A LÓGICA DA GRAÇA...
Tudo o que é autêntico, é verdadeiro, é
honesto, é bom, é puro e nos foi dado somente para o bem. Assim é a vida e tudo
o que a mantém; perder essa autenticidade é perder tudo é perder a própria
vida. E quando perdemos tudo até a própria vida é porque perdemos Deus, pois
nenhuma criatura subsiste por muito tempo sem a graça de Deus.
No princípio Deus criou todas as coisas e
por fim criou o homem e a mulher como “imagem
e semelhança” sua, e isto num paraíso; deu-lhe o perfeito estado de graça que
consistia viver em comunhão com Ele, seu Criador e Pai; e para que não perdesse
esse estado de graça deu-lhe o dom do trabalho e o único preceito: “Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas
não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que
dele comeres, morrerás indubitavelmente.” (Gn 2,16). Desse modo, o homem tinha
todos os bens para fazer uso fruto deles; e deu-lhe o estado de graça
permanente, a visão beatífica do Senhor, e o poder de governar a terra, como um
paraíso, contanto que obedecesse e assim se multiplicasse, permanecendo fiel ao
Boníssimo Senhor e Deus de toda vida.
Mais aí veio a tragédia do pecado e o
inferno que ele trouxe para dentro do homem e para todas as suas ações. Assim o
homem começou a governar a terra a partir do pecado, e o seu estado de alma
ficou comprometido pela presença e o domínio do inimigo, pois toda vez que o
homem peca, fica submetido e oprimido pelo mal que praticou; como o Senhor
mesmo disse: “Em verdade, em verdade vos
digo: todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo”. (Jo 8,34).
Com efeito, como Deus não deixa inacabada a
obra de suas mãos, por isso, não deixou o homem a mercê do pecado nem do
inimigo que lhe transmitiu tal pecado, mas enviou seu Filho amado, Jesus
Cristo, para nos libertar do castigo da morte que o pecado trouxe, e do inferno
no qual o homem se precipitou quando se submeteu ao mal pela desobediência
praticada. É exatamente isso que nos ensinou São Paulo na carta aos Romanos: ”De agora em diante, pois, já não há nenhuma
condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo. A lei do Espírito de Vida me
libertou, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte. O que era impossível à
lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus o fez. Enviando, por causa do
pecado, o seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o
pecado na carne, a fim de que a justiça, prescrita pela lei, fosse realizada em
nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o espírito”. (Rm 8,14).
Todavia é preciso que nos deixemos conduzir
pelo Espírito Santo, do qual nascemos no Batismo, para que não voltemos à
prática do pecado que é porta de entrada do mal em nossa vida. Pois assim
escreveu, São Paulo, nessa mesma carta: “Portanto,
irmãos, não somos devedores da carne, para que vivamos segundo a carne. De
fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito
mortificardes as obras da carne, vivereis, pois todos os que são conduzidos
pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”. (Rm 8,12-14). Ou seja, o Batismo
nos conferiu o estado de graça perfeito, que antes tinha sido perdido no
paraíso por Adão e Eva; e nos conferiu a participação na natureza divina, e o dom
do Espírito Santo para nos conduzir à plena comunhão com a vontade de Deus,
isto é, à perfeita obediência vivida e ensinada por Jesus Cristo, nosso Senhor,
e Salvador de nossas almas.
Portanto, o homem foi criado em estado de
graça para viver em estado de graça permanentemente, isto é, para viver fazendo
sempre a vontade de Deus. Como ele perdeu esse estado de graça pela
desobediência, Deus mesmo veio ao seu encontro por meio do Seu Filho, Jesus
Cristo, “que foi obediente até a morte e
morte de cruz”, para que o homem voltasse a fazer, por meio dele, a sua santa
vontade e assim obtivesse a vida eterna em um novo paraíso, o Reino dos Céus.
Logo, não há autenticidade na vida se a vontade de Deus não é vivida. Pois,
quem faz a vontade de Deus, expressa em seus mandamentos, tem a Deus no comando
de sua vida e de suas ações, e tudo o que empreende prospera, porque tudo o que
é comandado pela sabedoria divina, é obra autêntica das mãos de Deus, que leva
o homem à realização completa e à felicidade plena aqui e eternamente no Reino
dos céus.
Paz e Bem!
Frei Fernando Maria,OFMConv.
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