para a condição
final da oração do Senhor, pois sem perdão nenhuma oração é suficiente ou
proveitosa. “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai
celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso
Pai vos perdoará”. (Mt 6,14-15).
Por fim, para se chegar ao auge da oração,
à quietude da contemplação, o Senhor nos ensina o caminho do recolhimento,
dizendo: “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em
segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á. Nas vossas
orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão
ouvidos à força de palavras. Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é
necessário, antes que vós lho peçais”. (Mt 6,6-8). Pois, o auge da oração é a união
mística de nossa alma com o Senhor numa perfeita comunhão, e isso se dá
plenamente na Eucaristia; união essa realizada pelo Espírito Santo, que nos torna
sacrários vivos de Deus; sendo este um dos maiores mistérios da nossa redenção.
Destarte, “Àquele que, pela virtude que
opera em nós, pode fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou
entendemos, a ele seja dada glória na Igreja, e em Cristo Jesus, por todas as
gerações da eternidade. Amém”. (Ef 3,20-21).
Paz e Bem!
Frei Fernando,OFMConv.
***
“Em tempos de tristeza e de inquietação,
não abandones nem as boas obras de oração, nem a penitência a que estás
habituado. Antes, intensifica-as. E verás com que prontidão o Senhor te
sustentará”. (Santa Teresa de Ávila)
***
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