VEM SENHOR JESUS!

"Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não incorre na condenação, mas passou da morte para a vida". (Jo 5,24).

SEJAM BEM VINDOS À ESSA PORTA ESTREITA DA SALVAÇÃO

"Uma só coisa peço ao Senhor e a peço incessantemente: é habitar na casa do Senhor todos os dias de minha vida, para admirar aí a beleza do Senhor e contemplar o seu santuário". (Sl 26,4).

domingo, 30 de junho de 2024

SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO...


 Sol. De São Pedro e São Paulo (Jo 21,15-19)(30/6/24)

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1. Caríssimos, o amor é a chave que abre a porta do Paraíso, do Reino dos Céus. Uma alma que ama nada mais comporta fora do amor, porque somente o amor é o tudo que ela necessita e as outras também. São João na sua primeira carta, o definiu assim: "Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele." (1Jo 4,16b).
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2. No Evangelho de hoje Jesus interroga Pedro a respeito do amor que lhe devota, porém, cada pergunta vem acompanhada da missão que lhe confia e do alerta para se preparar para o que lhe acontecerá, por isso, já havia dito: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando." (Jo 15,13-14).
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3. Ao comentar esse diálogo entre Jesus e Pedro, o Santo Padre, o Papa Francisco, disse: "Pedro fez todo um caminho com o Senhor até chegar a esse diálogo final, e nele três frases são decisivas: “Amas-me, apascenta e prepara-te”.
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4. Jesus pergunta a Pedro: «Tu amas-me mais do que a estes? Ama-me como podes, mas ama-me». E é isso «o que o Senhor pede aos pastores e também a todos nós. “Ama-me!”». Pois, o primeiro passo no diálogo com o Senhor é o amor.
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5. E depois: “apascenta”. Tu és pastor, apascenta. Não uses o tempo noutras coisas. “Apascenta”. Tu és chamado a apascentar, a tua identidade é ser pastor. A identidade de um bispo, de um sacerdote, é ser pastor. “Apascenta com amor, não faças outra coisa, ama e apascenta”.
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7. Seguindo o diálogo poder-se-ia dizer: «E depois, Senhor, dar-me-ás o prémio? — Sim, mas, primeiro prepara-te, porque te levarão onde tu não queres ir. Prepara-te para as provações, prepara-te para deixar tudo. Prepara-te para a aniquilação da vida. E levar-te-ão pela vereda das humilhações, pelo caminho do martírio».
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8. Destarte, escutemos também este comentário do Papa São Leão Magno: "É preciosa aos olhos do Senhor a morte dos que lhe são fiéis" (Sl 115,15). Uma religião cujo fundamento é o mistério da cruz de Cristo não pode ser destruída por nenhum tipo de crueldade. A Igreja não é diminuída pela perseguição, mas fortalecida por ela: o campo do Senhor fica coberto por uma seara cada vez mais rica, porque as sementes, caindo uma a uma, renascem multiplicadas.
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9. Milhares de mártires bem-aventurados testemunham a multiplicação da posteridade dessas duas gloriosas sementes da sementeira divina, os apóstolos Pedro e Paulo. Émulos de um e outro no seu triunfo, eles encheram a nossa cidade de Roma de uma multidão de púrpura, cujo brilho resplandece ao longe, e coroam-na com um diadema engastado com o esplendor de inúmeras pedras preciosas.
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10. Como nós experimentamos e como os nossos predecessores atestaram, acreditamos e esperamos que as orações destes dois dignos protetores nos obtenham a misericórdia de Deus no meio das provações desta vida; assim, por mais esmagados que nos sintamos pelo peso dos nossos pecados, seremos elevados pelos méritos destes apóstolos."
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(São Leão Magno (?-c. 461), papa, doutor da Igreja - Sermão 82, 6-7).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

sexta-feira, 28 de junho de 2024

SENHOR, SE QUERES PODES CURAR-ME...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 8,1-4)(28/6/24)

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1. Caríssimos, nesta liturgia de hoje vemos a continuidade da missão salvadora do Senhor Jesus, e vemos também Ele cumprindo o motivo de sua vinda à este mundo, como havia dito: "Não são os homens de boa saúde que necessitam de médico, mas sim os enfermos. Não vim chamar à conversão os justos, mas sim os pecadores." (Lc 5,31-32).
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2. No Evangelho de hoje, depois de pronunciar o sermão da montanha, Jesus segue a sua missão no meio da multidão que não tinha voz nem vez na prática religiosa dos escribas e fariseus, pois, eram considerados pecadores públicos por falta de instrução ao estilo farisáico e por isso não gozavam da estima deles; na verdade eram despresados.
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3. No entanto, foi justamente neste campo da ação evangelisadora que Jesus preferiu exercer sua missão. Isto porque também Ele não foi aceito entre os notáveis da religião, por não se deixar dominar por eles que faziam da prática religiosa um meio de dominação e não da salvação das almas.
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4. Com efeito, este Evangelho relata a cura de um leproso que acreditou em Jesus e lhe suplicou: “Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar”. Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero, fica limpo”. (Lc 8,2-3). Ora, isso era impossível entre os escribas e fariseus, pois, os leprosos eram considerados a escória da sociedade, porque, segundo eles, a lepra era tão somente o resultado dos muitos pecados cometidos.
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5. Portanto, caríssimos, escutemos atentamente o Senhor Jesus, e supliquemos como o leproso, a purificação de nossas almas pelos Sacramentos da reconciliação e da Santa Eucaristia, para desse modo, vivermos em comunhão com o Senhor, e assim permanecermos em estado de graça. 
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6. Destarte, meditemos então com este comentário de São João Crisóstomo: "Jesus não disse simplesmente: "Eu quero, fica curado". Fez outra coisa: "Estendeu a mão e o tocou". Ora, podemos perguntar: uma vez que o curava por um ato da sua vontade e por uma palavra, por que razão o tocou com a mão? 
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7. Parece-me que não é senão para mostrar que Ele não é inferior, mas superior à Lei e que, doravante, nada é impuro para quem é puro. A mão de Jesus não ficou impura ao tocar no leproso; pelo contrário, o corpo do leproso é que foi purificado pela santidade daquela mão. 
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8. É que Cristo não veio só para curar os corpos, mas para elevar as nossas almas até à santidade; aqui, Ele ensina-nos a cuidar da nossa alma, a purifica-la, sem nos preocuparmos com as abluções exteriores. A única lepra que temos a recear é a da alma, isto é, o pecado.
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9. Quanto a nós, prestemos a Deus contínuas ações de graças. Agradeçamos-lhe não só os bens que Ele nos deu, mas também os que concedeu aos outros; deste modo, destruiremos a inveja, alimentando e fazendo crescer o nosso amor ao próximo."
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(São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja. Homilia sobre São Mateus). 
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

NEM TODO O QUE ME DIZ: SENHOR, SENHOR, ENTRARÁ NO REINO DOS CÉUS... :


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 7,21-29)(27/6/24)

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1. Caríssimos irmãos e irmãs, a fé católica que professamos é um antídoto contra tudo que se apresenta como sendo do Senhor, mas que na verdade, apenas usam o seu nome para obterem prestígio e poder, vantagens indevidas e a tão buscada fama que os introduz no mundo das celebridades. 
2. São João na sua segunda carta escreveu: "Muitos sedutores têm saído pelo mundo afora, os quais não proclamam Jesus Cristo como o Messias enviado em nossa carne. Quem assim nega o Senhor é o sedutor e o Anticristo. Todo aquele que caminha sem rumo e não permanece na doutrina de Cristo, não tem Deus. Quem permanece na doutrina, este possui o Pai e o Filho." (2Jo 1,7-9).
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3. Com efeito, discorrendo sobre isso, disse São Paulo: "Esses tais são falsos apóstolos, operários desonestos, que se disfarçam em apóstolos de Cristo, o que não é de espantar. Pois, se o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz, parece bem normal que seus ministros se disfarcem em ministros de justiça, cujo fim, no entanto, será segundo as suas obras." (2Cor 11,13-15)
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4. Portanto, caríssimos, não existimos por acaso, ao contrário, fomos criados por Deus para expressarmos o seu amor por palavras e ações. Ora, assim como toda a Criação não teria sentido sem a presença humana, de igual modo, nossa vida não teria sentido algum se tudo terminasse com a morte natural, de fato, seria o caos. 
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5. Destarte, a autenticidade das nossas boas ações em Cristo é o que nos faz felizes aqui e por toda a eternidade, porque sem Ele nada podemos fazer. (cf. Jo 15,5). Sem dúvida o anticristo já se faz presente neste mundo como nos ensinou são João: "Filhinhos, esta é a última hora. Vós ouvistes dizer que o Anticristo vem. 
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6. Eis que já há muitos anticristos, por isto conhecemos que é a última hora. Eles saíram dentre nós, mas não eram dos nossos. Se tivessem sido dos nossos, ficariam certamente conosco. Mas isto se dá para que se conheça que nem todos são dos nossos." (1Jo 2,18-19).
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7. No Evangelho de hoje assim diz o Senhor: "Nem todo aquele que me diz: 'Senhor, Senhor', entrará no Reino dos Céus, mas o que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus. Naquele dia, muitos vão me dizer: 'Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? 

8. Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos muitos milagres?' Então eu lhes direi publicamente: Jamais vos conheci. Afastai-vos de mim, vós que praticais o mal." (Mt 7,21-23). Ou seja, quando um enviado do Senhor usa o seu nome para realizar as suas obras segundo a vontade do Pai, esse é um autêntico seguidor, caso contrário, é falso. 
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9. Eis então o discernimento que comprava isso: "Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque vou para junto do Pai. E tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Qualquer coisa que me pedirdes em meu nome, vo-lo farei." (Jo 14,12-14).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

quarta-feira, 26 de junho de 2024

CUIDADO COM OS FALSOS PROFETAS MIDIÁTICOS OU NÃO...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 7,15-20)(26/6/24)

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1. Caríssimos, a liturgia de hoje trata do discernimento daquilo que não vem de Deus, e que nos faz muito mal. Por isso, muito atenção ao que nos ensina o Senhor Jesus no Evangelho de hoje: “Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes.” (Mt 7,15). 
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2. De fato, tudo o que é falso não se sustenta, cai sempre em contradição, porque nega Cristo e a sua Palavra, por isso, o Senhor nos alerta: "Vós os conhecereis pelos seus frutos. Por acaso se colhem uvas de espinheiros ou figos de urtigas? Assim, toda árvore boa produz frutos bons, e toda árvore má, produz frutos maus. Toda árvore que não dá bons frutos é cortada e jogada no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis." (Mt 7,16-17.19-20).
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3. Com efeito, todo falso profeta anuncia a si mesmo usando o nome de Cristo ou de um pretenso bem, e neste sentido o mundo das novas mídias está infestado por todo tipo de anunciadores de si mesmos em busca de fama, de seguidores, de likes; ainda que para isso se sirvam da aparência do bem, de almas caridosas; quando na verdade nada mais buscam além dos dividendos advindos de tais atos.
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4. Prestem muita atenção na nova "febre" do momento, ou melhor dizendo, do "deus" da autoajuda, coach, cuja aparência é de ovelha inofensiva, a pele também, mas a doutrina e os meios operantes não são cristãos; e muitos são os sacerdotes e outros evangelizadores que estão se deixando seduzir por essa via que os afasta de Cristo e do Evangelho, levando-os por um caminho sem volta caso não se arrependam enquanto têm tempo.
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5. Cuidado também com os que se intitulam bispos(as), pastores(as), apóstolos(las) eletrônicos ou não; teem a bíblia na mão e na prática anunciam prosperidade, riqueza, uma vida sem sofrimentos; no fundo anunciam à si mesmos e a "mamon", o deus do dinheiro, da ganância. 
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6. De certo, vejamos o que escreveu são Paulo sobre eles: "Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Acossados pela cobiça, alguns se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições." (Tm 6,9-10).
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7. Portanto, caríssimos, nos corações em que Cristo não reina, em que Ele não é o Senhor, porque o recusam para seguirem falsas doutrinas usando o seu nome ou não; não há salvação, nem um futuro feliz em sua glória, uma vez que o deixaram para seguirem as astúcias do inimigo de nossas almas. 
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8. Peçamos ao Senhor por aqueles que abandonaram o barco da Sua Santa Igreja para ensinarem doutrinas estranhas em busca de prestígio, fama, poder e dividendos. Pois, de uma coisa fique certos, todos prestarão contas ao Senhor no dia do juízo final.
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9. E, o único critério do julgamento será este: "Porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim." (Mt 25,35-36). Ou seja, o único critério são as obras de misericórdia.
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

terça-feira, 25 de junho de 2024

IDE, POIS, E ENSINAI À TODAS AS NAÇÕES...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 7,6.12-14)(25/6/24)

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1. Caríssimos, creio que o maior desejo de nossas almas é habitar com o Senhor no Seu Reino e participar da sua glória; para nós que habitamos neste vale de lágrimas não existe nada que se compare à vida eterna que o Senhor nos concede pela obediência à Sua Palavra e aos Seus Santos Mandamentos; pelo cultivo das virtudes eternas e pela prática dos Sacramentos que Ele instituiu como sinais sensíveis da sua presença no meio de nós.
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2..Com efeito, "Não há para nós, queridos irmãos, algo tão amável como esta voz do Senhor que nos convida: "Quem quer a vida e deseja conhecer dias felizes?" (Sl 33,13). Eis que, na sua bondade, o Senhor nos indica este caminho de felicidade: "Se queres ter a vida, a verdadeira vida eterna, protege a tua língua do mal, e que os teus lábios não digam palavras enganosas. Aparta-te do mal e faze o bem, procura a paz e vai ao seu encalço." (Sl 33,14-15).
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3. Decerto, como eleitos do Senhor pelo santo batismo, recebemos Dele todas as graças necessárias para a nossa salvação, e a maior delas é receber à Ele mesmo em nossas almas sob as espécies Sagradas do Pão e do Vinho, Seu Corpo e Sangue, Alma e Divindade como seus sacrários vivos e sinais da Sua Presença no mundo. 
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4. De fato, vivemos esse grande mistério pela fé recebida da Igreja e transmitida de geração em geração até o fim dos tempos como nos ensinou o Senhor: "Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo." (Mt 28,19-20). 
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5. Portanto, caríssimos, essa orientação que o Senhor Jesus nos dá a respeito da Evangelização, é fundamental para que a preciosidade do Evangelho não se perca como "pérolas lançadas aos porcos", porque nem todos estão abertos para receber o anúncio da Boa Nova da salvação; muitos nos rejeitarão e até nos perseguirão só pelo fato de sermos cristãos.
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6. Destarte, escutemos o Senhor: "Lembrai-vos da palavra que vos disse: O servo não é maior do que o seu Senhor. Se me perseguiram, também vos hão de perseguir. Se guardaram a minha palavra, hão de guardar também a vossa. Mas vos farão tudo isso por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou." (Jo 15,20-21).
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7. Façamos, pois, esta fervorosa oração de Guigues, o Cartuxo (1083-1136), Prior da Grande Cartuxa: "Refleti durante muito tempo no meu coração, e na minha meditação acendeu-se um fogo, o desejo de Te conhecer melhor; quando partes para mim o pão da Sagrada Escritura, revelas-Te nessa fração do pão (cf Lc 24,30-35). 
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8. Quanto mais Te conheço, mais quero conhecer-Te, não apenas na casca da letra, mas no sabor da experiência. Não o peço, Senhor, em razão dos meus méritos, mas por causa da tua misericórdia. Com efeito, reconheço que sou pecador e indigno, mas "até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos" (Mt 15,27). 
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9. Dá-me, pois, Senhor, o penhor da herança futura, ao menos uma gota de chuva celeste para saciar a minha sede, porque ardo de amor".
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(Guigues o Cartuxo (1083-1136), prior da Grande Cartuxa - Carta sobre a vida contemplativa, 3, 6-7). 
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

segunda-feira, 24 de junho de 2024

E TU MENINO SERÁS CHAMADO PROFETA DO ALTÍSSIMO...


 Solenidade do Nascimento de São João Batista (Lc 1,57-66.80)(24/6/24)

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1. Caríssimos, pelo fato de sermos limitados tendemos a querer limitar tudo até mesmo as ações de Deus em nossa vida. Ora, isso também aconteceu quando o anjo do Senhor anunciou o nascimento de João Batista, pois, Zacarias e sua esposa Isabel eram avançados em idade e naturalmente impossibilitados de terem filhos. 
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2. No entanto, para sanar as dúvidas de Zacarias, Deus lhe deu a mudez como sinal de que o nascimento desse filho era sua vontade, uma vez que ele seria o Precursor do Messias, o esperado de todas as nações; por isso, como disse o anjo, o menino se chamará João, ou seja, dom gratuito de Deus para o seu povo, porque o Senhor lhe era favorável.
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3. O santo Padre, o Papa Francisco, comentando esta Solenidade, disse: "Todo o acontecimento do nascimento de João Batista está circundado por um jubiloso sentido de admiração, de surpresa e de gratidão. As pessoas são tomadas por um "santo temor de Deus e por toda a região montanhosa da Judeia se comentavam esses fatos" (v. 65). 
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4. Irmãos e irmãs, o povo fiel intuiu que aconteceu algo grandioso, mesmo se humilde e escondido, e pergunta-se: "O que virá a ser este menino?" (v. 66). O povo fiel de Deus é capaz de viver a fé com alegria, com sentido de admiração, surpresa e gratidão. 
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5. Olhemos para aquela gente que falava bem acerca deste evento maravilhoso, deste milagre do nascimento de João, e fazia-o com alegria, estava feliz, com sentido de admiração, surpresa e gratidão." (Papa Francisco). 

6. Ou seja, quando nos sentimos visitados por Deus os nossos corações vibram de uma alegria inefável, sinal de que pertencemos a Ele, de que somos o seu povo e que Ele está no meio de nós. Sinal de que nunca nos abandona.
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7. Eis algumas lições que aprendemos do nascimento de São João Batista: "Na origem da sua história estão Isabel, uma mulher estéril e idosa, e Zacarias, um sacerdote que vai oficiar no templo de Jerusalém. Eles são justos e irrepreensíveis diante de Deus. É a eles que Deus recorre para realizar o seu plano de salvação.
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8. O nascimento de João é anunciado por um anjo a Zacarias." Ou seja, à pessoas frágeis. Bem como escreveu São Paulo: "O que é estulto no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraco no mundo, Deus o escolheu para confundir os fortes; e o que é vil e desprezível no mundo, Deus o escolheu, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as que são." (1Cor 1,27).
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9. Destarte, "João é a lâmpada que ilumina a vinda do Messias. Ele é a profecia e Jesus o seu cumprimento." De fato, Deus o enviou como o primeiro porta voz do Messias, como bem profetizou Zacarias, seu pai, após o milagre da libertação de sua mudez: "E tu menino serás chamado profeta do Altíssimo, pois irás andando à frente do Senhor para aplainar e preparar os seus caminhos.
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10. Anunciando ao seu povo a salvação que está na remissão de seus pecados; pela bondade e compaixão de nosso Deus, que sobre nós fará brilhar o Sol nascente, para iluminar os que jazem entre as trevas e na sombra da morte estão sentados e para dirigir os nossos passos, guiando-os no caminho da paz." (Lc 1,76-79).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

domingo, 23 de junho de 2024

SILÊNCIO! CALA-TE...


  Homilia do 12° Dom do Tempo Comum (Mc 4,35-41)(23/6/24)

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1. Caríssimos, o Evangelho de hoje relata o episódio em que os discípulos tiveram uma experiência particularmente especial ao se encontrarem em alto mar e serem envolvidos por uma imensa tempestade que os fez temer por suas vidas, mesmo tendo Jesus com eles no barco. 

2. Ora, esse episódio levou os discípulos a fazer a experiência do poder de Deus sobre todas as coisas por meio do Seu Filho amado, nosso Senhor Jesus Cristo. Com efeito, temos muito a aprender com este episódio, pois a fé posta em prática nada mais é do que o poder de Deus em ação.

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3. De fato, existem certos acontecimentos em nossa vida que mais parecem um mar tempestuoso, e como os discípulos, precisamos chamar o Senhor Jesus que se faz presente no barco de nossas almas, para nos tranquilizar em tais tempestades e ventos contrários a fim de que voltemos à calmaria e cheguemos com Ele ao Porto Seguro da nossa salvação.

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4. Com efeito, como outrora aos discípulos, o Senhor Jesus hoje nos chama: “Vamos para a outra margem!” Isto é, para o Reino dos céus, para a vida eterna. Por isso, de uma coisa fiquemos certos, Ele conhece muito bem o mar revolto que estamos atravessando; conhece a fragilidade do nosso barco e a nossa imatura experiência em navegação. 

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5. Todavia, por ter todo poder sobre o céu e a terra, apazigua a tempestade: “Silêncio! Cala-te!” Mas, ao mesmo tempo nos adverte: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” E admirados como os Apóstolos também dizemos: "Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?" (Mc 4,41b).

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6. Decerto, "Esta advertência de Jesus aos discípulos faz-nos compreender como muitas vezes o obstáculo à fé não é a incredulidade, mas o medo. Neste sentido, o trabalho de discernimento, depois de ter identificado os nossos medos, deve ajudar-nos a supera-los, abrindo-nos à vida e enfrentando serenamente os desafios que ela nos apresenta. 

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7. De modo particular para nós, cristãos, o medo nunca deve ter a última palavra, mas ser ocasião para realizar um ato de fé em Deus." (Papa Francisco). Pois, o dom da fé é o que nos faz permanecer na presença do Senhor em total segurança, como se nenhuma tempestade nos abalasse.

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8. Portanto, caríssimos, peçamos ao Espírito Santo que acenda a chama ardente da fé em nossas almas para por ela singrarmos com Cristo o mar tempestuoso deste mundo até a outra margem, isto é, até a vida eterna aonde nos espera a Santíssima Trindade, a Virgem Maria, são José e todos os santos e santas que já se encontram no Porto Seguro do Reino dos Céus. 

Paz e Bem!

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Frei Fernando Maria OFMConv.

sábado, 22 de junho de 2024

SENHOR, VIVEMOS DA TUA DIVINA PROVIDÊNCIA...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 6,24-34)(22/6/24). 

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1. Caríssimos irmãos e irmãs, o Senhor conhece muito bem todas as suas criaturas e nenhuma delas escapa ao seu cuidado, mesmo quando estas sofram as maiores injustiças, como meditamos na Carta de São Paulo aos Romanos: "Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada. 
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2. Realmente, está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia inteiro; somos tratados como gado destinado ao matadouro (Sl 43,23). Mas, em todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou." (Rm 8,18.36-37). 
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3. Por isso, amados irmãos e irmãs, precisamos corresponder à esse cuidado que o Senhor tem para conosco. Ora, essa correspondência se revela por um comportamento que seja digno das graças derramadas por Ele em nossas almas. 
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4. De fato, precisamos viver em sintonia com a sua vontade, ouvindo sempre a sua Palavra e fazendo aquilo que é do seu agrado, pois a fidelidade é o vínculo do Espírito que nos mantém na obediência e na unidade do seu Corpo que é a Igreja (cf. Col 1,18). 
5. Na primeira leitura de hoje, vimos como o rei e o povo foram infiéis ao Senhor profanando a aliança, o templo e a própria religiosidade, e mesmo mediante sua intervenção por meio do Profeta Zacarias, não o quiseram escutar, e assim o mataram por ordem do próprio rei. E o resultado dessa infidelidade ao Senhor, foi a permanência no pecado, a consequente escravidão e a morte que os atingiu conforme o peso de sua culpa.
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6. No Evangelho de hoje, o Senhor Jesus nos chama à confiança inabalável na providência divina, acompanhado da rejeição ao apego material e ao viver de aparências, pois não podemos nos deixar dominar pelas riquezas deste mundo e pelas futilidades que o assola, visto que são fonte de escravidão e de perdição eterna. 
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7. Eis então o que disse o Senhor: "Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado." (Mt 6,33-34).
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8. Por fim, meditemos com estas palavras de Santo Afonso Maria de Ligório: "O Senhor cuida de mim" (Sl 39,18), repetia David, e este pensamento reconfortava-o. Diz, tu também: "Nos teus braços, Senhor, me entrego, sem admitir outra preocupação que não seja amar-Te e agradar-Te: aqui me tens, pronto a fazer tudo o que quiseres. 
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9. Tu tens mais do que o simples desejo de me fazer o bem: fá-lo-ás realmente; por isso, a Ti entrego o cuidado da minha salvação, já que me mandas depositar toda a minha esperança em Ti: "Em paz me deito e logo adormeço, pois só Tu, Senhor, me fazes viver em segurança" (Sl 4,9)".
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10. "Sê digno da bondade do Senhor" (Sab 1,1): com estas palavras, o Sábio exorta-nos a confiar na misericórdia de Deus muito mais do que temer a sua justiça. De fato, Deus está muito mais inclinado a abençoar do que a castigar, segundo as palavras de São Tiago: "A misericórdia triunfa sobre o juízo" (Tg 2,13). 
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11. Daí a recomendação do apóstolo São Pedro: "Confiai-Lhe todas as vossas preocupações, porque Ele cuida de vós" (1Pd 5,7). Abandonemo-nos sem reservas à bondade de Deus, mas, sobretudo, confiemos no cuidado supremo que Ele tem pela nossa salvação."
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(Santo Afonso-Maria de Ligório (1696-1787), bispo, doutor da Igreja - Maneira de conversar com Deus).
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Paz e Bem! 
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Frei Fernando Maria OFMConv. 

PORQUE ONDE ESTÁ O TEU TESOURO, LÁ TAMBÉM ESTÁ O TEU CORAÇÃO...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 6,19-23)(21/6/24)

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1. Caríssimos irmãos e irmãs, devido ao mal que existe neste mundo, Deus tem um cuidado todo especial para com seus filhos e filhas, fazendo-os vencer todos os obstáculos que se apresentam contra eles, como vimos nos sofrimentos que Paulo padec eu por amor a Cristo e aos irmãos a quem ele instruia na fé (cf. 2Cor 11,24-28).
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2. Com efeito, amar a Deus sobre todas as coisas e aos nossos irmãos e irmãs como a nós mesmos significa dedicar-se totalmente a Deus e ao anúncio do seu reino como vimos acima no exemplo de São Paulo. 
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3. Aliás, precisamos entender que desde já somos herdeiros do Reino de Deus à medida que vivemos as virtudes eternas do amor, da bondade e da justiça, como um tesouro que acumulamos nos céus; porque, como disse o Senhor: "onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração." (Mt 6,21).
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4. De fato, quem se dedica ao Reino de Deus e à sua justiça, o faz porque o experimenta em sua alma e por isso mesmo nada mais busca neste mundo fora da vontade de Deus, pois, deste mundo nada levamos além das obras de misericórdia que o Senhor nos dá à praticar, como nos ensinou São Paulo: "Somos obra sua, criados em Jesus Cristo para as boas ações, que Deus de antemão preparou para que nós as praticássemos." (Ef. 2,10).
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5. No Evangelho de hoje o Senhor Jesus nos ensina que a verdadeira requeza não é deste mundo e nem material, e que ela já se encontra em nosso coração por meio das boas ações que praticamos. São Paulo na segunda carta aos Coríntios, escreveu: "Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém de Deus e não de nós." (2Cor 4,7).
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6. Comentando o Evangelho de hoje disse o Mons. Ângelo Spina: "Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração". Na nossa maneira de falar, quando usamos a palavra coração, aludimos sobretudo à esfera afetiva, às emoções, aos sentimentos. 
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7. Na linguagem bíblica, ao contrário, o coração tem um significado muito amplo, porque designa a pessoa inteira: é a sede do pensamento, da memória, das escolhas e dos projetos; é o centro onde são tomadas as nossas decisões finais. 
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8. Para compreender o que é o bem desejado, basta ver o que ocupa os nossos pensamentos, o que nos interessa na vida, quais escolhas consideramos importantes. Jesus propõe dois tesouros: o efêmero, transitório, determinado pelas riquezas deste mundo; e o duradouro, que não falha e que ninguém nos pode tirar. 
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9. Mas se é verdade que onde está o tesouro está o coração, também é verdade que é sempre o coração que determina o tesouro que se pretende possuir como único bem. É importante que o discernimento seja claro e responsável: ver com clareza e com olhos sãos é o primeiro passo para dar a cada aspecto da vida o seu devido valor. 
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10. Se isso não acontece, Jesus prefigura uma situação dramática: se o olho é mau, não é claro, não ilumina, tudo se confunde, com o risco de não se ver os bens eternos, fixando-se apenas nos terrenos. O dinheiro pode ser roubado, as riquezas podem perder-se, pode acontecer um acidente de automóvel. Os objetos podem partir-se, as pessoas podem morrer. 
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11. Tudo o que é material vai desaparecer. Só o tesouro da alma, o tesouro celeste, é que ninguém nos pode tirar. É bom aprender a guardar tudo na alma e não ter necessidade de possuir. Enriquece a tua alma e não precisarás mais de riquezas. Tudo o que podes perder, perderás. E tudo o que não podes perder (Deus, a tua alma) será vida plena, agora e no futuro."
(Mons. Ângelo Spina, Arcivescovo di Ancona - Osimo e Vice Presidente della Conferenza Episcopale Marchigiana).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

VENHA A NÓS O VOSSO REINO...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 6,7-15)(20/6/24)

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1. Caríssimos, no Evangelho de hoje Jesus nos ensina a rezar a oração do "Pai nosso" que Tertuliano (filósofo e apologeta cristão Sec. II) a definia como a "síntese do Evangelho", pois, nela está contido o amor incondicional que perdoa sempre, e que supera todas as nossas necessidades espirituais e temporais, tornando-se assim uma fonte permanente de paz e de comunhão com Deus e entre nós.

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2. Com efeito, logo de início o Senhor nos ensina como devemos orar, diz Ele: “Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. Não sejais como eles, pois vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais." (Mt 6,7-8).

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3. E continua: "Vós deveis rezar assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal." (Mt 6,7-13).

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4. Ora, meditando essa oração vemos que nela há um profundo grau de intimidade com Deus, pois, Jesus no-lo apresenta como Pai que nos ama; nos dá atenção, acolhe o nosso elogio, supre as nossas necessidades, pois as conhece, nos livra do mal e nos corrige para sermos misericordiosos como Ele é misericordioso.

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5. De fato, para vivermos bem essa oração, precisamos assumir que somos filhos de Deus e que todos somos irmãos, por isso, entre nós, jamais deve haver divergência, mas somente convergência; e diante de qualquer querela, usemos do perdão para voltarmos à concórdia e a paz.

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6. No seu comentário à essa oração, assim se expressou são João Cassiano: "No segundo pedido [da oração do pai-nosso], a alma puríssima exprime o desejo de ver chegar muito em breve o reino de seu Pai. Ao dizer isto, pode visar, em primeiro lugar, o reino inaugurado em cada dia por Cristo na alma dos santos. 

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7. É isso que acontece uma vez que o diabo foi expulso do nosso coração mais os seus vícios, com os quais o infetava, e desfeito o seu império: Deus entra soberano em nós, espalhando o bom odor das virtudes, de modo que vencida a fornicação, é a castidade que reina na nossa alma; ultrapassada a raiva, reina a tranquilidade; calcada aos pés a soberba, reina a humildade.

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8. Pode também ter em vista aquilo que foi prometido para um tempo antecipadamente estabelecido a todos os perfeitos de uma maneira geral, a todos os filhos de Deus. Então, Cristo dir-lhes-á: «Vinde, benditos do meu Pai; herdai o reino preparado para vós desde a fundação do mundo» (Mt 25,34). 

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9. A alma mantém o seu olhar ardentemente fixo nesta feliz palavra, cheia de desejo e de esperança, e exclama: "Venha a nós o vosso reino". Sabe bem, porque disso lhe dá testemunho a sua consciência, que, quando o reino chegar, entrará de imediato na sua partilha."

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(São João Cassiano (c. 360-435), fundador de mosteiro em Marselha - Sobre a oração, XIX; SC 54).

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Paz e Bem!

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Frei Fernando Maria OFMConv. 

sexta-feira, 21 de junho de 2024

VENHA A NÓS O VOSSO REINO...

PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 6,7-15)(20/6/24)
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1. Caríssimos, no Evangelho de hoje Jesus nos ensina a rezar a oração do "Pai nosso" que Tertuliano (filósofo e apologeta cristão Sec. II) a definia como a "síntese do Evangelho", pois, nela está contido o amor incondicional que perdoa sempre, e que supera todas as nossas necessidades espirituais e temporais, tornando-se assim uma fonte permanente de paz e de comunhão com Deus e entre nós.
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2. Com efeito, logo de início o Senhor nos ensina como devemos orar, diz Ele: “Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. Não sejais como eles, pois vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais." (Mt 6,7-8).
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3. E continua: "Vós deveis rezar assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal." (Mt 6,7-13).
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4. Ora, meditando essa oração vemos que nela há um profundo grau de intimidade com Deus, pois, Jesus no-lo apresenta como Pai que nos ama; nos dá atenção, acolhe o nosso elogio, supre as nossas necessidades, pois as conhece, nos livra do mal e nos corrige para sermos misericordiosos como Ele é misericordioso.
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5. De fato, para vivermos bem essa oração, precisamos assumir que somos filhos de Deus e que todos somos irmãos, por isso, entre nós, jamais deve haver divergência, mas somente convergência; e diante de qualquer querela, usemos do perdão para voltarmos à concórdia e a paz.
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6. No seu comentário à essa oração, assim se expressou são João Cassiano: "No segundo pedido [da oração do pai-nosso], a alma puríssima exprime o desejo de ver chegar muito em breve o reino de seu Pai. Ao dizer isto, pode visar, em primeiro lugar, o reino inaugurado em cada dia por Cristo na alma dos santos. 
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7. É isso que acontece uma vez que o diabo foi expulso do nosso coração mais os seus vícios, com os quais o infetava, e desfeito o seu império: Deus entra soberano em nós, espalhando o bom odor das virtudes, de modo que vencida a fornicação, é a castidade que reina na nossa alma; ultrapassada a raiva, reina a tranquilidade; calcada aos pés a soberba, reina a humildade.
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8. Pode também ter em vista aquilo que foi prometido para um tempo antecipadamente estabelecido a todos os perfeitos de uma maneira geral, a todos os filhos de Deus. Então, Cristo dir-lhes-á: «Vinde, benditos do meu Pai; herdai o reino preparado para vós desde a fundação do mundo» (Mt 25,34). 
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9. A alma mantém o seu olhar ardentemente fixo nesta feliz palavra, cheia de desejo e de esperança, e exclama: "Venha a nós o vosso reino". Sabe bem, porque disso lhe dá testemunho a sua consciência, que, quando o reino chegar, entrará de imediato na sua partilha."
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(São João Cassiano (c. 360-435), fundador de mosteiro em Marselha - Sobre a oração, XIX; SC 54).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv. 
 

quarta-feira, 19 de junho de 2024

FAZEI TUDO PARA A MAIOR GLÓRIA DE DEUS...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 6,1-6.16-18)(19/6/24)

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1. Caríssimos irmãos e irmãs, a generosidade é a virtude que nos faz experimentar o quanto Deus nos ama e age em nosso favor; pois, é Ele quem nos sustenta e nos governa por Sua Divina Providência. Ora, Deus sempre cuida de nós, mas precisamos dar atenção a esse seu cuidado para não caírmos no pecado da indiferença que conduz à insatisfação e ao egoísmo.
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2. De fato, basta olharmos o sol que irradia a sua luz sobre toda a Criação; o ar que respiramos livremente como fonte de vida natural; o mar que alimenta todos os seres que dele dependem. E tudo isso é expressão do amor e da generosidade do nosso Pai celestial.
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3. Mas, por que este mundo que recebe tanto de Deus, e ainda vive na miséria? Por causa da indiferença e do egoísmo que assola as almas apegadas às coisas deste mundo; elas, deixando de cultivar os valores eternos, dentre os quais a generosidade, se perdem no labirinto dos apegos egoístas em que não existe nada mais além da famigerada corrupção que dissipa milhões de vidas.
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4. Com efeito, o exemplo de nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho amado de Deus, é de uma generosidade infinita em todos os sentidos da vida; é bem como nos ensina São Paulo: "Dedicai-vos mutuamente a estima que se deve em Cristo Jesus. 
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5. Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo, assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz." (Fl 2,5-8).
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6. No Evangelho de hoje Jesus nos ensina a não vivermos de aparências, mas sim, revestidos de humildade na certeza de que as obras que realizamos por graça de Deus são para a salvação de todos e à Sua maior glória; e que a prática da oração e do jejum, são encontros com o Pai, e estes se dão no coração de nossas almas, onde Ele nos escuta e nos responde quando silenciamos para escuta-lo.
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7. Comentando esse Evangelho disse o Papa Bento XVI: "Na sociedade moderna das imagens, devemos estar vigilantes, pois existe uma tentação recorrente, aquela de fazer tudo para aparecer. A esmola evangélica não é mera filantropia: é antes uma expressão concreta da caridade, virtude teologal que exige uma conversão interior ao amor de Deus e dos irmãos, à imitação de Jesus Cristo, que morreu na cruz e se entregou totalmente por nós. 
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8. Por isso, tudo deve ser feito para a glória de Deus e não para a nossa. Que esta consciência acompanhe cada gesto de ajuda ao próximo evitando que ele se torne um meio de nos destacarmos. Se, ao praticarmos uma boa ação, não tivermos como objetivo a glória de Deus e o verdadeiro bem dos nossos irmãos, mas visarmos antes um retorno de interesse próprio ou simplesmente o aplauso, colocamo-nos fora da perspetiva do Evangelho. 
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9. Decerto, como não agradecer a Deus por tantas pessoas que, no silêncio, longe dos holofotes da sociedade midiática, praticam atos generosos de apoio ao próximo necessitado com esse espírito de desapego? 

10. De pouco serve dar os bens aos outros se o coração se enche de vanglória: é por isso que não se procura o reconhecimento humano para as obras de misericórdia praticadas por aqueles que sabem que Deus "vê em segredo" e em segredo recompensará. 
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11. Sempre que, por amor a Deus, partilhamos os nossos bens com o próximo necessitado, experimentamos que a plenitude da vida vem do amor e que tudo nos é devolvido como uma bênção em forma de paz, de satisfação interior e de alegria. O nosso Pai celeste recompensa a nossa esmola com a sua alegria."
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(Bento XVI - Messagem para a Quaresima de 2008).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

terça-feira, 18 de junho de 2024

A VITÓRIA DO AMOR SOBRE O ÓDIO...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 5,43-48)(18/6/24)

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1. Amados irmãos e amadas irmãs, Deus, nosso Pai celestial, se nos dá a conhecer por sua Palavra escrita, e pelo Seu Santo Espírito aos seus filhos escolhidos, nossos pastores, tendo à sua frente o Santo Padre e os bispos que formam o colégio episcopal. 
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2. Ele também nos fala pessoalmente em nossas orações, e por meio do Seu Filho Jesus Cristo presente realmente na Eucaristia, como Ele mesmo disse: "Este é o meu Filho amado, escutai o que ele diz." (Mc 9,7b).
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3. Com efeito, escutar o Senhor Jesus na liturgia de hoje é entrar em confronto direto com as forças do inimigo de nossas almas, que age por meio dos que trazem no coração o ódio e a violência e os expressam por meio de perseguições, tentando, com isso, destruir a nossa comunhão com o Senhor e entre nós. 
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4. Ora, o amor aos inimigos, aos perseguidores e aos que nos maltratam, como o Senhor Jesus nos ensina, significa, ao mesmo tempo, a nossa permanência em Deus que é amor e também nossa vitória sobre o mal que nos ataca por meio daqueles que o seguem. 
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5. De fato, os homens podem causar muitos danos uns aos outros, mas, isso somente quando permitem o pecado em suas atitudes e ações, isto porque, "O pecado desperta no coração dos homens um ressentimento surdo contra Deus, a ponto de que, se dependesse deles, desejaria que Deus não existisse." 
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6. Por isso, não leve consigo nenhum pecado em sua alma, nem seu nem dos outros, porque isso equivale a perder a paz interior e a comunhão com Deus e entre nós, pois a obra do inimigo consiste em dividir os filhos e filhas de Deus.
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7. Portanto, caríssimos, nós cristãos não nos baseamos em opiniões superficiais ou em falsos conselhos, mas sim nas Palavras eternas de nosso Senhor Jesus Cristo, pois em tudo o que Ele nos diz já está o poder para se cumprir o que nos foi dito. Desse modo, é a nossa obediência à Sua Divina Palavra que nos faz ser "santos como o nosso Pai celeste é Santo." (Mt 5,48).
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8. Meditemos com atenção estas palavras de São Leão Magno: "Quem deseja saber se em si habita Deus, perscrute por um exame sincero o fundo do seu coração e busque atentamente com que humildade é capaz de resistir ao orgulho, com que benevolência consegue combater a inveja, até que ponto não se deixa levar por palavras lisonjeiras e se se alegra com o bem dos outros. 
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9. Veja se não deseja pagar o mal com o mal e se prefere deixar sem retribuição as injúrias, em vez de perder a imagem e semelhança do seu Criador, que chama todos os homens a conhecê-lo pelos benefícios que prodigaliza a todos, fazendo «nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos». (Mt 5,45).
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10. Se achar esse coração inteiramente inclinado para o amor de Deus e do próximo, a ponto de querer que os seus inimigos também recebam os bens que deseja para si mesmo, se assim for, aquele que se encontra nestas disposições não pode duvidar de que Deus o conduz e nele permanece."
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(São Leão Magno (?-c. 461), papa, doutor da Igreja - Sermão para a Epifania).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

sábado, 15 de junho de 2024

SEJA O VOSSO SIM, SIM; E O VOSSO NÃO, NÃO...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 5,33-37)(15/6/24)

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1. Caríssimos irmãos e caríssimas irmãs, a liturgia deste dia nos ilumine com a meditação de parte do Sermão da Montanha, célebre ensinamento do Senhor Jesus, por meio do qual ele eleva à plenitude a Lei divina do amor de Deus, dada ao povo eleito por meio de Moisés no monte Sinai. 
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2. E hoje meditamos sobre a transparência com que devemos dar o nosso testemunho de fé, por meio da prática da vida, pois esta é uma prática diária que resulta no estado de alma que temos de acordo com o bem ou o mal que fazemos, dependendo das nossas escolhas e decisões. 
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3. De uma coisa fiquemos certos a vida é uma missão e quando a cumprimos fielmente conforme a graça que nos é dada, tudo concorre para o bem de nossas almas e para a nossa felicidade eterna, como vimos na primeira leitura, em que o Profeta Elias, a pedido de Deus, chamou como servo Eliseu, para dar continuidade à missão profética que o Senhor lhe confiara.
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4. Ora, um dos fundamentos da missão é a renúncia de si mesmo, isto é, da própria vontade, pondo-se à disposição do Senhor, para realizar os seus desígnios de amor. Escutemos, então, com humildade e atenção estas palavras do Senhor Jesus: "De mim mesmo não posso fazer coisa alguma. Julgo como ouço; e o meu julgamento é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou." (Jo 5,30).
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5. De fato, muitos não são felizes porque não abrem mão da própria vontade, querem que Deus se adapte ao seu modo de viver, carregado de caprichos e apegos que não passam de entraves impostos contra a livre ação do Espírito Santo; por isso, quando as coisas não acontecem como planejaram se afastam da fé e passam a viver de acordo com a mediocridade da indiferença que cultivam. 
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6. Portanto, caríssimos, eis o que diz o Senhor no Evangelho de hoje: "Seja o vosso ‘sim’: ‘sim’, e o vosso ‘não’: ‘não’. Tudo o que for além disso vem do Maligno”. (Mt 5,37). Decerto, esta é a regra de ouro que nos firma na verdade: bem é bem; mal é mal, e nunca se misturam. Ou seja, o que é mal só vem do mal; o que é bem só vem do bem. 
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7. Por isso, muito cuidado com o bem aparente, pois este não passa de armadilha perversa que nos afasta do estado de graça, como Jesus nos ensinou: "Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. 

8. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres? E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus! (Mt 7,21-23). 
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9. Eis então como discernir o bem verdadeiro: "Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus. Não provém das obras, para que ninguém se glorie. Somos obra sua, criados em Jesus Cristo para as boas ações, que Deus de antemão preparou para que nós as praticássemos." (Ef 2,8-10). 
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10. Por fim, escutemos atentamente este comentário de São João Maria Vianey: "Jesus Cristo recomenda-nos que tenhamos o cuidado de não nos associarmos a ninguém que seja enganador por palavras ou por obras. De fato, meus irmãos, vemos que nada é mais indigno de um cristão, que deve ser fiel imitador do seu Deus, que é a própria justiça e a verdade, do que pensar uma coisa e dizer outra. 
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11. É por isso que Jesus Cristo nos recomenda no Evangelho que nunca mintamos: "A vossa linguagem deve ser: "Sim, sim; não, não". E São Pedro diz-nos que sejamos como as criancinhas, simples e sinceras, inimigas da mentira e da dissimulação (cf. 1P 2,2).
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(São João-Maria Vianney (1786-1859), presbítero, Cura de Ars - Sermão para o 7.º Domingo depois do Pentecostes). 
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Paz e Bem! 
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Frei Fernando Maria OFMConv. 

quarta-feira, 12 de junho de 2024

A LEI PERFEITA DA LIBERDADE...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 5,17-19)(12/6/24)

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1. Caríssimos, a Palavra de Deus presente nas Sagradas Escrituras é a Sua Voz escrita falando conosco diretamente; quem a vive fielmente, a proclama com perfeição tornando-se assim seu porta voz. Pois, "A Palavra de Deus é a Verdade; Sua Lei, liberdade." Uma alma repleta da Sua Santa Palavra santifica-se cada vez que a pronuncia, pondo-a em prática. 
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2. É bem como nos ensinou São Tiago: "Sede cumpridores da palavra e não apenas ouvintes; isto equivaleria a vos enganardes a vós mesmos. Mas, aquele que procura meditar com atenção a lei perfeita da liberdade e nela persevera - não como ouvinte que facilmente se esquece, mas como cumpridor fiel do preceito -, este será feliz no seu proceder." (Tg 1,22.25).
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3. Ora, o Senhor tudo criou com perfeição por meio da Sua Palavra, e isto está presente nos mínimos detalhes que Ele nos revela ao contemplamos as suas criaturas, de modo que ninguém fora de sua vontade pode reproduzir tal perfeição.
4. Por exemplo, o Senhor nos deu dois olhos, dois ouvidos e todos os outros sentidos com os quais percebemos e discernimos naturalmente o que nos convém. Também nos deu a consciência como o coração de nossa alma, por ela conhecemos o bem e o mal, e por meio do livre arbítrio decidimos o nosso modo de ser santos seguindo os seus mandamentos.
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5. Dito isso, meditemos com as palavras de São Tiago: "Já o sabeis, meus diletíssimos irmãos: todo homem deve ser pronto para ouvir, porém tardo para falar e tardo para se irar; porque a ira do homem não cumpre a justiça de Deus. Rejeitai, pois, toda impureza e todo vestígio de malícia e recebei com mansidão a palavra em vós semeada, que pode salvar as vossas almas." (Tg 1,19-21).
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6. No Evangelho de hoje, o Senhor Jesus nos ensina: “Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus." (Mt 5,17-19).
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7. Meditemos então com estas palavras do saudoso Papa Bento XVI: "Quando o Senhor Jesus ensinava as multidões, não deixava de confirmar a lei que o Criador tinha inscrito no coração do homem e que depois tinha formulado nas tábuas do Decálogo.
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8. Mas Jesus mostrou-nos com uma nova clareza o centro unificador das leis divinas reveladas no Sinai, ou seja, o amor a Deus e ao próximo: "Amar [a Deus] com todo o teu coração, com toda a tua mente e com todas as tuas forças, e amar o teu próximo como a ti mesmo vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios" (Mc 12,33). 
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8. De fato, Jesus, na sua vida e no seu mistério pascal, realizou toda a lei. Unindo-se a nós através do dom do Espírito Santo, Ele leva conosco e em nós o "jugo" da lei, que se torna assim uma "carga leve" (Mt 11,30). 
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9. Neste espírito, Jesus formulou a sua lista das atitudes interiores de quem procura viver profundamente a fé: Bem-aventurados os pobres em espírito, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os pacificadores, os perseguidos por causa da justiça (cf. Mt 5, 3-12).
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Que o Senhor na sua infinita misericórdia tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna. Amém! Assim seja!
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

NO REINO DE DEUS TUDO É GRATUITO INCLUINDO O SEU ANÚNCIO...

PEQUENO SERMÃO DE CADA (Mt 10,7-13)(11/6/24)
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1. Caríssimos irmãos e irmãs, a misericórdia e o poder de Deus se manifestam na vida e nas ações daqueles que lhes são consagrados e escolhidos pelo Espírito Santo para o serviço que o Senhor lhes confia. É bem como vimos na primeira leitura (cf. At 13,2-3).
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2. Com efeito, a nossa estadia neste mundo é curta e tem como finalidade o anúncio do Reino de Deus, que se fundamenta na justiça e na paz; na justiça que consiste no julgamento deste mundo; na paz, porque pós julgamento, segue-se a renovação do mesmo, quando Cristo será tudo em todos; e porá seus inimigos por escabelo de seus pés, o último a ser destruído será a morte (cf. 1Cor 15,25-26).
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3. No Evangelho de hoje o Senhor Jesus envia seus discípulos com as seguintes recomendações: “Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos Céus está próximo’. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. 
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4. De graça recebestes, de graça deveis dar! Não leveis ouro nem prata nem dinheiro nos vossos cintos; nem sacola para o caminho, nem duas túnicas nem sandálias nem bastão, porque o operário tem direito ao seu sustento." (Mt 10,7-10).
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5. Decerto, para muitos essas recomendações do Senhor são de difícil alcance, mas isso acontece porque vivemos num mundo onde o cultura do ter, do poder, do prazer e do aparecer tornou-se regra geral e por isso, poucos escutam e põem em prática as Palavras do Senhor. 
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5. Todavia, convém lembrar um dos ensinamentos mais práticos da fé: a felicidade eterna consiste em vivermos neste mundo como filhos e filhas de Deus, fazendo em tudo a Sua Santa Vontade (cf. Mt 7,21-27).
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6. Comentando o Evangelho de hoje disse o Mons Ângelo Spina: "Jesus envia os discípulos a anunciar o Reino sempre a caminho com quatro empenhos a realizar: curar os doentes, ressuscitar os mortos, limpar os leprosos, expulsar os demônios. Ora, para levar o anúncio do Reino aos irmãos e irmãs, para se pôr a trabalhar na vinha do Senhor, não é preciso ter muitos recursos materiais ou muito tempo. 
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7. O que Jesus pede é que se diga um "sim" generoso; Ele fará o resto. O anúncio do Evangelho, tal como é apresentado por Jesus, é gratuito: "De graça recebestes, de graça dai". Nem prata, nem dinheiro, nem cintos, nem sacos de viagem, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajados. 
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8. Que lindo ouvir estas palavras: "De graça recebestes, de graça dai". Esta expressão perturba a nossa concepção econômica da vida. Porque, habitualmente, dizemos: eu te dou algo se me deres algo em troca, tu começas a dar-me algo e, se me apetecer, serei generoso contigo. 
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9. O verdadeiro testemunho de vida consiste na gratuidade. Os servos de Deus não trabalham para a sua própria honra, nem para a sua própria grandeza, nem para o seu próprio enriquecimento. A gratuidade manifesta um despreendimento interior e efetivo de tudo, mesmo da procura de gratificação que muitas vezes contamina até as nossas obras santas. 
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10. A única recompensa é a que vem de Deus, a que Deus dá quando e como quer; de fato, a única recompensa é o próprio Deus. Se Deus não for tudo para nós, se não procurarmos a alegria nele, seremos sempre tentados a nos apegar às coisas ou às pessoas e, em última análise, a nós mesmos. 
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11. Dar livremente significa também não tornar pesado o nosso serviço, dar tudo sem ostentação e sem esperar qualquer reconhecimento. De fato, damos de graça não porque somos tolos e sonhadores ingênuos, mas porque damos a Deus! De graça recebestes, de graça dai e tereis um tesouro de riqueza espiritual."
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(Mons. Angelo Spina, Arcivescovo di Ancona - Osimo e Vice Presidente della Conferenza Episcopale Marchigiana).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.
 

segunda-feira, 10 de junho de 2024

BEM-AVENTURADOS OS POBRES PORQUE DELES É O REINO DE DEUS...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 5,1-12)(10/6/24)


1. Caríssimos, quem nunca na vida sofreu alguma tribulação ou desafio de fé? Quem nunca na vida chorou ou lamentou-se devido às dificuldades advindas das próprias fraquezas ou das fraquezas dos outros? 
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2. É isso o que nos responde a liturgia de hoje, ao nos mostrar que mesmo vivendo neste vale de lágrimas nenhum filho ou filha de Deus deixa de ser consolado e amparado por Ele nas tribulações que sofrem neste mundo.
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3. No Evangelho de hoje o Senhor Jesus nos ensina a via da perfeição, que nos leva à santidade: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus." A virtude da pobreza, consiste em viver sem apego ou a preocupação em possuir as bens deste mundo.
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4. "Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados." Essa Bem-aventurança nos diz da visita interior que Deus nos faz quando passamos por diversas tribulações. "Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra." Trata-se da salvação eterna de nossas almas prometida por Jesus, àqueles que o amam e se exercitam na virtude da humildade.
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5. "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados." Não se trata da justiça dos homens que é falha, mas sim da justiça de Deus que conhece as nossas intenções e os nossos atos (cf. Sl 138). "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia." De fato, dependemos totalmente da misericórdia divina, e ela é alcançada por aqueles que a exercem para com os outros (cf. Tg 2,12-13).  
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6. "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus." Sem dúvida, os nossos olhos são para ver a Deus face a face, e não para ver imagens impuras advindas da Internet ou outros meios. A pureza de coração é uma ação do Espírito Santo nas almas que se consagram ao Senhor e o amam incondicionalmente. 
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7. "Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus." Ora, a paz é fruto do Espírito Santo presente no coração de quem perdoa sempre. "Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus." Isto é, por causa do seu anúncio que se cumpre na íntegra, pois, todos seremos julgados.
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8. Portanto, caríssimos, peçamas ao Senhor Jesus a graça para fazermos das Bem-aventuranças a nossa regra da vida eterna, o nosso caminho para o céu, e que Ele nos dê a perseverança e a disciplina interior para pô-las em prática.
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9. Meditemos então com estas belas palavras do Cardeal Angelo Comastri: "A santidade é a verdadeira juventude: a juventude do coração. Porque ela é novidade: é a verdadeira novidade. Jesus disse-o no Evangelho. Que novidade é essa? Ora, todos querem dinheiro; o bem-aventurado torna-se pobre porque encontrou Deus e as coisas do mundo já não o atraem. Muitos quando ofendidos procuram vingar-se; o bem-aventurado é um ser manso que não sabe o que é vingança. 
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10. Muitos só pensam em si mesmos. O bem-aventurado é misericordioso e sente ternura por todos. Muitos procuram os prazeres e os caprichos pensando ser livres: o bem-aventurado liberta-se de tudo isso com a pureza dos sentimentos; pois, esta é a verdadeira liberdade. Muitos se queixam nas provações, o bem-aventurado, pelo contrário, alegra-se porque nas provações já ouve os sons de uma festa próxima e vê a luz de um novo dia. 
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11. Enfim, o bem-aventurado fixou na sua mente a palavra de Jesus: "Alegrai-vos e exultai, porque grande será a vossa recompensa no céu!" Destarte, a santidade não é sinônimo de tristeza, mas sim, de alegria. Se há uma tristeza, essa é a de não sermos santos ainda." 
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(Commento del giorno 10 giugno 2024, lunedì della X settinana del Tempo Ordinario - Card. Angelo Comastri).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

sábado, 8 de junho de 2024

IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA, ROGAI POR NÓS...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Lc 2,41-51)(08/6/24)

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"Guarda teu coração acima de todas as outras coisas, porque dele brotam todas as fontes da vida." (Pr 4,23).
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1. Caríssimos, essas palavras do Livro de Provérbios nos ajuda a compreender e viver com profunda devoção a memória do Imaculado coração de Maria que a Igreja hoje celebra. Pois, como a nota de rodapé desse versículo diz: “O coração é, na Bíblia, considerado como sede da inteligência, dos desejos, dos pensamentos, da vontade, da consciência. É dele que brotam todas as fontes da vida" em especial o amor incondicional.
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2. Com efeito, o coração Imaculado da Virgem Mãe é a fonte geradora do Sacratíssimo Coração de Jesus; pois, naturalmente o primeiro órgão gerado da criança no seio materno é o coração e ele começa a bater exatamente no mesmo ritmo do coração de sua mãe. Assim foi com o Sagrado Coração de Jesus no seio de Maria Santíssima e continuará sendo assim por toda a eternidade. 
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3. Destarte, recitemos devotamente este maravilhoso hino do ofício das leituras desta memória:
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_Aquele a quem adoram
o céu, a terra, o mar,
o que governa o mundo,
na Virgem vem morar.
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A lua, o sol e os astros
o servem, sem cessar.
Mas ele vem no seio
da Virgem se ocultar.
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Feliz, ó Mãe, que abrigas
na arca do teu seio
o Autor de toda a vida,
que vive em nosso meio.
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Feliz chamou-te o Anjo,
o Espírito em ti gerou
dos povos o Esperado,
que o mundo transformou.
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Louvor a vós, Jesus,
nascido de Maria,
ao Pai e ao Espírito
agora e todo o dia._
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4. *Sacratíssimo Coração Jesus, Imaculado coração de Maria, fazei o nosso coração semelhante ao vosso.*
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5. Por fim, meditemos com amor e devoção estas palavras de São Padre Pio de Pietrelcina: "Gostaria de ter uma voz forte para convidar os pecadores de todo o mundo a amarem a Virgem Maria. Mas como isso não está ao meu alcance, pedi ao meu anjo que o fizesse por mim. Pobre Mãezinha, como me ama!
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6. Quando penso nos inúmeros benefícios que esta Mãezinha me tem feito, envergonho-me de nunca ter olhado com suficiente amor para o seu coração e para a sua mão, que mos ofereciam com tanta bondade; e o que me angustia mais é ter correspondido aos cuidados amorosos da nossa Mãe com uma permanente rejeição.
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7. Quantas vezes confiei a esta Mãe as dolorosas angústias do meu coração perturbado! E quantas vezes ela me consolou! E eu senti-me grato? No meio de tantas aflições, tenho a impressão de já não ter mãe na terra, mas de ter uma Mãe muito compassiva no Céu. Mas quantas vezes, quando o coração se me acalmava, esqueci quase tudo, incluindo o meu dever de gratidão com esta bendita Mãezinha do Céu!
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8. Esforcemo-nos, como tantas almas escolhidas, por estar sempre ao pé desta Mãe bendita, por caminhar sempre junto dela, porque não há outro caminho que conduza à vida senão aquele que a nossa Mãe nos indica. Não recusemos este caminho, nós, que queremos chegar ao céu.
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(São (Padre) Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho - 
 Capítulo VIII, n.º 238-241)
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

sexta-feira, 7 de junho de 2024

CORAÇÃO SANTO TU REINARÁS...


  Sol. do Sagrado Coração de Jesus (Jo 19,31-37)(07/6/24).


"Coração Santo tu reinarás, tu nosso encanto sempre serás."
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1. Caríssimos irmãos e irmãs, o Sagrado Coração de Jesus é a Fonte inesgotável do amor de Deus, pois assim como o coração humano transmite a vida natural para todo o corpo, de igual modo o Coração do Senhor comunica a vida divina para todo o seu corpo, a Igreja, do qual somos suas células vivas. 
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2. Desse modo, vivemos o grande mistério da unidade da Santíssima Trindade em cada um de nós; como o nosso coração natural vive a unidade com todos os membros do nosso corpo. Pois, assim nos ensina São Paulo: "Porque, como o corpo é um todo tendo muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo." (1Cor 12,12).
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3. De fato, como vimos na primeira leitura, tal qual crianças Deus nos ama e cuida de nós, porque somos os Seus filhos e filhas. Mas, Ele faz isso a partir do Coração de Seu Filho, que ao ser sangrado na cruz, fez jorrar do Seu lado aberto, sangue e água, símbolos do nosso batismo que significa o novo nascimento no seio da Santa Igreja e também símbolo de todos os outros Sacramentos. De fato, quem nasce precisa de cuidados especiais, e é isto o que faz o nosso Pai do céu conosco. 
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4. O Sagrado Coração de Jesus nos ama infinitamente; mas também nós precisamos ama-lo ardentemente com toda a nossa força, com toda a nossa alma, com todo o nosso ser, pois amar assim significa reciprocidade, visto que ninguém ama sozinho, na verdade existimos uns para os outros numa extensão de amor que ultrapassa todo o nosso entendimento. 
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5. Destarte, supliquemos à Santíssima Virgem Maria, que interceda por todos os Sacerdotes, seus filhos prediletos, que receberam do Senhor o poder de consagrar o Seu Corpo e Sangue, Sua Alma e Divindade e administrar todos os outros Sacramentos, na certeza de que suas orações serão ouvidas, para a salvação de todas as almas por eles atendidas, e também para o bem da Santa Igreja. 
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6. Discorrendo sobre esta grande devoção disse o Papa Francisco: "O Coração de Cristo não é uma devoção piedosa para sentir um pouco de calor em nosso interior, não é uma pequena imagem terna que desperta afeição, não, não é isso. É um coração apaixonado - basta ler o Evangelho -, um coração ferido de amor, rasgado por nós na cruz. "Uma lança lhe feriu o lado, e imediatamente saiu sangue e água" (Jo 19,34).
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7. Traspassado, morto, ele nos dá a vida. O Sagrado Coração é o ícone da Paixão: ele nos mostra a ternura visceral de Deus, sua paixão amorosa por nós e, ao mesmo tempo, elevado na cruz e cercado de espinhos, mostra-nos quanto sofrimento custou a nossa salvação.
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8. Na ternura e na dor, esse Coração revela, em resumo, o que é a paixão de Deus. Qual é ela? O homem, nós. E qual é o estilo de Deus? Proximidade, compaixão e ternura. Este é o estilo de Deus: proximidade, compaixão e ternura.
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9. O Coração de Jesus bate por nós, sempre batendo com estas palavras: "Coragem, coragem, não tenham medo, eu estou aqui!". Coragem, irmãs e irmãos, não desanimemos, o Senhor nosso Deus é maior do que todos os nossos males, Ele nos toma pela mão e acaricia, Ele está perto de nós, Ele é compassivo, Ele é terno. Ele é o nosso consolo."
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(Papa Francesco - Santa Messa nel 60° anniversario della Facoltà di Medicina e Chirurgia dell’Università Cattolica del Sacro Cuore, 5 novembre 2021)
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv. 

quinta-feira, 6 de junho de 2024

AMARÁS O SENHOR TEU DEUS DE TODO O TEU CORAÇÃO...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mc 12,28b-34)(06/6/24)

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1. Caríssimos, esse nosso mundo é um mundo de contrastes, um mundo dividido em que percebemos mais os males advindos do pecado do que o bem praticado em obediência à vontade de Deus, expressa nos seus mandamentos e na vida de Seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. 
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2. Na verdade, ainda estamos aqui por pura misericórdia do Senhor, pois se Ele punisse os homens em proporção aos pecados por eles praticados nenhuma criatura existiria mais na face da terra. Todavia, quando necessário, Ele nos pune para o nosso arrependimento e conversão. 
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3. Mas, por que o Senhor nos ama tanto assim? Por causa do sacrifício do Seu Filho, como vemos Evangelho de São João: "Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele." (Jo 3,16).
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4. De fato, a primeira vinda de Cristo e o envio do Espírito Santo a este mundo ocorreu como preparação para o estabelecimento definitivo do Reino de Deus que se dará com a sua segunda vinda, em que nela acontecerá o Juízo final. Por isso, mesmo diante da maldade que tanta, o Senhor espera pacientemente até que se cumpra a sua justiça.
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5. Com efeito, são três os pontos que fundamentam esse Justo Juízo: "O Espírito Santo convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em mim. Ele o convencerá a respeito da justiça, porque eu me vou para junto do meu Pai e vós já não me vereis; ele o convencerá a respeito do juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado." (Jo 16, 9-11).
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6. O Evangelho de hoje nos traz a compreensão de que a única razão de nossa existência no mundo é o amor a Deus e ao próximo como à nós mesmos, bem como nos ensinou São Paulo: "A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, a não ser o amor recíproco; porque aquele que ama o seu próximo cumpriu toda a lei. 
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7. A caridade não pratica o mal contra o próximo. Portanto, a caridade é o pleno cumprimento da lei." (Rm 13,8.10). Desse modo, quem ama como o Senhor nos ensina nunca permite o pecado em sua vida, porque pecar é não amar a Deus e nem seus filhos e filhas.
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8. Meditemos então com amor e atenção estas palavras de São João Maria Vianey: "Vemos que Deus nos criou com desejos tais que nenhuma criatura é capaz de nos contentar. Apresentai a uma alma todas as riquezas e todos os tesouros do mundo, que nada a satisfará: tendo-a Deus criado para Si, só Ele é capaz de satisfazer por completo os seus vastos desejos.
9. Sim, meus irmãos, a nossa alma tem capacidade para amar a Deus, que é a maior de todas as alegrias! No amor de Deus, temos todos os bens e prazeres que podemos desejar na terra e no Céu (cf Sl 72,25). E podemos ainda servi-lo; em outras palavras, glorifica-lo em todos os atos da nossa vida. Nada há que façamos, se o fizermos com o objetivo de Lhe agradar, que Deus não seja glorificado nisso. 
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10. Enquanto estamos neste mundo, a nossa ocupação não é diferente da dos anjos que estão no Céu; a única coisa que difere é que nós só vemos estes bens com os olhos da fé. Sim, meus irmãos, a nossa alma é eterna como o próprio Deus. E não, meus irmãos, não vamos mais longe, pois perder-nos-íamos neste abismo de grandeza."
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(São João-Maria Vianney (1786-1859), presbítero, Cura de Ars - Sermão para o 9.º Domingo depois do Pentecostes).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

quarta-feira, 5 de junho de 2024

COMO ENTÃO SERÁ A VIDA ETERNA?


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mc 12,18-27)(05/6/24).

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1. Caríssimos, a vida natural é tão preciosa que em sã consciência ninguém quer morrer mesmo sabendo que a morte é certa. Conhecemos os nossos defeitos, limites, nossas falhas e quanto nos empenhamos para corrigir-las, para termos assim uma vida equilibrada, saudável, tranquila.
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2. Todavia, não podemos pensar a vida somente em sua dimensão natural, pois a transcendência faz parte dela, uma vez que que somos um misto de corpo, e alma imortal. Com efeito, as leituras de hoje tratam dessa transcendência, nos mostrando que a vida não termina com a morte natural; é o contrário, Jesus nos tira da morte para a vida eterna.
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3. Comentando o Evangelho de hoje disse o Papa Francisco: "Em Jesus, Deus dá-nos a vida eterna, dá a todos, e todos, graças a Ele, têm a esperança de uma vida ainda mais verdadeira do que esta. A vida que Deus nos prepara não é um mero enfeite da vida atual: ultrapassa a nossa imaginação, porque Deus nos surpreende continuamente com o seu amor e a sua misericórdia. 
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4. Por isso, o que vai acontecer é exatamente o contrário do que esperavam os saduceus. Não é esta vida que remete para a eternidade, para a outra vida, a que nos espera, mas é a eternidade que ilumina e dá esperança à vida terrena de cada um de nós! 
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5. Se olharmos apenas com um olhar humano, somos levados a dizer que o caminho do homem vai da vida para a morte. Podemos ver isso! Mas só se olharmos com um olhar humano. Jesus inverte esta perspetiva e diz que a nossa peregrinação vai da morte para a vida: vida plena! Estamos fazendo uma viagem, uma peregrinação para a vida plena, e essa vida plena é a que nos ilumina na nossa viagem! 
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6. Por isso, a morte fica para trás, atrás de nós, e não à nossa frente. Diante de nós está o Deus dos vivos, o Deus da aliança, o Deus que tem o meu nome, o nosso nome, como Ele disse: "Eu sou o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó", também o Deus com o meu nome, com o nosso nome. Deus dos vivos!
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7. Aí está a derrota final do pecado e da morte, o início de um novo tempo de alegria e de luz sem fim. Mas já nesta terra, na oração, nos sacramentos, na fraternidade, encontramos Jesus e o seu amor, e assim podemos antecipar algo da vida ressuscitada. 
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8. Os "filhos do céu e da ressurreição" não são uns poucos privilegiados, mas são todos os homens e todas as mulheres, porque a salvação que Jesus trouxe é para cada um de nós. E a vida dos ressuscitados será semelhante à dos anjos, ou seja, toda imersa na luz de Deus, toda dedicada ao seu louvor, numa eternidade cheia de júbilo e de paz.
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9. Mas atenção! A ressurreição não é só o fato de ressuscitar depois da morte, mas é um novo gênero de vida que já experimentamos no hoje; é a vitória sobre o nada que já podemos antegozar. A ressurreição é o fundamento da fé e da esperança cristã! 
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10. Se não houvesse a referência ao Paraíso e à vida eterna, o cristianismo reduzir-se-ia a uma ética, a uma filosofia de vida. Ao contrário, a mensagem da fé cristã vem do céu, é revelada por Deus e vai além deste mundo.
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11. Acreditar na ressurreição é essencial, para que cada um dos nossos atos de amor cristão não seja efêmero nem um fim em si mesmo, mas se torne uma semente destinada a desabrochar no jardim de Deus, e produzir frutos de vida eterna." (Papa Francisco, trechos do Angelus, 6 de novembro de 2016).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv. 

segunda-feira, 3 de junho de 2024

SERVIDORES E NÃO DONOS DA VINHA...


 

 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (MC 12,1-12)(03/6/24)

1. Caríssimos, vivemos num mundo como um paraíso, porém, não está sendo correspondido como deveria por conta das maldades nele praticadas; temos tudo, mas ao mesmo tempo não temos nada, devido ao péssimo estado de alma advindo dos sofrimentos que padecemos em consequência da desobediência ao nosso Pai Celestial.

2. Como então mudar essa situação interior, para que também mude a exterior? Escutemos São Pedro na primeira leitura de hoje: "Caríssimos, graça e paz vos sejam concedidas abundantemente, porque conheceis Deus e Jesus, nosso Senhor. O seu divino poder nos deu tudo o que contribui para a vida e para a piedade, mediante o conhecimento daquele que, pela sua própria glória e virtude, nos chamou.

3. Por meio de tudo isso nos foram dadas as preciosas promessas, as maiores que há, a fim de que vos tornásseis participantes da natureza divina, depois de libertos da corrupção, da concupiscência no mundo.

4. Por isso mesmo, dedicai todo o esforço em juntar à vossa fé a virtude, à virtude o conhecimento, ao conhecimento o autodomínio, ao autodomínio a perseverança, à perseverança a piedade, à piedade o amor fraterno e ao amor fraterno, a caridade." (2Pd 2,1-7).

5. No Evangelho de hoje o Senhor Jesus conta a parábola da vinha arrendada, claramente direcionada aos Sumos Sacerdotes, aos Mestres da Lei e aos Anciãos, assim concluindo: "Por acaso, não lestes na Escritura: 'A pedra que os construtores deixaram de lado, tornou-se a pedra mais importante; isso foi feito pelo Senhor e é admirável aos nossos olhos'?"

6. Portanto, caríssimos, eis o que diz o Senhor: "Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres? E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!" (Mt 7,21-23).

7. Comentando este Evangelho escreveu São Basílio: "Deus tinha criado o homem à sua imagem e semelhança (cf Gn 1,26), e havia-o julgado digno de O conhecer, pois estava acima de todos os animais devido ao dom da inteligência, fora criado no gozo das incomparáveis delícias do Paraíso e fora feito senhor de tudo o que havia na face da Terra.

8. Mas, ao vê-lo cair no pecado, instigado pela serpente, e, pelo pecado, na morte e no sofrimento que a ela conduzem, não o rejeitou. Pelo contrário, deu-lhe desde logo o auxílio da sua Lei; designou anjos para o guardarem e cuidarem dele; enviou profetas para lhe reprovarem a maldade e lhe ensinarem a virtude.

9. E quando, apesar destas graças e de muitas outras, os homens persistiram na desobediência, não Se afastou deles. Tendo nós ofendido o nosso benfeitor e mostrado indiferença pelos sinais da sua proteção, não fomos abandonados pela bondade do Senhor nem afastados do seu amor, antes fomos subtraídos à morte e devolvidos à vida por Nosso Senhor Jesus Cristo.

10. E a maneira como fomos salvos é digna de uma admiração ainda maior: "Ele, que é de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas despojou-Se a Si próprio, tomando a condição de servo" (Fl 2,6-7). "Ele tomou sobre Si as nossas doenças, carregou as nossas dores, foi ferido" para nos salvar pelas suas chagas (Is 53,4-5). Ele "resgatou-nos da maldição da Lei, ao fazer-Se maldição por nós" (Gl 3,13) e sofreu a mais infamante morte para nos conduzir à vida na sua glória.

11. E não Lhe bastou devolver à vida aqueles que estavam na morte; também os revestiu da dignidade divina e lhes preparou no repouso eterno uma felicidade que ultrapassa toda a imaginação humana. "Como hei de retribuir ao Senhor todos os seus benefícios para comigo?" (Sl 115,12), como retribuiremos tudo o que Ele nos deu? Ele é tão bom que nada pede em compensação por tantas graças: contenta-Se em ser amado."

(São Basílio (c. 330-379), monge, bispo de Cesareia da Capadócia, doutor da Igreja - Regras monásticas, Regras Maiores, § 2). 

Paz e Bem.

Frei Fernando Maria OFMConv.

O FILHO DO HOMEM É SENHOR TAMBÉM DO SÁBADO...


 Homilia do 9°Dom do tempo comum(Mc 2,23-3,6)(02/6/24)

1. Caríssimos, no mundo dos cegos espirituais não existe espaço para a misericórdia e o amor, mas somente para a intransigência e o pecado da condenação do próximo seja ele quem for, por isso, nem Jesus, o Filho de Deus, escapou da intransigência e da dureza de coração dos seus algozes. 

2. Quando Jesus lhes diz que "o Sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado," e que "o Filho do Homem é Senhor também do sábado”, isto quer dizer que o dia do Senhor existe para se fazer a vontade do Senhor, isto é, fazer o bem e somente o bem. Então, não é uma questão de dia, mas do verdadeiro sentido que se dá ao dia.

3. A lei existe para nos mostrar como devemos viver a fé, desse modo, ela tem a função de pedagogo espiritual, isto é, aquele que nos conduz ao verdadeiro conhecimento da vontade de Deus, expressa em seu Filho, Jesus Cristo. Como o Senhor nos ensinou: "O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. 

4. As palavras que vos tenho dito são espírito e vida." (Jo 6,63). Em outras palavras, a lei sem o verdadeiro espírito da lei, é letra que mata, como vimos no Evangelho de hoje: "Ao saírem, os fariseus, com os partidários de Herodes, imediatamente tramaram, contra Jesus, a maneira como haveriam de matá-lo." (Mc 3,6).

5. Com efeito, ouvir o Senhor e abrir o coração para vivermos a sua vontade é a expressão máxima da verdadeira obediência, do verdadeiro amor, como nos ensinou São João na sua primeira carta: "Todo o que crê que Jesus é o Cristo, nasceu de Deus; e todo o que ama aquele que o gerou, ama também aquele que dele foi gerado. 

6. Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: se amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. Eis o amor de Deus: que guardemos seus mandamentos. E seus mandamentos não são penosos, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé." (1Jo 5,1-4).

7. Portanto, caríssimos, não existe confusão no coração de quem obedece a Palavra da verdade, por conta da coerência na vivência de fé. São Paulo, nos chama a viver em comunhão com o Senhor a partir do seu exemplo de vida: "Sede meus imitadores como eu o sou de Cristo. O que aprendestes, recebestes, ouvistes e observastes em mim, isto praticai, e o Deus da paz estará convosco." (1Cor 11,1; Fl 4,9).

8. Destarte, a prática da fé não comporta regras severas, intransigentes; pelo contrário, ela é dotada das virtudes eternas que geram o bem, a harmonia e a paz em todos os sentidos do viver, como nos ensina a Carta aos Hebreus: "Procurai a paz com todos e ao mesmo tempo a santidade, sem a qual ninguém pode ver o Senhor." (Hb 12,14).

9. Sem dúvida, este nosso tempo não é diferente do tempo de Jesus; os fariseus de lá, são hoje os que dividem a Igreja em conservadores e progressistas; defendem a liturgia do Concílio Vaticano I contra a do Concílio Vaticano II; não aceitam o Papa Francisco, acusando-o de sacrílego e falso; dividem a Santa Missa em Tridentina e Missa Nova.

10. O que dizer então de tudo isso? Quem dá atenção aos fariseus do nosso tempo se perde com eles. Ao contrário, quem crê na presença real do Senhor Jesus na Eucaristia se alimenta do Pão da vida eterna, e evita todo tipo de discórdias e desintendimentos, pois, como disse são Paulo: "todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." (Rm 8,14).

Por isso, "Sede solícitos em conservar a unidade do Espírito no vínculo da paz. Sede um só corpo e um só espírito, assim como fostes chamados pela vossa vocação a uma só esperança. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que atua acima de todos, por todos e em todos. E isto significa viver a unidade do Espírito pelo vínculo da paz." (Ef 4,3-6).

Paz e Bem!

Frei Fernando Maria OFMConv. 

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