SÓ A BÍBLIA? OU BÍBLIA, TRADIÇÃO E
MAGISTÉRIO?
Com a cisão no Cristianismo, por volta de
1519, nossos irmãos Protestantes resolveram rever a Doutrina ensinada pela
Igreja Católica e com isto, entenderam de forma diversa, vários pontos doutrinários,
dos quais, alguns, estudaremos a seguir.
CANONICIDADE DOS LIVROS DA BÍBLIA: A
palavra cânon significa lista, regra, norma.
Os livros inspirados da Bíblia chamam-se
canônicos, isto é, reguladores da nossa fé.
O cânon é a lista dos livros inspirados que
tem Deus como autor.
A Bíblia católica possui 46 livros no A.T.
e 27 no N.T., perfazendo um total de 73 livros.
Já a Bíblia protestante possui apenas 39
livros no A.T. e 27 no N.T., perfazendo um total de 66 livros.
As divergências dos livros que compõem o
Antigo Testamento, são causadas pelo fato de existirem dois cânons diferentes,
conhecidos como a Bíblia hebraica, dos judeus palestinenses e a Bíblia dos
setenta ou Bíblia grega, dos judeus da diáspora (dispersão dos judeus pelo
mundo).
A Bíblia hebraica dos judeus da Palestina,
tem menos sete livros que a Bíblia dos setenta e não contém alguns trechos dos
livros de Ester e Daniel e foi toda escrita em hebraico (livros originais).
A sua codificação começou quase 500 anos
antes de Cristo e terminou 100 anos depois de Cristo.
A Igreja Cristã recebeu a versão grega da
Bíblia codificada pelos judeus da diáspora.
Ora, esta Bíblia contém os Livros de
Judite, Tobias, Eclesiástico, Sabedoria, Baruc e 1º e 2º Livros de Macabeus,
além dos capítulos 3, 13 e 14 do Livro de Daniel e os capítulos 10 a 16 do
Livro de Ester que a Bíblia dos judeus da Palestina não possui.
Esta tradução da Bíblia, também conhecida
como Bíblia Alexandrina ou dos setenta, foi traduzida por 70 (setenta) sábios
de Alexandria, 300 anos antes de Cristo.
E por que da diferença na relação de livros
considerados como inspirados entre os judeus da Palestina e os judeus da
diáspora?
Porque os judeus da Palestina eram
ultra-nacionalistas e consideraram os seguintes critérios para decretar um
livro como canônico:
Ter sido escrito na língua hebraica;
Ter sido escrito na Terra Santa (Israel);
Ter sido escrito até o tempo de Esdras (458-428
a.C.);
Estar de acordo com a Lei de Moisés.
A Bíblia dos setenta foi a Bíblia usada por
Jesus e pelos Apóstolos.
Isto significa dizer que aceitavam os
livros que não constam na Bíblia hebraica, como Palavra de Deus revelada.
Estes sete livros que não constam na Bíblia
hebraica, são chamados livros deuterocanônicos, isto é, canônicos depois.
Os Judeus de Alexandria chegaram a traduzir
os livros sagrados hebraicos para o grego entre 250 e 100 A.C..
Jesus e os Apóstolos citam o A.T. 350
vezes.
Pois bem, destas 350 citações, 300 são
tiradas da Bíblia dos setenta.
Isto demonstra, sem dúvida, que os livros
deuterocanônicos contém a Palavra de Deus autêntica e revelada.
Verificamos também que nos escritos do N.T.
há citações implícitas dos livros deuterocanônicos.
Vejamos algumas:
Rm 1,19-32 = Sabedoria 13,1-9;
Rm 13,1 = Sabedoria 6,3;
Mt 27,43 = Sabedoria 2,13.18;
Tg 1,19 = Eclesiástico 5,11; (obs.:
Eclesiástico também é conhecido como Sirácida)
Mt 11,29s = Eclesiástico 51,23-30;
Hb 11,34s = 2 Livro dos Macabeus 6,18-7,42;
Ap 8,2 = Tobias 12,15.
A Bíblia dos Setenta sempre foi, desde o
início da Igreja, a Bíblia utilizada pelos cristãos de todo o mundo.
2) Fundamentação para a Fé e Doutrina:
Para os Protestantes: só a Bíblia (Livre
Exame);
Para os Católicos: Bíblia, Tradição e
Magistério.
Com a cisão no cristianismo, os cristãos
protestantes resolveram rever o entendimento da Igreja com relação aos seus
ensinamentos e, uma das decisões foi não mais aceitar a Tradição e o Magistério
da Igreja Católica, além de optar pela Bíblia hebraica.
Segundo o Protestantismo, o método para se
obter a verdadeira interpretação da Bíblia, é através do livre exame, isto é,
ao lermos e refletirmos sobre a Palavra de Deus, oramos ao Espírito Santo e lhe
suplicamos que nos revele a verdadeira interpretação da passagem bíblica lida.
Já a Igreja Católica ensina que, não
somente a Bíblia Sagrada é fonte de revelação e ensinamento de Deus para nós,
mas também a Tradição e o Magistério.
Vejamos o que a própria Bíblia nos diz a
respeito disto:
Livre Exame:
II Pd 1,20-21: "Antes de tudo, sabei
que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal. Porque jamais uma
profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo
Espírito Santo falaram da parte de Deus".
Tradição: Alegam nossos irmãos protestantes
não aceitar a Tradição, entre outros motivos, pelas palavras de Jesus em Mt
15,2-3, vejamos então este texto:
Mt 15,2-3: "Por que transgridem teus
discípulos a tradição dos antigos? Nem mesmo lavam as mãos antes de comer.
Jesus respondeu-lhes: E vós, por que violais os preceitos de Deus, por causa da
vossa tradição?".
É necessário esclarecer que, a tradição à
qual Jesus se refere na passagem narrada segundo Mateus, é a tradição
(ensinamentos) dos homens e que muitas vezes contradizem a Palavra de Deus.
A Tradição ensinada pela Igreja e
proclamada também, como fonte de revelação da Palavra de Deus, nada mais é que,
o ensinamento oral de Jesus e dos Apóstolos que não foi escrito em pergaminhos
(livros), mas que só foi ensinado oralmente.
Tradição e Bíblia não se contradizem mas
sim, se complementam e se confirmam uma a outra.
Vejamos o que a Bíblia diz a respeito:
II Tm 3,16-17: "Toda a Escritura é
inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para
formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para
toda boa obra".
Jo 20,30-31: "Fez Jesus, na presença
dos seus discípulos, ainda muitos outros milagres, que não estão escritos neste
livro. Mas estes foram escritos, para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho
de Deus e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome".
Jo 21,25: "Jesus fez ainda muitas
outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro
poderia conter os livros que se deveriam escrever".
At 20,35: "Em tudo vos tenho mostrado
que assim, trabalhando, convém acudir aos fracos, e lembrar-se das palavras do
Senhor Jesus, porquanto Ele mesmo disse: É maior felicidade dar que
receber!".
II Ts 2,15: "Assim pois, irmãos, ficai
firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras,
seja por carta nossa".
II Tm 2,1-2: "Tu, portanto, meu filho
procura progredir na graça de Jesus Cristo. O que de mim ouviste em presença de
muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis que, por sua vez, sejam capazes de
instruir a outros".
Magistério: Ao contrário do Livre Exame
pregado pelos nossos irmãos protestantes a Igreja Católica prega que a
interpretação da Bíblia é revelada pelo Espírito Santo à sua Igreja, esta
Igreja na pessoa dos Bispos e Papas forma o Magistério que nada mais é que os
esclarecimentos da Igreja, em nome de Deus, sobre a interpretação correta da
Palavra de Deus.
Há uma grande diferença entre o Magistério
da Igreja Católica e o Método do Livre Exame dos protestantes.
No Protestantismo existem várias
explicações diferentes para um mesmo ponto doutrinário, algumas até contrárias
umas as outras.
Já no Magistério da Igreja Católica, o
entendimento é um só e aceito e pregado pelo mundo inteiro, em todas as
paróquias, dioceses e em toda a Igreja Católica.
Pois se o Magistério da Igreja se pronuncia
a respeito de um ensinamento, dúvida de fé ou dogma é porque ela não tem dúvida
de que o que ela proclama é confirmado por Deus, na pessoa do Espírito Santo,
pois quando não sabe, se cala.
Esclareça-se que o Magistério não é fonte
de revelação da Palavra de Deus, mas apenas esclarece e corrige entendimentos
errôneos sobre a Palavra de Deus.
Vejamos o que a Bíblia nos fala a respeito
deste assunto:
Jo 14,26: "Mas o Paráclito, o Espírito
Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas, e vos
recordará tudo o que vos tenho dito".
Jo 16,12-13: "Muitas coisas ainda
tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Paráclito, o
Espírito da verdade, ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por si
mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciar-vos-á as coisas que virão."
Jo 20,22-23: "Depois destas palavras,
soprou sobre eles dizendo-lhes: ‘Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem
perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes,
ser-lhes-ão retidos’".
Lc 24,45: "Abriu-lhes então o Espírito
para que compreendessem as Escrituras".
At 2,1-4a: "Chegando o dia de
Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente veio do céu um
ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam
sentados. Apareceram-lhes, então uma espécie de línguas de fogo, que se
repartiam e repousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito
Santo ...".
At 15,28: "Com efeito, pareceu bem ao
Espírito Santo e a nós não vos impor outro peso além do seguinte
indispensável...".
At 16,4-5: "Nas cidades pelas quais
passavam, ensinavam que observassem as decisões que haviam sido tomadas pelos
Apóstolos e anciãos em Jerusalém. Assim as Igrejas eram confirmadas na fé, e
cresciam em número de dia para dia".
Ef 2,19-20: "Consequentemente, já não
sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da
família de Deus, edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e Profetas, tendo
por pedra angular o próprio Cristo Jesus".
II Pd 3,15-16: "Reconhecei que a longa
paciência de nosso Senhor vos é salutar, como também vosso caríssimo irmão
Paulo vos escreveu, segundo o Dom da Sabedoria que lhe foi dado. É o que ele
faz em todas as suas cartas, nas quais fala nestes assuntos. Nelas há algumas
passagens difíceis de entender cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco
fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as
demais Escrituras".
Mt 28,19-20: "Ide, pois ensinai a
todas as nações; batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os
dias, até o fim do mundo".
Pois bem, esta é a promessa de Deus para a
sua Igreja, estar conosco "todos os dias até o fim do mundo".
As Igrejas Protestantes surgiram só por
volta do ano de 1519.
Conforme alguns protestantes afirmam, a
verdadeira Igreja de Jesus não é a Igreja Católica e sim a Igreja Protestante.
Então Jesus só passou a cumprir a sua
promessa a partir de 1519?
E antes, no período compreendido entre a
sua morte/ressureição e 1519?
Reflita bem.
Será que Jesus só começou a cumprir a sua
promessa a partir de 1519 e até este ano não havia Igreja?
Respondemos que não.
A verdadeira Igreja de Jesus é aquela que
vem desde os Apóstolos, mas que foi dividida pelos homens.
Jesus não queria a divisão da sua Igreja,
apesar de saber, como Deus, que isto iria acontecer.
Vejamos o que o próprio Jesus nos fala
contra a divisão da sua Igreja:
Jo 17,21-23: "A fim de que todos sejam
um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o
mundo creia que tu me enviastes, eu lhes dei a glória que me deste para que
sejam um como nós somos um: Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na
unidade e para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a
mim".
Vejamos o que mais a Bíblia nos fala a
respeito:
Ef 4,1-6: "Exorto-vos, pois –
prisioneiro que sou pela causa do Senhor -, que leveis uma vida digna da
vocação à qual fostes chamados, com toda humildade e amabilidade, com grandeza
de alma, suportando-vos mutuamente com caridade. Sêde solícitos em conservar a
unidade do Espírito no vínculo da paz. Sêde um só corpo e um só espírito, assim
como fostes chamados pela vossa vocação a uma só esperança. Há um só Senhor,
uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que atua acima de
todos, por todos e em todos".
D Estevão Bettencourt, OSB
Fonte: http://aef.domestevao.nom.br/T4_Frameset.htm
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