A
VIRTUDE DA HUMILDADE
A palavra humildade vem do termo latino
húmus que é a terra processada e tornada fecunda, capaz de fazer germinar as
sementes nela depositadas tornando-as profundamente férteis e bastante
produtivas. De fato, fazendo uma analogia entre o húmus e a virtude da
humildade, vemos que o húmus dessa virtude consiste em transformar os resíduos
dos pecados alheios e pessoais em fecundidade da alma imersa na misericórdia de
Deus. Ou seja, transformar os dejetos deste mundo em graças especiais para a
nossa salvação eterna.
Ora, ninguém é autossuficiente o bastante
para dizer “não preciso”, pelo contrário, dependemos de tudo naturalmente e
também uns dos outros nas mais diversas necessidades pessoais. Por isso mesmo,
precisamos entender que, quem depende sempre, não manda em nada fora de sua
necessidade, mas precisa obedecer sempre, para que haja solidariedade entre
todos e assim cheguemos à saciedade desejada, para que haja comunhão, ou seja, para
que nos tornemos um, como é vontade de nosso Pai do céu (cf. Jo 17,11.21).
Temos ainda um belo exemplo do fruto da
humildade na Sagrada Escritura, por meio da partilha dos bens temporais: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma
só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles
era comum. Com grande coragem os apóstolos davam testemunho da ressurreição do
Senhor Jesus. Em todos eles era grande a graça. Nem havia entre eles nenhum
necessitado, porque todos os que possuíam terras e casas vendiam-nas, e traziam
o preço do que tinham vendido e depositavam-no aos pés dos apóstolos.
Repartia-se então a cada um deles conforme a sua necessidade”. (At
4,32-35).
Também São Paulo se refere a essa virtude a
partir da unidade com outras virtudes: “Se
me é possível, pois, alguma consolação em Cristo, algum caridoso estímulo,
alguma comunhão no Espírito, alguma ternura e compaixão, completai a minha
alegria, permanecendo unidos. Tende um mesmo amor, uma só alma e os mesmos
pensamentos. Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a
humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos. Cada qual
tenha em vista não os seus próprios interesses, e sim os dos outros”. (Fil
2,1-5).
Por fim, meditemos nessa frase de São
Paulo: “Cada qual tenha em vista não os seus próprios interesses, e sim os dos
outros”. Essa frase nos ensina a perfeição da humildade revestida da caridade,
que consiste em servir “ao próximo como a si mesmo”. De fato, só serve quem não
tem nada de próprio, quem rompeu com os apegos deste mundo, quem vê tudo como
dádiva de Deus para todos, e que pense consigo, a ninguém falte coisa alguma
enquanto aqui estivermos, mesmo que os homens tentem nos tirar tudo.
Aprendemos esta verdade de nosso Senhor e Salvador
que disse: “Porque o Filho do homem não
veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos”.
(Mc 10,45). De fato, somos servos, e o servo só faz o que o seu Senhor ordena
(cf. Mq 6,8), sem a ordem do Senhor, o que faremos? Agimos por conta própria e
quando essa ação não é conforme a vontade de Deus, tudo dá errado em nossa vida.
Porque o Senhor também nos ensinou: “De
mim mesmo não posso fazer coisa alguma. Julgo como ouço; e o meu julgamento é
justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”.
(Jo 5,30).
Ou seja, na vida de quem serve a Deus
humildemente, mesmo que aparentemente tudo dê errado aos olhos dos homens; no
entanto, aos olhos de Deus, “tudo
concorre para o bem daqueles que o amam”, pela santa obediência. E por esse
serviço humilde e despojado, eis a recompensa do Senhor: “Bem-aventurados os servos a quem o senhor achar vigiando, quando vier!
Em verdade vos digo: cingir-se-á, fá-los-á sentar à mesa e servi-los-á”.
(Lc 12,37).
Sentar à mesa do Senhor com o Senhor a nos
servir, isso se dará à medida do nosso serviço, “pois tudo o que fizestes ao menor dos meus irmãos, foi a mim que o
fizestes”; por isso, não queira nada fora da vontade do Senhor, pois Ele
nos dá conhecer sua vontade pelas virtudes que nos concedeu, dentre elas a
virtude da humildade vigilante, porque é assim que o servimos e o amamos de
todo coração.
Conta-se um fato acontecido na vida de
Santa Tereza D’avila. Ao meditar sobre virtude da humildade, ela fez ao Senhor
o seguinte propósito: “Senhor meu, hei de escolher sempre o último lugar, pois
tu mesmo disseste, ‘quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será
exaltado’”. Por isso, nas refeições diárias sempre procurava se alimentar por
último. Certo dia, depois de vê que todas as irmãs já estavam na fila, ela se pôs
no último lugar; quando, mais que de repente, sentiu uma leve brisa soprando por
entre sua cabeça e as costas, ao que indagou: mas não sou eu a última das
irmãs? Voltando-se viu Jesus que lhe respondeu: “Tereza, não sabes que o último
lugar é o meu?”. Assim, ela entendeu que, quem procura o último lugar, encontra
nele o Senhor.
Portanto, ser humilde é ser o que Deus quer,
é ser como Deus é, “manso e humilde de coração”, como ele mesmo nos ensinou: “Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha
doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as
vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve”. (Mt 11,29).
Paz e Bem!
Frei Fernando Maria,OFMConv.

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