VEM SENHOR JESUS!

"Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não incorre na condenação, mas passou da morte para a vida". (Jo 5,24).

SEJAM BEM VINDOS À ESSA PORTA ESTREITA DA SALVAÇÃO

"Uma só coisa peço ao Senhor e a peço incessantemente: é habitar na casa do Senhor todos os dias de minha vida, para admirar aí a beleza do Senhor e contemplar o seu santuário". (Sl 26,4).

segunda-feira, 30 de abril de 2012

O GRANDE MISTÉRIO DO BATISMO


O GRANDE MISTÉRIO DO BATISMO

O Espírito vivifica

O Senhor que nos concede a vida, estabeleceu conosco a aliança do batismo, como símbolo da morte e da vida. A água é imagem da morte e o Espírito nos dá o penhor da vida. Assim, torna-se evidente o que antes perguntávamos: por que a água está unida ao Espírito? É dupla, com efeito, a finalidade do batismo: destruir o corpo do pecado para que nunca mais produza frutos de morte, e vivificá-lo pelo Espírito, para que dê frutos de santidade.

A água é a imagem da morte porque recebe o corpo como num sepulcro; e o Espírito, por sua vez, comunica a força vivificante que renova nossas almas, libertando-as da morte do pecado e restituindo-lhes a vida. Nisto consiste o novo nascimento da água e do Espírito: na água realiza-se a nossa morte, enquanto o Espírito nos traz a vida.

O grande mistério do batismo realiza-se em três imersões e três invocações, para que não somente fique bem expressa a imagem da morte, mas também a alma dos batizados seja iluminada pelo dom da ciência divina. Por isso, se a água tem o dom da graça, não é por sua própria natureza, mas pela presença do Espírito. O batismo, de fato, não é uma purificação da imundície corporal, mas o compromisso de uma consciência pura perante Deus.

Eis por que o Senhor, a fim de nos preparar para a vida que brota da ressurreição, propõe-nos todo o programa de uma vida evangélica, prescrevendo que não nos entreguemos à cólera, sejamos pacientes nas contrariedades e livres da aflição dos prazeres e do amor ao dinheiro. Isto nos manda o Senhor, para nos induzir a praticar, desde agora, aquelas virtudes que na vida futura se possuem como condição natural da nova existência.

O Espírito Santo restitui o paraíso, concede-nos entrar no reino dos céus e voltar à adoção de filhos. Dá-nos a confiança de chamar a Deus nosso Pai, de participar da graça de Cristo, de sermos chamados filhos da luz, de tomar parte na glória eterna, numa palavra, de receber a plenitude de todas as bênçãos tanto na vida presente quanto na futura.

Dá-nos ainda contemplar, como num espelho, a graça daqueles bens que nos foram prometidos e que pela fé esperamos usufruir como se já estivessem presentes. Ora, se é assim o penhor, qual não será a plena realidade? E, se tão grandes são as primícias, como não será a consumação de tudo?

Paz e Bem!

Fonte: Do Livro Sobre o Espírito Santo, de São Basílio, bispo - (Cap 15,35-36: PG 32,130-131) (Séc.IV)


sábado, 28 de abril de 2012

E ASSIM A VIDA NOS FOI DADA DE NOVO...





Eu morro por todos, diz o Senhor, a fim de que por mim todos tenham vida. Eu morro para resgatar todos pela minha carne! A morte morrerá em minha morte e, juntamente comigo, a natureza humana que caíra, ressuscitará.

Para tanto tornei-me semelhante a vós, um homem autêntico da descendência de Abraão, a fim de ser semelhante a meus irmãos. São Paulo compreendeu isto perfeitamente, ao dizer: Visto que os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Jesus participou da mesma condição, para assim destruir, com a sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o demônio (Hb 2,14).

Ora, aquele que tinha o poder da morte, e, por conseguinte, a própria morte, não poderia ser destruído de nenhuma outra maneira, se Cristo não tivesse se oferecido em sacrifício por nós. Um só foi imolado pela redenção de todos, porque a morte dominava sobre todos.

Por isso diz-se nos salmos que Cristo se ofereceu a Deus Pai como sacrifício imaculado: Sacrifício e oblação não quisestes, mas formastes-me um corpo; não pedistes ofertas nem vítimas, holocaustos por nossos pecados. E então eu vos disse: “Eis que venho.” (Sl 39,7-9).

O Senhor foi crucificado por todos e por causa de todos a fim de que, tendo um morrido por todos, vivamos todos nele. Não seria possível que a vida permanecesse sujeita à morte ou sucumbisse à corrupção natural. Sabemos pelas próprias palavras de Cristo que ele ofereceu sua carne pela vida do mundo: Eu me consagro por eles (Jo 17,19).

Com isso ele quer dizer que se consagra e se oferece como sacrifício puro de suave perfume. Com efeito, tudo o que era oferecido sobre o altar, era santificado ou chamado santo, conforme a Lei. Cristo, portanto, entregou seu corpo em sacrifício pela vida de todos e assim a vida nos foi dada de novo por meio dele. Como isso se realizou, procurarei dizer na medida do possível.

Depois que o Verbo de Deus, que tudo vivifica, assumiu a carne, restituiu à carne o seu próprio bem, isto é, a vida. Estabeleceu com ela uma comunhão inefável, e tornou-a fonte de vida, como ele mesmo o é por natureza. Por conseguinte, o corpo de Cristo dá a vida a todos os que dele participam; repele a morte dos que a ele estão sujeitos e os libertará da corrupção, porque possui em si mesmo a força que a elimina plenamente.
Paz e Bem!

Fonte: Do Comentário sobre o Evangelho de São João, de São Cirilo de Alexandria, bispo - (Lib. 4,2: PG 73,563-566)(Séc.V)




quarta-feira, 25 de abril de 2012

CRÔNICAS DE MINHA ALMA - ENTÃO, COMO ME SINTO AGORA?



CRÔNICAS DE MINHA ALMA - ENTÃO, COMO ME SINTO AGORA?



Os sentimentos são algo que sentimos nas situações que vivenciamos, e que podem ser para o nosso bem ou para o mal, dependendo das decisões tomadas, porque eles são fruto do que cultivamos com os nossos sentidos. Nossa alma é dotada de três faculdades básicas, que regem nossos sentidos a fim de que mantenhamos o equilíbrio necessário à nossa sobrevivência e bem estar no mundo, pois foi para isto que Deus nos criou. A saber, são estas as faculdades da alma: volitiva, que diz respeito à nossa vontade; intelectiva, que diz respeito ao nosso intelecto e tudo o que se processa nele; e, apetitiva, que diz respeito aos nossos desejos. Ora, elas são livres, desde que não as submetamos à prisão de nossos instintos, pois o poder de decisão é nosso e somente nosso, isto em se tratando de uma pessoa naturalmente normal, ou seja, em plena posse das faculdades de sua alma.

Caso nos deixemos levar só pelos instintos, nos tornamos escravos das decisões instintivas que geram os vícios e toda inclinação para o mal que vemos na face da terra. É como nos ensinou Jesus: “Ora, o que sai do homem, isso é que mancha o homem. Porque é do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos: devassidões, roubos, assassinatos, adultérios, cobiças, perversidades, fraudes, desonestidade, inveja, difamação, orgulho e insensatez. Todos estes vícios procedem de dentro e tornam impuro o homem”. (Mc 7,21-23). Logo, precisamos de uma fonte geradora de liberdade, para que nossas decisões sejam tomadas em Deus e para Deus, porque somente em Deus somos verdadeiramente livres e felizes.

Então, qual é essa fonte infinda de liberdade, que nos faz tomar decisões em conformidade com a vontade de Deus? São Paulo nos ensina qual é: “Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não abuseis, porém, da liberdade como pretexto para prazeres carnais. Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne. Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne; pois são contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis”.

“Se, porém, vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sob a lei, porque, o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança. Contra estas coisas não há lei. Pois os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as paixões e concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito. Não sejamos ávidos da vanglória. Nada de provocações, nada de invejas entre nós”. (Gal 5,13a.16-26).

Portanto, o ser humano não é só carne, mas somos almas viventes, dotados por Deus de capacidades naturais e dons especiais para agirmos bem; e mais ainda, depois de batizados, recebemos em Jesus Cristo o dom do Espírito Santo, para vivermos como filhos e filhas de Deus que se destinam à vida Eterna.

Então, como me sinto agora? Depende da história que cada um de nós fazemos, se é de salvação ou de condenação. Se for de salvação, nossos sentimentos têm como fonte de inspiração o próprio Deus, e nos levam para Ele (cf. Col 3,17); se de condenação, nossos sentimentos têm como fonte de inspiração nossos instintos naturais desprovidos da graça santificante do Senhor, que nos levam à repulsa de Deus e de tudo o que diz respeito a Ele. (Leia 1Cor 2; Rm 8,5-17).

Destarte, “amai a justiça, vós que governais a terra, tende para com o Senhor sentimentos perfeitos, e procurai-o na simplicidade do coração, porque ele é encontrado pelos que o não tentam, e se revela aos que não lhe recusam sua confiança; com efeito, os pensamentos tortuosos afastam de Deus, e o seu poder, posto à prova, triunfa dos insensatos”. (Sab 1,1-3).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


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terça-feira, 24 de abril de 2012

AS INVOCAÇÕES DA LADAINHA DE NOSSA SENHORA (IV)


AS INVOCAÇÕES DA LADAINHA DE NOSSA SENHORA (IV)


Mãe do bom conselho

Conselho é um dom do Espírito Santo que nos auxilia a ver e a escolher corretamente, na prática, o melhor modo de servir a Deus neste mundo. Ora, diz a Sagrada Escritura, que a Mãe do Senhor, em vista do nascimento do seu Filho, recebeu em toda sua plenitude o Dom do Espírito Santo, (cf. Lc 1,35) e este nunca a deixou em nenhum momento de sua existência terrena, exatamente por Deus a ter feito Imaculada e Sua habitação por excelência; assim, Maria sempre teve consigo em plenitude esse dom do Espírito Santo e, desse modo, pode nos ensinar a vivê-Lo plenamente.

Existe um exemplo clássico no Evangelho de São João, do uso do dom do conselho pela Virgem Maria; quando, na falta de vinho, por ocasião das bodas de Caná da Galileia, ela orientou os servos no procedimento para sanar tal necessidade. A Virgem mãe intercedeu e orientou com o seu conselho, como os servos deveriam se aproximar de Jesus e obedecê-lo para que tudo ocorresse conforme a vontade de Deus, e assim se fez. De fato, o milagre aconteceu conforme o conselho e a intercessão da Virgem Mãe, e mais ainda, houve uma nova revelação, que foi antecipação da hora do Filho do Homem, como vimos no relato bíblico (cf. Jo 2,1-12). Por isso, peçamos à Mãe do Senhor que por sua intercessão e conselho, nos ajude no serviço de implantação do Reino de Deus e de sua justiça já aqui neste mundo.

Mãe do Criador

Deus enquanto Deus não tem princípio nem fim, Deus É. Todavia, Deus quis nascer como homem no seio da humanidade, sem deixar de Ser Deus, desse modo, o Mistério da Encarnação se constitui um dos maiores mistérios que a humanidade já conheceu e que o viverá por toda a eternidade. Ora, se Deus quis nascer como homem sem deixar de ser Deus, por Seu Filho Jesus Cristo, pela ação do Espírito Santo, é obvio que Deus escolheu para Si uma Mãe digna de Sua Divindade, e por isso, a criou sem pecado como Ele mesmo é. Desse modo, Maria, tornou-se a primeira criatura humana deificada por Deus Pai, para que seu Filho, Jesus Cristo, nascesse como homem.

Logo, como toda causa tem um efeito, a causa da humanidade de Jesus Cristo, é a geração pelo Espírito Santo no seio virginal de Maria, e o seu efeito é a deificação de nossa humanidade, por participação, a começar por ela mesma. Portanto, sem deixar de Ser Deus, Deus se fez homem e sem deixar de ser homens, agora, porém, revestidos de glória, Deus nos deificou em Seu Filho Jesus Cristo, nascido da Santíssima Virgem Maria. Grandíssimo é este Mistério do amor de Deus para conosco, especialmente para com a Virgem Mãe.

Mãe do Salvador

Frequentemente escutamos por parte dos protestantes, “só Deus salva, Maria não salva ninguém”. Mas, por que dizem isso? Dizem como forma de contestação, todavia, jamais a Igreja Católica nos dois milênios de sua existência, fez alguma afirmação que contrariasse essa premissa protestante. Na verdade, os protestantes é que julgam e condenam a Igreja como se ela fizesse alguma afirmação nesse sentido; talvez seja pelo fato de amarmos e venerarmos a Mãe de Jesus como nossa mãe ou, quem sabe, por glorificarmos a Deus por ter dado a Maria o privilégio único de ser a Mãe do Seu Filho Unigênito e senhora nossa, pois Seu Filho é Rei dos reis e Senhor dos senhores.

Porém, analisando a partir do acontecimento da encarnação do Verbo de Deus, vemos que jamais teríamos um salvador se Ele não tivesse nascido como homem do seio da Virgem Maria, como aconteceu segundo a vontade de Deus. Ora, esse é um fato consumado e ninguém muda esta vontade do Senhor, nem aqui nem na eternidade. Temos sim um Salvador, único Salvador, Jesus Cristo, e Ele é incontestavelmente, Filho de Deus e de Maria de Nazaré. Pode alguém negar ou contestar esta verdade? Não, ninguém o pode, porque se o fizer, estará incorrendo numa das mais terríveis heresias, exatamente por contestar o próprio Deus em Sua Palavra (cf. Lc 1, 26-38). Logo, a verdade não pode ser mudada, Maria é, de fato, Mãe do Único Salvador da humanidade.

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


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sábado, 21 de abril de 2012

CRÔNICA DE MINHA ALMA - INSEGURANÇA




Insegurança é a sensação que sentimos quando nos afastamos de Deus, porque só Ele nos mantém em plena posse da vida; e quando isso acontece, nos sentimos à mercê de nossas próprias forças ou daquilo em que confiamos como sustentáculo para o nosso viver. Assim, todo ser que não se segura em Deus, impreterivelmente é inseguro e de frágil constitucionalidade, apesar de manter a aparência de instabilidade em sua insegurança; pois, em nossa naturalidade, somos apenas um sopro de vida e nada além disso, pois é o que temos, e só o temos porque rebemos.

Obviamente, existem aqueles que se acham donos de tudo e capazes de tudo; e assim agem, enquanto têm tempo, saúde, juventude, dinheiro e todas as possibilidades que a vida natural nos dá. Mas, à primeira derrocada, sentem-se acuados e partem para o ataque como forma de autoproteção, como que, querendo dizer: sou capaz de me defender custe o que custar; é como se o instintivo nessa hora atingisse o ponto mais elevado de superação.

Todavia, temos que admitir, tudo tem fim, até aquilo que nos mantém seguros por nós mesmos. Pensando bem, ninguém consegue vencer sempre, por mais esperto que seja. Ora, isso é uma lição de vida que Deus nos dá, para que nenhuma criatura humana possa se ufanar e se achar superiora às demais, pois naturalmente somos dependentes uns dos outros; e reconhecer isto é o que nos faz ser profundamente solidários uns com os outros e capazes de todo o bem. Caso contrário, nos tornamos “repletos de toda espécie de malícia, perversidade, cobiça, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade”; aumentando, com isso, o abismo de insegurança que a falta de comunhão com Deus nos traz.

Então, o que é que nos faz sentir seguros interiormente e exteriormente diante dos homens, de nós mesmos e de Deus? Deus e somente Ele, pois é assim que nos ensina a Sagrada Escritura: “Já te foi dito, ó homem, o que convém, o que o Senhor reclama de ti: que pratiques a justiça, que ames a bondade, e que andes com humildade diante do teu Deus.” (Miq 6,8). E ainda: ”Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores. Feliz aquele que se compraz no serviço do Senhor e medita sua lei dia e noite. Ele é como a árvore plantada na margem das águas correntes: dá fruto na época própria, sua folhagem não murchará jamais. Tudo o que empreende, prospera”. (Sal 1,1-5).

De fato, a causa maior da insegurança humana é o pecado que consiste no desligamento de Deus; pois toda vez que o ser humano peca, sente isso imediatamente, tenha ele fé ou não, porque o pecado humano é um veneno infernal que lhe intoxica a alma tirando dela toda paz e felicidade. Quando pecamos nossa alma fica entorpecida e insensível para com Deus e tudo o que diz respeito à Ele, porém, terrivelmente inclinada para todo tipo de maldade e toda espécie de vícios, tornando-se profundamente indiferente, apática ou repleta de ironia; gerando-se nela uma espécie de tristeza mórbida que com o tempo se transforma em depressão ou outras doenças psicossomáticas como insônia, impaciência, angústia, solidão,fobias, etc.

Portanto, ninguém que vive em estado de pecado mortal (pecados contra os 10 mandamentos da Lei de Deus) é feliz ou sequer consegue aspirar essa graça, mesmo tendo no pecado alguma satisfação prófuga, isto é, passageira; porque a felicidade é fruto da comunhão com Deus, da satisfação em fazer a sua santa vontade; enquanto que o pecado mortal é uma ofensa grosseira e desligamento Dele, e, por isso mesmo, fonte de devassidão e do vazio existencial que leva o ser humano à infelicidade e à morte.

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


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quinta-feira, 19 de abril de 2012

VIVENDO NA PRESENÇA DO SENHOR FACE À FACE



VIVENDO NA PRESENÇA DO SENHOR FACE À FACE


Digamos que estivéssemos fisicamente frente à frente com Jesus de Nazaré, o Filho de Deus vivo; Senhor e redentor de toda a humanidade; olhar fixo no autor e consumador de nossa fé; diante daquele que é e que tem todo poder sobre do céu e sobre a terra. O que diríamos? Pois, é assim que estamos diante do Ressuscitado, nem é preciso usar da imaginação ou mesmo qualquer recurso de linguagem para se comprovar essa verdade, porque ela se comprova por ela mesma, todavia, de nossa parte, precisamos do auxílio da fé para que a vivamos. (cf. Hab 2,4; Jo 20,29).

O que nos leva a crê que o Filho de Deus, em sua condição de imortalidade, está sempre presente em nossa realidade? A percepção da alma absorta, mergulhada, tomada por este Grande Mistério de Sua Presença amorosa no meio de nós; digamos mais, a alma familiarizada com Aquele que a sustenta e a mantém calma, mesmo diante dos maiores perigos ou das tragédias desta vida. Ora, perceber assim o Filho de Deus é amá-lo, não só na Eucaristia, na Sagrada Escritura, em nossa oração ou em nosso coração; mas em tudo e a todo instante (cf. Col 3,17), num profundo intercâmbio entre o céu a terra; entre criatura e Criador, envolvidos em tamanho enlace de amor que nada se iguala ou se possa comparar a este.

Entretanto, como comprovar isto? É só fazer a experiência. Deus nos criou para convivermos com Ele, se não fosse assim, não nos teria criado, nem sequer existiríamos (cf. Gen 1,26-31; 2,21-25). Logo, em sua bondade nos adotou por seus filhos e filhas, dando-nos a mesma herança que deu a Jesus Cristo, Seu Filho amado; exatamente como testifica São Paulo na sua Carta aos Romanos: “Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba! Pai! O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo, contanto que soframos com ele, para que também com ele sejamos glorificados.” (Rom 8,15-17).

Então, como homens novos nascidos da água e do Espírito, é pelo Espírito que vivemos, não pela carne, esta intimidade com o Filho de Deus; porque nossa vida está escondida com Cristo em Deus, quando Cristo, nossa vida, aparecer, então, também nós apareceremos com Ele em sua glória. (cf. Gl 3,1-3)

Portanto, feitos à imagem do seu ser, temos pleno acesso aos tesouros de sua majestade, para comungarmos já aqui na terra das garças reservadas para os filhos e filhas de Deus no céu. Assim, viver face à Face com Cristo é gozar dessa familiaridade com Ele e entre nós, como verdadeira família de Deus, tendo na Virgem Maria a Mãe dessa santa família, da qual Deus é o Pai e nós todos somos seus  filhos e filhas, para Sua maior glória, amém!

Vem, Senhor Jesus, vem!

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


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terça-feira, 17 de abril de 2012

PENSA BEM Ó HOMEM...



PENSA BEM Ó HOMEM...


Pensa bem ó homem o que estás perdendo!
Deus agora está te concedendo todo tempo que tens para te converteres...
Isto é, para deixares o mal e praticares somente o bem que vem de Deus...
E se não te converteres, o que perderás?
Todo o bem que tinhas à tua disposição e não terás mais...

E por que não terás mais?
Porque todo o bem, não aparente, vem de Deus e somente Dele...
E à Ele livremente conduz...
Ora, se recusas este bem,
é porque escolhes o mal para tua vida pela prática indevida de teus atos...
Logo, não terás direito algum ao bem que vem de Deus,
por decidires contrariamente a este bem que Ele te dá a ser e viver...

Então, o que vai acontecer contigo eternamente,
se recusas, feito um demente, às graças que Deus te prodigalizou?
Terás somente os frutos de tua escolha maldita...
Porque nada mais terás além do que semeaste com os teus desatinos,
que te levarão ao destino dos insensatos,
cuja prática se baseia nas ofertas pervertidas do autor do pecado...

E o que é que o pecado te dar?
A morte, nada mais que a morte.
E com ela, tudo o que o inferno constitui...
Porque o inferno é o estado de alma destinado...
aos que se condenam pelo pecado mortal,
livremente decidido e praticado como se o pecado não fosse mal...

Existe algo mais terrível na vida que a falta da presença divina?
Se aqui, mesmo com os homens pecando, ainda temos chances de conversão,
é porque Deus não tirou a sua mão que nos protege noite e dia...
Caso contrário, ninguém mais existiria para fazer e contar história...
Mas, infelizmente, os homens estão destruindo este mundo que Deus criou por amor...
E por causa disso, vemos todo tipo de aberração que se nos deixa estupefatos...
Dada à maldade dos insensatos que tem dissipado tantas vítimas inocentes...

Mas, os inocentes, exatamente porque são inocentes...
Viverão livremente no Reino que Deus lhes preparou,
como herança eterna em seu amor,
por sofrerem nas mãos dos perversos,
daqueles serviram ao demônio neste mundo...
Apesar dos alertas do Senhor (cf. Mc 1,15;Mt 3,2)
para que se convertessem das más práticas...
E obtivessem assim o perdão e a graça da salvação eterna...

No entanto, eis o que pensam os ímpios, obter vantagens sobre tudo,
mesmo às custas da violação dos direitos fundamentais da pessoa humana...
“Mas, enganam-se, sua malícia os cega:
eles desconhecem os segredos de Deus,
não esperam que a santidade seja recompensada,
e não acreditam na glorificação das almas puras”.

“Ora, Deus criou o homem para a imortalidade,
e o fez à imagem de sua própria natureza.
É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo,
e os que pertencem ao demônio prová-la-ão.
“Porque, (a morte), os ímpios a chamam com o gesto e a voz.
Crendo-a amiga, consomem-se de desejos,
e fazem aliança com ela;
de fato, eles merecem ser sua presa”. (Sab 2, 21-24;1,16).

“Mas as almas dos justos estão na mão de Deus,
e nenhum tormento os tocará.
Aparentemente estão mortos aos olhos dos insensatos:
seu desenlace é julgado como uma desgraça.
E sua morte como uma destruição,
quando na verdade estão na paz!” (Sab 3,1-3).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


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segunda-feira, 16 de abril de 2012

NOSSA PÁSCOA ESPIRITUAL



NOSSA PÁSCOA ESPIRITUAL

A Páscoa que celebramos é a causa da salvação de todo o gênero humano, a começar pelo primeiro ser humano, que é salvo e vivificado em cada um de nós. Mas a salvação foi preparada por diversas instituições, imperfeitas e provisórias, que eram símbolos e imagens das coisas perfeitas e eternas, para anunciarem em esboço a realidade que surge atualmente à plena luz da verdade. Contudo, uma vez que essa verdadeira realidade se tornou presente, a figura deixa de ter sentido. Quando chega o rei, ninguém irá homenagear sua estátua, deixando de lado a pessoa do próprio rei.

Assim se vê claramente em que medida a figura é inferior à realidade verdadeira, pois a figura representa a vida breve dos primogênitos dos judeus, ao passo que a realidade celebra a vida eterna de todos os seres humanos. Não é grande coisa alguém livrar-se da morte por algum tempo, se pouco depois terá de morrer. O que é admirável é evitar a morte de uma vez para sempre, como aconteceu conosco por meio de Cristo, que foi imolado como nosso cordeiro pascal.

O próprio nome da festa, se compreendermos o seu verdadeiro significado, nos sugere a sua peculiar excelência. Páscoa, com efeito, significa “passagem”, pois o anjo exterminador, que feria de morte os primogênitos dos egípcios, passava adiante, sem entrar nas casas dos hebreus. Todavia, em relação a nós, a passagem do exterminador é um fato, porque passou realmente sem nos tocar, a nós que por Cristo ressuscitamos para a vida eterna.

E o que significa, em seu sentido místico, o fato de se determinar como início do ano, o tempo em que se celebrava a Páscoa e a salvação dos primogênitos? Significa que também para nós o sacrifício da verdadeira Páscoa constitui o início da vida eterna.

Na verdade, o ano é símbolo da eternidade. Sendo a sua órbita circular, o ano gira continuamente sobre ela sem nunca parar. Mas Cristo, pai do mundo novo, oferecendo-se por nós em sacrifício, como que anulou a nossa existência anterior, proporcionando-nos, pelo batismo do novo nascimento, o começo de uma outra vida, à semelhança da sua morte e ressurreição.

Por conseguinte, quem tiver consciência de que a Páscoa foi imolada em seu benefício, deve aceitar como início de sua vida o momento em que Cristo se imolou por ele. Ora, tal imolação atualiza-se em cada um, quando reconhece essa graça e compreende que vida lhe foi dada por esse sacrifício. Quem chegou a este conhecimento, esforce-se por aceitar o começo da vida nova, sem pretender voltar à vida antiga que foi ultrapassada. De fato, se já morremos para o pecado, pergunta o Apóstolo, como vamos continuar vivendo nele? (Rm6,2).

Paz e Bem!

Fonte: Da Homilia pascal de um Autor antigo - (PG59,723-724) – Liturgia das Horas.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

POR QUE PARECE QUE TUDO DÁ ERRADO NESTE MUNDO?






Porque para muitos, Deus parece distante de tudo o que há; assim como para os “entendidos” deste mundo, Ele é o grande ausente daqui ou talvez viva em outro mundo, pouco se importando com o que somos e vivemos; por isso, não lhe dão a devida atenção ou mesmo crença. E assim, formulam teorias, patifarias, falsas religiões, vãs filosofias, cultos satânicos, músicas de igual modo diabólicas, modismos exacerbados, regras e costumes esdrúxulos e toda espécie de deformação de caráter e bons costumes. E o que vemos nesse mundo sem Deus? Miséria, decadência, indiferentismo, vícios e mais vícios e tudo o que beira ao ridículo, nada mais.

Mas será que Deus é do jeito que pensam Ele? O que é se sentir notado por Deus ou mesmo protegido por Ele? Ou, ainda, qual é a atenção que se lhe damos?

Porque, de fato, vivemos em meio a esse mundo físico como se tudo dependesse ou dependa somente de nossas decisões, sejam elas certas ou erradas, para ele ser o que é; e até nos comportamos como se não houvesse nenhuma ligação entre nosso mundo físico e o metafísico que o sustenta. E com isso, perdemos o élan vital, nossa Fonte Primeira, nosso elo sagrado; para vivermos a partir do instintivo racional, como se não tivéssemos alma imortal ou como se a vida se resumisse somente à realidade que vivemos no tempo.

Ora, para respondermos às perguntas formuladas acima, temos que fazer a experiência de ressurreição com Cristo Jesus (cf. Col 3,1-17); caso contrário, permanecemos na morte e, com isso, fazemos apenas a experiência do pecado de não crê em Deus e de não interagirmos com Ele neste mundo; pois, ninguém está mais presente e atuante na obra da criação do que o próprio Criador, haja vista as leis físicas e divinas que nos regem. Assim, queiram os homens ou não, tudo o que contraria estas leis, resulta em pesados danos, tanto para as criaturas racionais quanto para as irracionais e também para todo nosso habitat natural.

Logo, os homens que agem como se Deus não existisse, se perdem nas mais terríveis confusões, porque tudo o que empreendem, o fazem baseados em interesses materiais, visando um conforto ou uma vida melhor apenas para si e os seus; e não para o bem de todos. Desse modo, tomam decisões políticas, jurídicas, comerciais ou mesmo pessoais, profundamente tendenciosas e egoístas; isto porque os seus interesses falam mais alto do que as necessidades gritantes presente em nossa sociedade como um todo.

E assim fazem imperar a injustiça, a opressão, a corrupção, a violência e todas as mazelas que têm feito deste mundo um inferno. Porque o ser humano sem a presença de Deus em sua vida, se comporta como se fosse um demônio, visto que, não leva em conta o devir, mas apenas o ser e estar no mundo. Ora, o homem sem a esperança do devir não consegue construir um mundo novo a partir da fé em Deus e de sua comunhão com Ele, porque vive desligado Dele devido às atitudes contrárias às suas leis e mandamentos.

Portanto, quando nos sentimos notados e protegidos por Deus é porque damos a devida atenção às suas leis e nos deixamos conduzir por elas que nos levam à plenitude da comunhão como Ele, que nos redimiu para vivermos neste mundo como seus filhos e filhas, ou seja, portadores do Dom do Espírito Santo, para fazermos o bem e somente o bem que nos identifica, por meio da obediência, com o Seu Filho, Jesus Cristo, que se deu por nós, isto é, que morreu e ressuscitou para vivermos como homens e mulheres que servem a Deus dia e noite neste mundo.

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

***
“Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso culto espiritual. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito”. (Rom 12,1-2).
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quinta-feira, 12 de abril de 2012

O SENHOR NOS CONHECE POR DENTRO...TUDO JÁ ESTÁ DETERMINADO EM SEU AMOR...


O SENHOR NOS CONHECE POR DENTRO...TUDO JÁ ESTÁ DETERMINADO EM SEU AMOR...

São Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja
Sermão 31, oitavo sobre a ressurreição do Senhor

«Tocai-Me e olhai»

Depois da ressurreição, como o Senhor entrou com todas as portas fechadas (cf. Jo 20,19), os discípulos não acreditavam que Ele tivesse reencontrado a realidade do Seu corpo: supunham que apenas a Sua alma tivesse vindo, sob uma aparência corporal, como as imagens que aparecem àqueles que sonham durante o sono. «Eles julgavam ver um espírito». [...]

«Porque estais perturbados e porque surgem tais dúvidas nos vossos corações? Vede as Minhas mãos e os Meus pés». Vede, quer dizer: prestai atenção. Porquê? Porque não é um sonho que estais a ter. Vede as Minhas mãos e os Meus pés porque, com os vossos olhos acabrunhados, não podeis, ainda, contemplar o Meu rosto. Vede as feridas da Minha carne, uma vez que ainda não conseguis ver as obras de Deus.

Contemplai as marcas feitas pelos Meus inimigos, uma vez que ainda não vedes as manifestações de Deus. Tocai-Me para que a vossas mãos vos deem a prova, visto os vossos olhos estarem cegos a esse ponto. [...] Descobri os buracos nas Minhas mãos, analisai o Meu lado, reabri as Minhas feridas, pois não posso recusar aos Meus discípulos, tendo em vista a fé, o que não recusei aos Meus inimigos no suplício. Tocai, tocai [...], buscai até aos ossos, para confirmar a realidade da carne e que estas feridas, ainda abertas, atestem que sou mesmo Eu [...]

Porque não acreditais que ressuscitei, Eu que fiz reviver vários mortos à vossa vista? [...] Quando estava suspenso na cruz, insultavam-Me dizendo: «Tu, que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-Te a Ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz e acreditaremos!» (cf. Mt 27,40). O que é mais difícil: descer da cruz, arrancando os pregos, ou subir dos infernos, calcando a morte sob os Meus pés? Eis que Me salvei a Mim mesmo e, destruindo as cadeias do inferno, subi para o mundo do alto.

Paz e Bem!

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quarta-feira, 11 de abril de 2012

A PROPÓSITO DA ENENCEFALIA



A PRÓPOSITO DA ANENCEFALIA

DR. CLAÚDIO FONTELES

Motiva-me ao presente escrito, o parecer da Dra. Deborah Macedo Duprat de Britto Pereira sobre o tema encaminhado ao Supremo Tribunal Federal.

A idéia central está em que: “A maior parte dos fetos anencéfalos morre durante a gestação. Aqueles que não falecem durante a gravidez têm curtíssima sobrevida, de natureza meramente vegetativa, em geral de poucos minutos, ou horas.” ( parecer: item 22).

Eis raciocínio totalmente inconciliável com o princípio constitucional da inviolabilidade da vida humana ( art. 5º, caput).

Com efeito, ser a vida humana inviolável, direito pessoal individualmente garantido, conduz-nos à necessária conclusão de que o tempo de duração da vida humana – se 3 segundos, 3 minutos, 3 horas, 3 dias, 3 semanas, 3 meses, 3 anos… – não é fator decisivo para a sua eliminação consentida.

À vida humana, gestada ou nascida, garante-se sua inviolabilidade, impedindo-se sua morte, insisto, por simples projeção do decurso temporal.

O juízo, sempre temerário, sobre o tempo de duração da vida humana não chancela seja liquidada. Assim viola-se, arbitrariamente, o que a Constituição federal quer inviolável.

Diz, passo adiante, a Dra. Deborah: “34. O reconhecimento da dignidade da pessoa humana pressupõe que se respeite a esfera de autodeterminação de cada mulher ou homem, que tem o poder de tomar decisões fundamentais sobre suas próprias vidas e de se comportarem de acordo com elas, sem interferências do Estado ou de terceiros.”

Est modus in rebus.

O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana não é o apanágio do individualismo, do egocentrismo, da absoluta supremacia do eu, como o texto reproduzido indica.

O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana se resguarda a autodeterminação de cada mulher e de cada homem, até porque nós todos, mulheres e homens, desde a concepção somos em contínuo e incessante auto-movimento nos ciclos que compõem a nossa vida, necessariamente embrionário, a que se inicie, e depois fetal, recém-nascido, criança, jovem, adulto e velho, se nos é dado viver todos os ciclos, tanto resguarda não para que nos enclausuremos, repito, na solidão egocêntrica, eis que somos seres vocacionados, porque também ínsita em nossa dimensão, a sociabilidade, portanto o princípio da dignidade da pessoa humana promove-a como ser social, e disso é expressão eloquente o artigo 3º, inciso I, da Constituição Federal a preceituar que: Art. 3º – “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade justa, livre e solidária”.

Portanto, se vida há que se auto-movimenta no corpo materno, com ou sem deformações, mas se auto-movimenta, e vive, então como matá-la, por perspectiva meramente cronológica de sua existência?

Tal morte conduz-nos ao primado do egocentrismo, entortando a compreensão jurídica do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, que não se compraz com a absolutização do arbítrio.

Diz, ainda, a Dra. Deborah: “É dentro do corpo das mulheres que os fetos são gestados, e, mesmo com todas as mudanças que o mundo contemporâneo tem vivenciado, é ainda sobre as mães que recai o maior peso na criação dos filhos,” ( item 36 do parecer ).

O argumento não deixa de estampar discriminação.

O homem, o pai, não mencionado, não conta.

Decisão sobre a manutenção da gestação não envolve, tout court, a ideia de autonomia reprodutiva só pertinente à mulher-mãe, como expressão, no dizer da Dra. Deborah, dos “direitos fundamentais à liberdade e à privacidade”.

Pelo fato, óbvio, dos fetos serem gestados “dentro do corpo da mulher” não se pode absolutizar, na mulher, o juízo, único e exclusivo, sobre a permanência da gestação, descartada a manifestação de vontade do homem-pai.

Tal ilação é tão absurda quanto o é a ideia de Ronald Dworkin, que a Dra. Deborah reproduz nesses termos: “… uma mulher que seja forçada pela sua comunidade a carregar um feto que ela não deseja não tem mais o controle sobre seu próprio corpo. Ele lhe foi retirado para objetivos que ela não compartilha. Isto é uma escravidão parcial, uma privação de liberdade.” ( transcrição no parecer, no item 38 ).

“Escravidão parcial” é tão inapropriada, porque ou se é escravo, ou se é livre, não existe o meio-escravo, quanto inapropriado é matar a vida que se auto-movimenta e se auto-desenvolve no ventre materno, que a acolhe, pela liberdade pontual e arbitrária da mulher-mãe em desacolhê-la.

Afirma a Dra. Deborah: “Entendo que a ordem constitucional também proporciona proteção à vida potencial do feto – embora não tão intensa quanto a tutela da vida após o nascimento – que deve ser ponderada com os direitos humanos das gestantes para o correto equacionamento das questões complexas que envolvem o aborto.” ( item 41 do parecer ).

Com todo o respeito, o princípio da dignidade da pessoa humana, assim como o da inviolabilidade da vida humana, ambos contemplam a vida e a pessoa humanas em todos os seus ciclos, desde o momento-embrião até o momento-ancião, se os ciclos cumprem-se normalmente, como já o disse antes, não fazendo o menor sentido atribuir-se  a tal, ou qual, ciclo maior, ou menor, proteção constitucional.

Não existe meia-vida como não existe meia-gravidez…

Portanto, falar-se em “tutela progressiva” da vida humana é percorrer argumentação cabalmente despropositada.

A Dra. Deborah conforta-se, nessa linha de argumentação, a dizer que: “Contudo, quando não há qualquer possibilidade de vida extra-uterina, como ocorre na anencefalia, nada justifica do ponto de vista dos interesses constitucionais envolvidos, uma restrição tão intensa ao direito à liberdade e à autonomia reprodutiva da mulher.” ( item 42 do parecer ).

Aqui, tem-se diante petição de princípio, inadequada ao debate jurídico, que pede a exposição concatenada de concretos fundamentos ao amplo exame da controvérsia, do mesmo modo que em nova petição de princípio a Dra. Deborah sentencia que: “Nas audiências públicas realizadas nesta ação foi devidamente esclarecido o fato de que a menina Marcela de Jesus, que teria supostamente sobrevivido por um ano e oito meses com anencefalia não tinha na verdade esta patologia, ao contrário do que afirmaram os opositores da interrupção voluntária da gravidez, mas outra má-formação cerebral menos severa, ainda que também de caráter fatal” ( item 23 do parecer ).

Ora, e com todo o respeito à Dra. Deborah, Marcela de Jesus, é fato certo, inequívoco, e não “supostamente”. Viveu mesmo 1 ano e 8 meses, e sua morte não decorreu da anencefalia. Quais as razões apresentadas na audiência pública a dizer que o quadro de Marcela não era de anencefalia? O parecer da Dra. Deborah é omisso, e nada demonstra, como deveria, no tópico. E, como mesmo diz a Dra. Deborah, se essa “má-formação cerebral menos severa, ainda que também de caráter fatal” acontece, então havemos de concluir que o aborto, ou a antecipação terapêutica do parto, como se queira eufemisticamente chamar, também, assim, é chancelado em homenagem à dignidade da pessoa da mulher-mãe…

Por derradeiro, a Dra. Deborah afirma que: “Por outro lado, também ficou patenteado nos autos que inexiste possibilidade real de transplante dos órgãos dos fetos anencéfalos para terceiros, uma vez que há, com grande freqüência, outras malformações associadas à anencefalia” ( item 24 do parecer ).

Todavia, a Portaria nº 487, de 2 de março de 2007, do Ministério da Saúde, dispõe exclusivamente “sobre a remoção de órgãos e/ou tecidos do neonato anencéfalo para fins de transplante ou tratamento” e, em seu artigo 1º é textual no assentar que: “A retirada de órgãos e/ou tecidos de neonato anencéfalo para fins de transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de parada cardíaca.”

Como manter-se a afirmação da Dra. Deborah de que “inexiste possibilidade real de transplante de órgãos dos fetos anencéfalos”?

Na verdade, e sempre com o respeito merecido, a argumentação da Dra. Deborah, e de todos os que querem legalizar a morte do feto, ou do bebê, anencéfalo não tem base jurídica.

A Constituição brasileira de 1988, significando a resposta democrática ao sombrio período do arbítrio e do menosprezo à vida humana, foi enfática e textual – e assim aqui torno a mencionar o artigo 1º, inciso III – no marcar para todas e todos, brasileiras e brasileiros, estrangeiras e estrangeiros, que aqui vivam, como objetivo fundamental da República federativa, a diuturna construção de sociedade justa, livre e solidária.

Aqui, tenho por caracterizado o que o professor associado de instituições de direito público da Universidade de Milão-Biccoca, Filippo Pizzolato, denomina de personalismo constitucional, que nada tem a ver com o protagonismo do ser individual. Conheçamos o que diz o professor Pizzolato:

“Do modelo individualista, que nossos constituintes refutam numa versão ideal-típica, parece se contestar a própria matriz, cuja origem pode facilmente ser encontrada no direito natural iluminista e no contratualismo liberal a ele correlacionado ( de Hobbes, Locke, Rousseau, entre outros). O pressuposto cultural e antropológico dessa tradição iluminista pode remontar, porém, ao cogito cartesiano, quer dizer, à idéia de autopercepção do sujeito como indivíduo, alguém que constrói para si uma identidade prescindindo dos outros e de um tecido de relações. Por trás de tudo isso, portanto, está a idéia de indivíduo, anteriormente desconhecida, como entidade originária, enquanto tal titular de um feixe de direitos naturais cuja consistência precede a própria idéia de sociedade. Nessa perspectiva, a sociedade é apenas o fruto posterior e eventual de um livre ato de vontade ( um contrato ) estipulado entre indivíduos, todos livres, independentes e iguais. Os direitos naturais gozam, assim, de uma fundamentação autônoma, completamente racionalista e abstrata e, enquanto tal, logicamente anterior ao próprio fenômeno jurídico, que, por sua vez, é propriamente social e, por conseguinte, voluntarista. Por mais paradoxal que possa parecer, na teoria do direito natural individualista, os direitos ( naturais ) vêm antes da sociedade e, assim, assumem uma vocação absolutista, com pequena tolerância para as necessárias limitações ou mediações que as relações sociais tornam inevitáveis.” ( in – O Princípio Esquecido – coletânea de artigos organizada por  Antônio Maria Baggio – editora Cidade Nova – pg. 116-17- no artigo: A fraternidade no ordenamento jurídico italiano de autoria do citado Prof. Filippo Pizzolato).

O personalismo constitucional, por sua vez, sustenta que: “ Pertencer a uma comunidade é constitutivo e estrutural da identidade humana, não um dado acessório ou opção eventual voluntarista” ( artigo citado – pg. 118 ) porque “ … antes do indivíduo existe necessariamente uma comunidade, entendida como rede de relacionamentos, tecido de relações, quadro de solidariedade que sustenta o próprio indivíduo e permite o seu desenvolvimento,” ( ainda: pg. 118 ).

E arremata o prof. Pizzolato:

“Essa dimensão horizontal da solidariedade, já reconhecida, em que a fraternidade encontra um espaço destacado, não pode ser reduzida ao cânon, tipicamente liberal, do não prejudicar aos outros, mas encaminha e orienta o próprio exercício da liberdade, seguindo o mandato bem mais vinculativo do faça o bem ao outro ( … porque é também o seu).” ( pg. 120 ).

Nessas colocações, reconhecido fica o pensamento do filósofo Emmanuel Mounier, assim tão eloqüente:

“Trato o outro como um objeto quando o trato como ausente, como um repertório de informações, que me podem ser úteis  (G. Marcel ) ou como instrumento à minha disposição; quando o classifico definitivamente, isto é, para empregarmos exata expressão, quando desespero dele. Tratá-lo como sujeito, como ser presente, é reconhecer que não o posso definir, nem classificar, que ele é inesgotável, pleno de esperanças, esperanças de que só ele dispõe; é acreditar. Desesperar de alguém é desesperá-lo… O ato de amor é a mais forte certeza do homem, o cogito existencial irrefutável: amo, logo o ser é, e a vida vale ( a pena ser vivida). ( in- O Personalismo, pg. 48-9 , Centauro editora.).

O bebê anencéfalo ser é.

Dr. Cláudio Fonteles

Fonte: Canção Nova (11/4/2012)

terça-feira, 10 de abril de 2012

A RESSURREIÇÃO DE JESUS É O PODER DE DEUS, PARA ALÉM DE NOSSA FÉ, É UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA DIVINA



A RESSURREIÇÃO DE JESUS É O PODER DE DEUS EM AÇÃO, PARA DE NOSSA FÉ, É UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA DIVINA

São Máximo de Turim (? – c. 420), bispo - Sermão 39 a 

«Vai ter com os Meus irmãos e diz-lhes: 'Subo para o Meu Pai, que é vosso Pai'» 

Depois da Ressurreição, Maria Madalena, imaginando-O prisioneiro da terra, vai ao sepulcro à procura do Senhor, esquecida da Sua promessa de regressar dos mortos ao terceiro dia. [...] A sua fé humilde mas ignorante leva-a a procurar aquilo que não sabe e a esquecer aquilo que aprendeu; está pronta para a adoração mas a sua fé é ainda imperfeita. Está mais preocupada com as feridas que o Senhor sofreu na Sua carne do que com a glória da Sua Ressurreição. Chora porque ama a Cristo e aflige-se por não encontrar o Seu corpo, pois imagina morto Aquele que já reinava. [...]

Assim, à bem-aventurada Madalena foi feita a censura de demorar a crer (Lc 24,5ss), pois tarde havia reconhecido o Senhor. Por isso lhe diz o Salvador: «Não me detenhas, pois ainda não subi para o Pai» [...], ou seja, porque queres tocar-Me, tu, que ao procurar-Me por entre os túmulos, não crês que Eu tenha subido para junto do Pai, tu, que ao procurar-Me nos infernos, duvidas de que Eu tenha regressado ao Céu, tu, que ao procurar-Me entre os mortos, não esperas ver-Me vivo à direita do Pai? E por isso lhe diz: «Ainda não subi para o Pai», quer dizer, para ti ainda não subiu para o Pai Aquele que a tua fé ainda retém no sepulcro. [...]

Por isso, quem quiser tocar o Senhor deve de antemão, na sua fé, colocá-Lo à direita de Deus, e o seu coração, em vez de O procurar entre os mortos, deve tê-Lo no Céu, uma vez que o Senhor subiu para o Pai e está sempre com o Pai: «o Verbo estava em Deus,
 e o Verbo era Deus» (Jo 1,1). São Paulo ensina-nos como procurar o Salvador no Céu, ao dizer: «procurai as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus» (Cl 3,1); e, para que não façamos como Maria Madalena, acrescenta: «aspirai às coisas do alto e não às coisas da terra» (Cl 3,2). Assim, se quisermos encontrar o Salvador e tocá-Lo, não é nem na terra nem debaixo dela, segundo a carne, que devemos indagar por Ele, mas na glória da divina majestade. 

Paz e Bem!

©Evangelizo.org 2001-2012

sábado, 7 de abril de 2012

O QUE ESTÁ ACONTECENDO HOJE?



O QUE ESTÁ ACONTECENDO HOJE?


A descida do Senhor à mansão dos mortos

Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos. Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão  ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa.  Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E  com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.  Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e aos  que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos  mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.

Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de  escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado  debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre  os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado.

Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, tua beleza  corrompida. Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o  peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso.

Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.

Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso, mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.

Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”.

Paz e Bem!

Fonte: De uma antiga Homilia no grande Sábado Santo - (PG43,439.451.462-463) (Séc.IV).

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