AS PROFECIAS DA HUMANAE VITAE, DE PAULO VI
Por Everth Queiroz Oliveira
Gostaria de aproveitar este tempo de Carnaval para
escrever alguma coisa sobre as profecias feitas pelo Papa Paulo VI na encíclica
Humanae Vitae, de 1968.
Primeiro, o que uma coisa tem a ver com a outra?
Simplesmente tudo, caro leitor. No tempo do Carnaval parece que os hormônios da
galera vêm à tona com muito mais força. Sim, há muita gente juntando as
ferramentas de pesca e indo ao rancho para aproveitar o sossego da natureza;
tem muita gente indo a um bom retiro espiritual para rezar e desagravar o
Coração de Jesus; mas, ao mesmo tempo, há muitos – muitos mesmo! – aproveitando
a festa para cair na gandaia, “encher a cara” e virar a noite sem pensar em
nada, mais ou menos no estilo de “Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos!”
(Is 22, 13; 1 Cor 15, 32).
Danças imorais, roupas extravagantes, sexo sem
compromisso, bebedeira liberalizada… Todos estes retratos integram um álbum
sujo que contam a história da modernidade. Mas um senhor velho, sentado numa
cátedra bimilenar, já anunciava a vinda de todos os males que hoje contemplamos
com tristeza no olhar. Queremos falar, aqui, de um modo mais específico, dos
alertas de Paulo VI sobre os problemas que uma mentalidade contraceptiva traria
à sociedade – problemas que já estamos experimentando. Todas as previsões
acertadas deste Pontífice estão compendiadas no número 17 da encíclica Humanae
Vitae. Destacamos:
“Os homens retos poderão convencer-se ainda mais
da fundamentação da doutrina da Igreja neste campo, se quiserem refletir nas
consequências dos métodos da regulação artificial da natalidade. Considerem,
antes de mais, o caminho amplo e fácil que tais métodos abririam à infidelidade
conjugal e à degradação da moralidade. Não é preciso ter muita experiência para
conhecer a fraqueza humana e para compreender que os homens – os jovens
especialmente, tão vulneráveis neste ponto – precisam de estímulo para serem
féis à lei moral e não se lhes deve proporcionar qualquer meio fácil para eles
eludirem a sua observância. É ainda de recear que o homem, habituando-se ao uso
das práticas anticoncepcionais, acabe por perder o respeito pela mulher e, sem
se preocupar mais com o equilíbrio físico e psicológico dela, chegue a
considerá-la como simples instrumento de prazer egoísta e não mais como a sua
companheira, respeitada e amada.”
“Pense-se ainda seriamente na arma perigosa que se
viria a pôr nas mãos de autoridades públicas, pouco preocupadas com exigências
morais. Quem poderia reprovar a um governo o fato de ele aplicar à solução dos
problemas da coletividade aquilo que viesse a ser reconhecido como lícito aos
cônjuges para a solução de um problema familiar? Quem impediria os governantes
de favorecerem e até mesmo de imporem às suas populações, se o julgassem
necessário, o método de contracepção que eles reputassem mais eficaz? Deste
modo, os homens, querendo evitar dificuldades individuais, familiares, ou
sociais, que se verificam na observância da lei divina, acabariam por deixar à
mercê da intervenção das autoridades públicas o setor mais pessoal e mais
reservado da intimidade conjugal.”
O Papa Montini expõe quatro consequências
principais advindas da adoção generalizada dos métodos contraceptivos: (1)
queda generalizada dos padrões morais; (2) um aumento na infidelidade e
ilegitimidade; (3) a redução das mulheres a objetos utilizados para satisfação
dos homens; e (4) coerção governamental em matérias envolvendo reprodução.
Aparentemente, nenhum destes pontos é-nos
estranho. Examinemo-los:
- Queda
generalizada dos padrões morais. Mais do que padrões morais sendo
derrubados, a própria existência de verdades morais objetivas vem sendo
seriamente questionada nestes tempos de “ditadura do relativismo” em que
vivemos. Os princípios de bem e mal são lentamente abolidos; ao invés, adota-se
cada vez mais um princípio pragmático de pensamento: as ações do homem deveriam
ser pautadas não pelo que é certo ou errado, mas pelo que é útil e vantajoso
para o momento. As consequências passam até mesmo dos limites toleráveis, a
ponto de lermos na Internet verdadeiras “apologias” de práticas vergonhosas, como
a pedofilia. Contra estes, levanta-se o profeta Isaías: “Ai daqueles que ao mal
chamam bem, e ao bem, mal, que mudam as trevas em luz e a luz em trevas, que
tornam doce o que é amargo, e amargo o que é doce!” (Is 5, 20).
Amargam o que é doce, também, aqueles que
desnaturam o ato conjugal, doação íntima dos esposos, vivendo a sexualidade
como uma mera busca de prazer. Ainda na Humanae Vitae Paulo VI explica que esta
condenação da contracepção artificial “está fundada sobre a conexão inseparável
que Deus quis e que o homem não pode alterar por sua iniciativa, entre os dois
significados do ato conjugal: o significado unitivo e o significado procriador”
(n. 12). Em nosso tempo, porém, estes dois significados parecem ter se
divorciado. Mais: para muitos, nem mesmo o aspecto unitivo do ato conjugal é
levado em conta, sendo substituído por uma “pseudounião”, uma doação
momentânea, limitada à esfera da libido. Estes relacionamentos mais efêmeros –
que podem durar uma só noite até – são cultuados, também por nosso governo.
Basta assistir as propagandas confeccionadas para o tempo do Carnaval.
- Um
aumento na infidelidade e ilegitimidade. Bom, falar de infidelidade no
mundo contemporâneo é praticamente proibido, já que a noção de compromisso vem
praticamente caindo em ostracismo. Mas, nos casos em que este ainda existe,
está fragilizado por um generalizado desprezo pela virtude da castidade. Assim,
se ainda não ocorreu por parte de um dos cônjuges uma traição de fato,
certamente algum “já adulterou com ela [outra] em seu coração” (Mt 5, 28). Há
casais que ainda vivem o amor entre si e lutam para viver a fidelidade, mas
infelizmente o quadro geral é bem outro. A cultura pornográfica e hedonista de
nosso século estimula a poligamia e incentiva os homens a evitarem o casamento,
fazendo com que a própria instituição familiar entre em crise.
- A redução
das mulheres a objetos utilizados para satisfação dos homens. Basta ouvir
um pouquinho as músicas que fazem sucesso nas danceterias e nos bailes
ultimamente… O funk é, por excelência, a música de coisificação da mulher –
como também várias letras do axé. Em uma, ela é cachorra e “fica de quatro na
mesa”; noutra, canta que está a disposição do homem com um “quero te dar”;
nalgumas, não é tratada nem mesmo como mulher (só se ouve a referência ao seu
órgão sexual, nada mais).
Essas músicas não são ouvidas por todos, é
verdade. Mas são retratos de uma dura realidade: as mulheres não estão sendo
devidamente respeitadas. Muitas mesmo não se dão ao devido respeito, se
vestindo vulgarmente, se comportando indecentemente… No Carnaval esta sentença
encontra seu ápice. Os desfiles das escolas de samba estão repletos de mulheres
seminuas, dançando tanto para quem está na Sapucaí quanto para quem está em
casa.
- Coerção
governamental em matérias envolvendo reprodução. A China é o melhor exemplo
do que um Estado totalitário, aliado a um neomalthusianismo sem escrúpulos,
pode fazer. No país, prevalece, desde os anos 70, a Política do Filho Único. Os
casais que ousam ter mais de um filho são punidos com multas altíssimas (isto
quando o governo não obriga que a criança seja cruelmente privada de seu
direito de viver).
Em nosso país, já começou a iniciativa de
distribuir camisinhas nas escolas, iniciando as nossas crianças e adolescentes
precocemente no mundo do sexo – isto sem falar das cartilhas vergonhosas que
são distribuídas com o financiamento das autoridades públicas. Ora, então você
sugere que evitemos a educação sexual em sala de aula? Sugiro que o tema seja
abordado, mas de forma a se manter o pudor, pois sabemos muito bem que nem
todos os pais concordam com esta política contraceptiva agressiva de nosso
governo. O alerta do Papa Pio XII soa bastante conveniente neste momento de
nossa história:
“O pudor sugere ainda aos pais e educadores os
termos apropriados para formar, na castidade, a consciência dos jovens.
Evidentemente, como lembrávamos há pouco numa alocução, ‘este pudor não se deve
confundir com o silêncio perpétuo que vá até excluir, na formação moral, que se
fale com sobriedade e prudência dessas matérias’. Contudo, com freqüência
demasiada nos nossos dias, certos professores e educadores julgam-se obrigados
a iniciar as crianças inocentes nos segredos da geração duma maneira que lhes
ofende o pudor. Ora, nesse assunto tem de se observar a justa moderação que
exige o pudor.” (Sacra Virginitas, n. 57).
Justa moderação! É por nos furtamos de observar
esta justa moderação da qual fala o Venerável Pio XII que experimentamos hoje
os frutos amargos de uma educação permissiva e irresponsável. É por
desprezarmos os conselhos de Paulo VI que hoje observamos uma generalizada
“degradação da moralidade” e dos bons costumes… É, é forçoso para muitos
reconhecer, mas “é hora de admitir que a Igreja sempre esteve certa sobre a
contracepção”.
Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!
Fonte:
http://beinbetter.wordpress.com/2012/02/18/as-profecias-da-humanae-vitae-de-paulo-vi/
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