VEM SENHOR JESUS!

"Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não incorre na condenação, mas passou da morte para a vida". (Jo 5,24).

SEJAM BEM VINDOS À ESSA PORTA ESTREITA DA SALVAÇÃO

"Uma só coisa peço ao Senhor e a peço incessantemente: é habitar na casa do Senhor todos os dias de minha vida, para admirar aí a beleza do Senhor e contemplar o seu santuário". (Sl 26,4).

segunda-feira, 29 de julho de 2024

SIM SENHOR, NÓS CREMOS NA VIDA ETERNA...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Jo 11,19-27)(29/7/24).

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1. Caríssimos, a Igreja hoje celebra a memória de três grandes amigos de Jesus: Marta, Lazaro e Maria, e nada mais desafiador do que acreditar na Palavra do Senhor que se realiza ao ser pronunciada com o poder que lhe é próprio, mas a partir da profissão de fé de Marta: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas mesmo assim, eu sei que o que pedires a Deus, ele te concederá”. (Jo 11,21-22).
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2. Com efeito, nós usamos a palavra para tantas coisas e muitas vezes em prol dos nossos interesses; ao contrário, o Senhor Jesus a usa para criar, libertar e salvar, porque nos ama e pelo poder da sua Palavra o demonstra. 

3. E por isso, respondeu a Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês isto?” (Jo 11,25-26). Ou seja, a fé é adesão total para muito além do que nosso entendimento racional crê conforme a lei natural.
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4. Decerto, essa mesma pergunta o Senhor Jesus nos faz principalmente quando passamos por algum momento difícil como esse de Marta que na sua dor respondeu: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo”. (Jo 11,27).
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5. Ora, quanta convicção, quanto amor, quanta confiança depositada na Palavra do seu Divino Mestre. Peçamos ao Senhor Jesus uma fé semelhante a de Marta que vê acontecer o impossível ao poder humano, mas não ao Seu Poder Divino. De fato, quando nas nossas dores recorremos ao Senhor é porque temos nele todas as graças que Ele dispõe a nosso favor. 
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6. Portanto, caríssimos, crer desse modo, é amar a Deus, é fazer a sua vontade como nos ensinou são João: "E nós conhecemos o amor que Deus tem para co­nosco, e acreditamos nele. Deus é amor: quem permanece no amor, permanece com Deus, e Deus permanece com ele." (1Jo 4,16).
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7. Destarte, a vida natural é tão curta se comparada com a vida eterna que temos pela frente; então, em vista disso, vivamos cada momento da nossa existência em perfeita comunhão com o Senhor Jesus que por seu infinito amor quis permanecer conosco para nos levar consigo ao Reino dos Céus.
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8. Comentando este Eva disse o Papa Bento XVI: "A morte do corpo é um sono do qual Deus pode nos despertar a qualquer momento. Esse senhorio sobre a morte não impediu que Jesus sentisse compaixão sincera pela dor da separação. Ao ver Marta e Maria chorando e aqueles que tinham vindo consolá-las, Jesus também "ficou profundamente comovido" e "desatou a chorar" (Jo 11,33,35). 
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9. O coração de Cristo é divino-humano: Nele, Deus e o homem se encontraram perfeitamente, sem separação e sem confusão. Ele é a imagem, de fato, a encarnação do Deus que é amor, misericórdia, ternura paterna e materna, do Deus que é Vida. 

10. Por isso, declarou solenemente a Marta: "Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, mesmo que morra, viverá; quem vive e crê em mim não morrerá eternamente". E acrescentou: "Crês isto?" (Jo 11:25-26). Uma pergunta que Jesus dirige a cada um de nós; uma pergunta que certamente nos ultrapassa, ultrapassa nossa capacidade de compreensão, e nos pede para confiarmos Nele, como Ele se confiou ao Pai. 

11. Exemplar é a resposta de Marta: "Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo". (Jo 11,27). Sim, Senhor! Nós também acreditamos, apesar de nossas dúvidas e de nossa escuridão; acreditamos em Ti, porque tens palavras de vida eterna; acreditamos em Ti, que nos dás uma esperança confiável de vida além da vida, de vida autêntica e plena em Teu Reino de luz e paz."
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Paz e Bem!

Frei Fernando Maria OFMConv.

domingo, 28 de julho de 2024

Contemplando o milagre de cada dia...


 Homilia do 17°Dom do Tempo Comum (Jo 6,1-15)(24/04/20)

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1. Caríssimos, em nosso dia a dia nos acostumamos com as leis naturais, e tudo o que foge às suas regras tendemos admirar ou então à desprezar; porém, isso depende da nossa disposição interior. Com efeito, a liturgia de hoje nos mostra que o modo de Deus agir no mais das vezes, diverge do nosso modo de entender (cf. Is 55,7-11), mas isso acontece sempre em vista da nossa salvação, porque que Ele nos criou e conhece muito bem as nossas necessidades.
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2. No Evangelho de hoje, o Senhor Jesus transpõe a lei natural multiplicando cinco pães e dois peixes para mais de cinco mil pessoas com direito à sobras. Ora, alguns teólogos argumentam que Jesus apenas fomentou o gesto de partilha e assim todos se uniram a Ele. 
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3. Todavia, mesmo que isso tenha acontecido não resta dúvida de que a ação do Espírito Santo nos corações dos que ali estavam, foi fundamental para que o milagre se realizasse. De fato, onde o Senhor Jesus se faz presente tudo acontece conforme a vontade do Pai. 
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4. Então, ponhamos em prática a inspiração do Espírito Santo como nos ensinou são Paulo: "Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos. Cada qual tenha em vista não os seus próprios interesses, e sim os dos outros. Dedicai-vos mutuamente a estima que se deve em Cristo Jesus." (Fil 2,3-5).
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5. Decerto, não existe limites para as graças de Deus realizar-se, basta fazermos a sua vontade para que a sua Divina Providência entre em ação realizando o seu querer e o seu agir sagrado suprimindo todas as nossas necessidades, tal qual nos ensinou o Senhor: "Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo." (Mt 6,33).
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6. Comentando este Evangelho disse Santo Agostinho: "Os milagres realizados por Nosso Senhor Jesus Cristo são obras verdadeiramente divinas, que dispõem a inteligência humana para conhecer a Deus a partir do que é visível, pois os nossos olhos são incapazes de O ver, em consequência da sua natureza divina. 
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7. Com efeito, os milagres que Deus opera para governar o Universo e organizar toda a sua criação, à força de se repetirem, perderam o seu valor e quase ninguém se dá ao trabalho de reparar que obra maravilhosa e surpreendente Ele opera numa sementinha qualquer.
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8. É por isso que, na sua benevolência, Ele Se reserva a possibilidade de realizar, no momento escolhido, algumas ações fora do curso normal das coisas. É que aqueles que menosprezam as maravilhas de todos os dias ficam estupefatos à vista de obras que saem do normal e nem reparam nas outras. 
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9. Na verdade, governar o Universo é um milagre maior do que saciar cinco mil homens com cinco pães! E contudo ninguém se espanta com isso. Com efeito, quem alimenta ainda hoje o Universo senão Aquele que cria grandes searas a partir de umas poucas sementinhas?
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10. Cristo age, pois, em Deus. É pelo seu poder divino que faz sair abundantes colheitas de um pequeno número de sementes, e foi por esse mesmo poder que multiplicou os cinco pães. As mãos de Cristo estavam cheias de poder. Esses cinco pães eram como que sementes, que, mesmo não tendo sido lançadas à terra, foram multiplicadas por Aquele que fez o céu e a terra."
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(Santo Agostinho (354-430), doutor da Igreja - Comentário sobre o evangelho de João) 
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

sábado, 27 de julho de 2024

Cuidado com o zelo excessivo...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 13,24-30)(27/7/24).

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1. Caríssimos, quando nos deixamos levar pelas tentações, ofendemos o Senhor, com os nossos pecados; e mesmo Ele nos ensinando o caminho da obediência e do amor para permanecermos fiéis até fim; às vezes não o escutamos ou o menosprezamos por conta da indiferença que toma conta daz nossas almas.
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2. Ora, isso ocorre quando perdemos o poder do livre arbítrio para o inimigo que se apodera dele tentando nos separar totalmente do amor de Deus e das graças que nos concede para sermos santos como Ele é Santo. Ou seja, nós pertencemos somente a Deus, mas, se fazermos pouco caso dessa pertença perderemos seu auxilio e proteção.
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3. Por isso, é preciso reforçar em nós o amor e a fidelidade com que praticamos a nossa fé, evitando com isso todo tipo de incoerência que nos leva ao relativismo e à perdição eterna. Isto porque a incoerência é morte para a alma, visto que a alimenta com o veneno da impiedade, da indiferença e da mediocridade que a mantém na letargia espiritual não lhe permitindo o arrependamento sincero e a conversão.
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4. Toda pessoa incoerente vive se justificando sempre e por isso nunca encontra o Senhor senão para contradizê-lo com a incoerência com que se apresenta diante dele. Pois, a incoerência nada mais é do que a falsa prática da fé.
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5. Com efeito, o verdadeiro senso de piedade nasce da humildade com que vivemos diante do Senhor; pois eis o que Ele diz por meio do Profeta Miquéias: "Já te foi dito, ó homem, o que convém, o que o Senhor reclama de ti: que pratiques a justiça, que ames a bondade, e que andes com humildade diante do teu Deus." (Miq 6,8).
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6. De fato, São Paulo também nos ensinou esta verdade: "Vivei em boa harmonia uns com os outros. Não vos deixeis levar pelo gosto das grandezas; afeiçoai-vos com as coisa modestas. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos." Pois, "Quem pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo." (Gl 6,3). Desse modo, façamos da prática de nossa fé um verdadeiro encontro com Cristo, o Filho de Deus vivo, para o seguirmos dando frutos de salvação. 
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7. Com efeito, a Parábola do trigo e do joio é um exemplo excelente em que o Senhor Jesus nos revela o atual estado em que se encontra o mundo em que vivemos. Como na Parábola, o trigo permaneceu firme até a colheita, mesmo sendo acossado pelo joio; todavia, com destinos diferentes, enquanto o trigo é recolhido ao celeiro do Senhor; o joio é lançado no fogo eterno para a sua total extinção. 
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8. Portanto, caríssimos: "Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus: tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para plantar, e tempo para colher o que foi plantado." (Ecle 3,1-2). "Por isso, não julgueis antes do tempo; esperai que venha o Senhor. Ele porá às claras o que se acha escondido nas trevas. Ele manifestará as intenções dos corações. Então cada um receberá de Deus o louvor que merece." (1Cor 4,5).
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9. Destarte, meditemos com estas palavras do Beato Columba Marmion: "Há um zelo que é excessivo, sempre tenso, sempre preocupado, atormentado, agitado; nada é suficientemente perfeito para as almas possuídas por este ardor. Por que é que este zelo é "amargo"? Porque é impaciente, é indiscreto e falta-lhe unção.
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10. É deste zelo que Nosso Senhor fala na parábola do semeador, quando os servos pedem ao dono do campo para ir arrancar o joio semeado pelo inimigo, sem pensar que correm o risco de arrancar também a boa semente.
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11. Foi este zelo que encheu os discípulos de indignação, levando-os a querer fazer descer fogo do céu sobre aquela cidade da Samaria, para a castigar por não ter acolhido o seu divino Mestre. "Senhor, queres que digamos para descer um fogo do céu?"; e o que responde Jesus a este ardor apaixonado? "Repreendeu-os severamente" (Lc 9,54-55); isto porque o Filho do Homem não veio à terra para perder as almas, mas para salva-las."
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(Beato Columba Marmion (1858-1923), abade - O bom zelo)
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv. 

sexta-feira, 26 de julho de 2024

A nossa alegria vem do céu, ela é Dom de Deus...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 13,16-17)(26/7/24)

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1. Caríssimos irmãos e irmãs, nós somos o fruto ditoso da vivência da fé de nossos antepassados, que a semearam em nossas almas com simplicidade e zelo na certeza de que o brilhante futuro de sua prole tinha como fundamento as graças de Deus por meio da comunhão permanente com a sua vontade. 
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2. Ora, e isto é possível porque eles viveram exatamente da fé, como nos ensinou o Profeta Habacuc: "O justo vive por sua fidelidade." (Hab 2,4). De fato, para nós que ainda estamos neste vale de lágrimas, apredemos com nossos avós que o dom mais precioso que temos é o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como à nós mesmos. 
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3. Ora, porque eles viveram assim, nos ensinaram que o nosso devir começa aqui onde construímos passo a passo a eternidade que desejamos quando daqui partirmos. De fato, não podemos dissociar o nosso viver natural, da vida eterna, porque ele nada mais é que sua extensão, em outras palavras, o que plantamos aqui a partir da vontade de Deus ou não, é esse o nosso devir. 
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4. No Evangelho de hoje o Senhor Jesus nos ensina que a nossa felicidade consiste em tê-lo conosco: “Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram”. Ou seja, antes de sua vinda só o tinham em desejo; depois de sua vinda, nós o temos conosco. (cf. Mc 20,28).
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5. Portanto, caríssimos, que elogio mais eloquente poderíamos receber do Senhor do que esse do Evangelho de hoje? Todavia, na pedagogia divina não basta sermos elogiados, mas sim, correspondermos ao seu elogio por meio de nossa obediência incondicional aos seus santos mandamentos, pois foi assim que viveram os nossos antepassados na fé.
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6. Destarte, meditemos, então, com amor e devoção estas palavras do saudoso Papa, Bento XVI: "A proclamação da Palavra cria comunhão e gera alegria. É uma alegria profunda que brota do próprio coração da vida trinitária e nos é comunicada no Filho. Trata-se da alegria como um dom inefável que o mundo não pode dar. 
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7. Festas podem ser organizadas, mas não a alegria. De acordo com as Escrituras, a alegria é o fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5:22), que nos permite deixar a Palavra divina entrar em nós, produzindo frutos para a vida eterna. 
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8. Ao proclamar a Palavra de Deus no poder do Espírito Santo, também desejamos comunicar a fonte da verdadeira alegria, não uma alegria superficial e efêmera, mas aquela que brota do conhecimento de que somente o Senhor Jesus tem as palavras da vida eterna (cf. Jo 6:68)."
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(Bento XVI - Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini, n. 123). 
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

quarta-feira, 24 de julho de 2024

AS SEMENTES DA PALAVRA...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 13,1-9)(24/7/24)

1. Caríssimos irmãos e irmãs, a vida é uma grande escola aonde aprendemos a conviver com Deus e uns com os outros; por isso, cem por cento da nossa convivência com o próximo depende cem por cento da nossa convivência com Deus. E esta só pode ser vivida mediante a ação do Espírito Santo em nossas almas. 

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2. Pois, quando nos deixamos instruir pela sabedoria do Espírito Santo, aprendemos a praticar as virtudes eternas na nossa convivência com Deus e na convivência fraterna para a santificação de nossas almas. Porém, não sem antes passar pelo crivo das provações e desafios de fé no deserto deste mundo que nada tem a nos oferecer.

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3. De fato, todo aprendizado existencial é feito de provações, desafios de fé e purificações, sem as quais não se pode viver a plena comunhão com o Senhor, tal qual Ele nos ensinou por meio da Carta de são Tiago:


 4. "Considerai que é suma alegria, meus irmãos, quando passais por diversas provações, sabendo que a prova da vossa fé produz a paciência. Mas é preciso que a paciência efetue a sua obra, a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma." (Tg 1,2-4).

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5. No Evangelho de hoje, o Senhor Jesus conta a parábola da semente da Palavra que Ele semea no terreno de nossa existência. O que mais nos chama a atenção, é como a Sua Palavra é recebida, com qual disposição e o desejo de cultiva-la, para dar os frutos da salvação que Ele nos trouxe. Seja em solo fecundo para dar frutos cem por um; seja na beira da estrada, em solo pedregoso ou entre espinhos em que nada frutifica por falta do devido cultivo.

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6. Portanto, caríssimos, quem não vive cada momento da sua existência como dom de Deus e o aprendizado para viver em paz e harmonia com Ele e uns com os outros, passa o tempo murmurando e se lamentando por viver para si mesmo e não para os santos propósitos que o Senhor nos dá como meios para a nossa santificação.

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7. Destarte, peçamos ao Senhor Jesus, pela intercessão de sua Mãe, Maria Santíssima, e de são José, a graça de sermos terrenos férteis em que as sementes das suas palavras dão frutos de salvação para todos saborearem por meio do nosso testemunho de vida.

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8. Comentando este Evangelho disse são João Crisóstomo: "Saiu o semeador a semear". E porque foi que ele saiu? Para destruir a terra onde abundavam os espinhos? Para castigar os cultivadores? De modo nenhum. Ele veio cultivar essa terra, tratar dela e nela semear a palavra da santidade. Porque a semente de que fala é, na verdade, a sua doutrina; o campo é a alma do homem; o semeador é Ele mesmo.

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9. Com razão criticaríamos um semeador que semeasse com tanta abundância. Mas, quando se trata das coisas da alma, as pedras podem transformar-se em terra fértil, o caminho pode deixar de ser pisado pelos transeuntes e tornar-se campo fecundo, os espinhos podem ser arrancados, permitindo que os grãos cresçam tranquilamente.

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10. Se isso não fosse possível, Ele não teria lançado a semente. E, se a transformação não se realizou, não é por culpa do semeador, mas daqueles que não quiseram deixar-se transformar. O semeador fez o seu trabalho. Se a semente se perdeu, o autor de tão grande benefício não é responsável por isso.   

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11. Uma coisa é deixar a semente da palavra de Deus secar sem tribulações e sem cuidados, outra é vê-la sucumbir sob o peso das tentações. Para que tal não nos aconteça, gravemos a sua Palavra na nossa memória, com ardor e seriedade. Assim, por muito que o diabo arranque à nossa volta, teremos força para evitar que ele arranque o que quer que seja dentro de nós."

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(São João Crisóstomo (c. 345-407), doutor da Igreja - 

Homilias sobre Mateus, 44)

Paz e Bem!

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Frei Fernando Maria OFMConv.

segunda-feira, 22 de julho de 2024

SOMOS FILHOS E FILHAS DE DEUS...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 12,46-50)(23/7/24).

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1. Caríssimos, as almas que vivem imersas em Deus, participam de Sua intimidade por meio de sua filiação divina, reconhecendo que Deus é nosso Pai e que em tudo cuida de nós precisamente, como nos ensinou o Senhor Jesus: "Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? 
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2. [Portanto] Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. Buscai, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo." (Mt 6,27.31.33).
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3. Ora, não resta dúvida de que os dons mais preciosos que temos é a vida e a família; no entanto, muitos dão mais valor às coisas passageiras do que à unidade familiar, por isso, são tão infelizes, porque nada enchergam além das futilidades deste mundo.
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4. E por isso, deixam de amar a Deus vivendo como sua família divina, para seguir a mentalidade mundana que consiste na busca frenética do poder, da fama e do prazer; só que na realidade, permanecem vazios porque a verdadeira felicidade não vem das coisas deste mundo, mas é puro dom de Deus para aqueles que o amam e lhe obedecem.
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5. No Evangelho de hoje o Senhor Jesus faz uma inversão na ordem de parentesco natural, tornando-nos membros de Sua família divina. Em outras palavras, agora fazemos parte da família de Deus, conforme Ele nos ensinou: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” 
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6. E, estendendo a mão para os discípulos, disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Bem como nos ensinou são João: "Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.
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7. Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus." (Jo 1,11-13).
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8. Por isso, se engana totalmente quem interpreta as palavras do Senhor Jesus querendo dividir a Sua família. De fato, a verdade sobre a unidade da família divina é a que Ele nos ensinou na oração do Pai nosso e também no alto da cruz quando deu a sua mãe como mãe da humanidade na pessoa do discípulo amado que nos representou naquele momento (cf. Jo 19,26-27). 
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9. Portanto, caríssimos, somos filhos e filhas de Deus nascidos da água e do Espírito Santo por meio do batismo, e por adoção, filhos e filhas da Virgem Maria, mãe de Deus e nossa mãe!
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

Quem ama o Senhor Jesus perfeitamente, tem a vida eterna...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Jo 20,1-2.11-18)(22/7/24)

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1 Caríssimos, a Igreja hoje celebra a Festa litúrgica de santa Maria Madalena, que segundo os relatos dos Evangelhos, foi a primeira anunciadora do maior acontecimento da história da humanidade, a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Pelo seu exemplo de vida, vemos como o Senhor transforma a nossa vida, para seguirmos o rumo ao Reino dos céus.
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2. Maria Madalena foi a prostituta, da qual Jesus expulsou sete demônios (cf. Lc 8,2), transformando-a em uma fiel seguidora e apóstola de Sua ressurreição. "Ela é mencionada entre os discípulos de Cristo, auxiliando-os com suas posses (cf. Lc 8,2-3); esteve presente ao pé da cruz (cf. Mt 28,1) e mereceu ser a primeira a ver o Redentor resuscitado na madrugada do dia de Páscoa (cf. Mc 16,9)." (Liturgia das horas).
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3. Comentando este Evangelho, São Gregório Magno (Sec. VI), nos mostra que foi o ardente amor de Maria Madalena por Jesus e sua perseverança em procura-lo em sua sepultura que a fez encontra-lo ressuscitado ao ouvi-lo chamar o seu nome: "Então Jesus disse: Maria!" (Jo 20,16).
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4. "Foi como se lhe dissesse abertamente: 'Reconhece aquele por quem és reconhecida. Não é entre outros, de maneira geral, que te conheço, mas especialmente a ti.' Maria, chamada pelo próprio nome, reconhece quem lhe falou; e imediatamente exclama: Rabuni, que quer dizer Mestre (Jo 20,16). Era ele a quem Maria Madalena procurava exteriormente; entretanto, era ele que a impelia interiormente a procura-lo."
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5. Portanto, caríssimos, Deus se fez homem, por seu Filho, Jesus Cristo, no ventre de sua Mãe, a Virgem Maria; entrou na finitude da nossa natureza para nos dar a certeza de que a vida é eterna, por isso, podemos nos alegrar como Maria Madalena o fez ao encontrar Jesus Ressuscitado e Nele permanecer, porque muito o amou.
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6. Meditemos com atenção estas palavras de São Bernardo: "O retorno da alma é a sua conversão ao Verbo, para que Ele a reforme e a torne conforme a Si mesmo. Em quê? No amor. Por esta conformidade, a alma desposa o Verbo. Já semelhante a Ele por natureza, torna-se semelhante a Ele também por vontade, amando-O como Ele a ama. Se ela o ama perfeitamente, o seu matrimônio está consumado. 
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7. E não há coisa mais alegre que esta conformidade; não há coisa mais desejável que este amor. O amor do Esposo, ou melhor, o Esposo que é amor apenas pede amor e fidelidade recíprocos. Deixemos, pois, que a amada responda com amor. E como deixará de amar, ela que é a esposa do Amor? Como poderia o Amor não ser amado?"
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(São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja - Sermão sobre o Cântico 83, 2-3.5; SC 511).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

domingo, 21 de julho de 2024

Homilia do 16°Dom do Tempo Comum...


  Homilia do 16° Dom do Tempo Comum (Mc 6,30-34)(21/7/24)

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1. Caríssimos irmãos e irmãs, nós que fomos batizados, recebemos do Senhor a graça da participação no Seu Reino de amor; por isso, temos como missão, e empenho de toda a vida, viver a dimensão do Reino dos Céus desde já, para isso Ele nos deu o Espírito Santo e com ele todas as graças necessárias para vivermos como Igreja, isto é, Seu Corpo Místico, do qual Ele é a cabeça e nós os seus membros.
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2. Na Carta aos Hebreus, assim está escrito: "Irmãos, por meio de Jesus, ofereçamos a Deus um perene sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que celebram o seu nome. Não vos esqueçais das boas ações e da comunhão, pois estes são os sacrifícios que agradam a Deus." (Hb 13,15-16). Ou seja, o nosso modo de ser é fruto do amor de Deus por nós e entre nós; todavia, isso requer nossa entrega total e nossa disponibilidade para servi-lo em santidade e justiça todos os dias de nossa vida.
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4. No Evangelho de hoje, o Senhor Jesus escuta o relato dos Apóstolos que retornaram da missão, e percebendo o cansaço que os domina, os chama para um lugar à parte onde possam repousar; entretanto, a multidão os seguiu em busca das graças que necessitavam. O Senhor se compadeceu deles porque eram como ovelhas sem pastor e começou a ensinar-lhes muitas coisas.
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5. Portanto, caríssimos, mais do que nunca esse nosso mundo necessita da presença do Senhor Jesus e de sua mensagem para encontrar a verdadeira paz. Ora, como batizados, somos os novos protagonistas desse anúncio; todavia, quem se dispõe a fazê-lo? Em outras palavras, quem está disposto a pôr as mãos no arado sem olhar para trás? 
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6. Destarte, de uma coisa fiquemos certos, o Senhor Jesus cuida muito bem dos seus servos como vimos neste Evangelho de hoje; quem está disposto à dizer-lhe sim? Então, sigamos o exemplo de nossa Senhora, e digamos firmemente com ela: "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra." (Lc 1,38).
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7. Por fim, rezemos com humildade e devoção esta oração de São Gregório de Nissa: "Onde levas o teu rebanho a pastar" (Cant 1,7), ó bom pastor que o carregas aos ombros (cf Lc 15,5)? Porque toda a raça humana é uma única ovelha que Tu tomaste aos ombros. 
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8. Mostra-me o lugar da tua pastagem, faz-me conhecer as águas do repouso, leva-me às ervas suculentas, chama-me pelo nome (cf Jo 10,3), para que eu ouça a tua voz, eu que sou tua ovelha, que a tua voz seja para mim a vida eterna.
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9. Sim, diz-me, "Tu, a quem o meu coração ama" (Cant 1,7). É assim que Te chamo porque o teu nome está acima de todo o nome (cf Fil 2,9), inexprimível e inacessível a toda a criatura dotada de razão. Mas este nome, testemunho dos meus sentimentos por Ti, exprime a tua bondade. 
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10. Como poderia não Te amar, a Ti, que me amaste a ponto de dares a tua vida pelas ovelhas de quem és o pastor (cf Jo 10,11)? Não é possível imaginar maior amor do que teres dado a vida pela minha salvação (cf Jo 15,13).
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11. Ensina-me, pois, onde levas o teu rebanho a pastar, que eu possa encontrar a pastagem da salvação, saciar-me com o alimento celeste que todo o homem deve comer se quiser entrar na vida, correr para Ti, que és a fonte, e beber a grandes tragos a água divina que fazes brotar para os que têm sede. Essa água corre do teu lado desde que a lança aí abriu uma chaga (cf Jo 19,34), e todo aquele que a prova torna-se uma fonte de água viva que jorra para a vida eterna (cf Jo 4,14)."
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(São Gregório de Nissa (c. 335-395), monge, bispo - Homilias sobre o Cântico dos Cânticos). 
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

sexta-feira, 19 de julho de 2024

A MISERICÓRDIA É A LEI ANTIGA E SEMPRE NOVA...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA(Mt 12,1-8)(19/7/24)

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1. Caríssimos a Lei de Deus existe em função do bem de todos, ou seja, para suprir a necessidade de justiça que temos, e por isso, ela ajuda a lei natural à ser cumprida na íntegra. Dado a isso é que Jesus respondeu aos contestadores dos discípulos que os acusaram de violarem o sábado: "Se tivésseis compreendido o que significa: ‘Quero a misericórdia e não o sacrifício’, não teríeis condenado os inocentes." (Mt 12,7).
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2. Com efeito, nenhuma lei seja ela natural, divina ou positiva (aquela criada pelo homem) usadas para regular o comportamento humano, pode deixar de lado as virtudes próprias que as sustenta. No Evangelho de hoje Jesus lembra aos mestres da Lei e fariseus que a virtude da misericórdia nos isenta do mal juízo e da condenação de inocentes.
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3. Quando o Senhor Jesus diz esta frase: "De fato, o Filho do Homem é senhor do sábado”.(Mt 12,8). Ele fala como legislador divino porque é o Filho de Deus que se fez homem e veio a este mundo para nos salvar; Ele é a Palavra viva e incontestável do Pai, sua autoridade visa sempre a salvação dos homens, por isso, nunca age ou se comporta fora dos seus desígnios de amor.
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4. De fato, existe em nós uma tendência de querer julgar tudo e todos segundo a nossa justiça, e com isso, não percebemos que a medida que julgamos assim, carregamos em nossas almas os pecados julgados e a condenação destilada contra aqueles que cometeram tais pecados.
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5. Na primeira Carta aos Coríntios, assim escreveu são Paulo: "[Irmãos], não julgueis antes do tempo; esperai que venha o Senhor. Ele porá às claras o que se acha escondido nas trevas. Ele manifestará as intenções dos corações. Então cada um receberá de Deus o louvor que merece." (1Cor 4,5).
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6. Ora, isso não significa que somos coniventes com os pecados cometidos neste mundo, pelo contrário, os reprovamos veementemente, todavia, que façamos isso sem perder o senso da misericórdia e do amor de Deus que sempre perdoa todos os que o procuram contritos de coração.
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7. Comentando este Evangelho disse o Mons. Ângelo Spina: "Os fariseus acreditam que estão cumprindo a Lei, em nome de Deus, mas, na realidade, não entenderam a Palavra que Deus falou por meio do profeta Oséias: "Eu quero Misericórdia, e não sacrifícios". 
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8. Eles estão tão concentrados em observar os outros que não têm mais tempo para olhar para dentro de si mesmos. Estão tão presos à tradição recebida que não dão crédito àquele que vem para cumprir a revelação de Deus. A misericórdia é a lei antiga e sempre nova. 
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9. Jesus não questiona o valor do descanso sabático, mas rejeita uma interpretação legalista que se esquece do homem. A vida é sempre maior, e as regras são para viver. Não vivemos para seguir regras, mas as regras nos ajudam a viver. Quando elas não nos ajudam, devemos nos perguntar o por quê. 

10. A lei deve estar a serviço da vida e da fraternidade. "O ser humano não foi feito para o sábado, mas o sábado para o ser humano". Por sua fidelidade a essa mensagem, Jesus foi condenado à morte. Ele perturbou o sistema e o sistema se defendeu usando a força contra Jesus, porque ele queria que a lei fosse colocada a serviço da vida, e não o contrário."
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

APRENDEI DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 11,28-30)(18/7/24)

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1. Caríssimos, somos discípulos de nosso Senhor Jesus Cristo e com Ele aprendemos sempre; seu exemplo de vida, suas palavras e ações são vias de perfeição que nos conduz ao Reino dos céus, à felicidade eterna. Entretanto, vivemos num mundo em que a maioria não o ama e por isso não o segue, porque, como Ele nos ensinou: "é preciso renunciar à si mesmo, tomar a sua cruz de cada dia e segui-lo."
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2. Com efeito, nesse nosso mundo muitos pensam na fama, no sucesso, no ter mais como único meio de se alcançar a realização e a verdadeira felicidade, esquecendo-se que todas as coisas são obras das mãos de Deus, assim como a realização e a felicidade também o são, e que somente Nele as encontramos.
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3. No Evangelho de hoje, "Jesus tomou a palavra e disse: "Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. (Mt 11,28-30).
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4. De fato, como discípulos de Cristo, aprendemos o quanto é maravilhoso viver o que Ele nos ensina, pois, isso resulta no bem estar interior que nos faz refletir a sua presença em nossa almas e em nossas ações, como vemos nestas palavras de são Paulo: "Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim." (Gl 2,19-20)
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5. Portanto, caríssimos, não sabemos quanto tempo ainda temos neste mundo, por isso, procuremos viver em comunhão com o Senhor todo o tempo que nos resta, para que o nosso testemunho da convivência com Ele seja o modelo perfeito da nossa convivência uns com os outros.
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6. Destarte, meditemos com devoção e humildade estas palavras de São Teodoro Estudita: "Meus filhos, tão grande é o carisma divino da humildade! E nenhum santo pôde agradar a Deus sem esta virtude primordial. Revesti-vos, também vós, dela (cf 1Pd 5,5), meus irmãos.
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7. Conversemos com humildade, trabalhemos, leiamos, cantemos, caminhemos, comamos, desculpemos com humildade, e veremos como é verdadeiramente grande o seu fruto, como é doce e amável, e como nos ilumina a todos, tornando-nos imitadores de Deus: "Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas". 
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8. Com efeito, nela está o verdadeiro descanso; nela, as torrentes da graça correm para as almas; dela surge a purificação do coração; nela, a efusão das lágrimas torna-se abundante; dela jorra a fonte da compunção; nela, a sabedoria e o entendimento, a piedade, o domínio de si, o recolhimento, a ausência de vanglória e de escárnio, e todos os outros bens possíveis, podem ser nomeados e definidos.
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9. É isto que dizemos da humildade! Quanto a vós, filhos de Deus e da nossa humilde pessoa, recebei as suas sementes e frutificai, como terra boa, a trinta, sessenta e cem por um (cf Mt 13,8; Jo 15,8.16), pelas boas obras que correspondem aos vossos carismas."
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São Teodoro Estudita (759-826), monge de Constantinopla - Catequese 37
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

quarta-feira, 17 de julho de 2024

PRECISAMOS AMAR A DEUS E OBEDECE-LO FIELMENTE...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 11,25-27)(17/7/24)

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1. Caríssimos irmãos e irmãs, quem de nós não deseja viver no céu, na plenitude da glória de Deus? Essa é a grande promessa a todos os que fazem a sua Santa Vontade, acolhendo humildemente os seus desígnios salvíficos por meio da fé recebida no batismo e posta no Seu diletíssimo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo.
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2. Na primeira leitura de hoje o Profeta Isaías revela a tragédia do povo eleito por ter disfeito a sua aliança com o Senhor, se entregado à práticas nefastas à ponto de dispertar a ira divina sobre si. Por outro lado, vemos os opressores daquele povo imersos no orgulho e na prepotência que os fez perder o senso de correção e de justiça, por isso, também eles pereceram.
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3. Com efeito, esses dois contrastes paralelos que vimos na primeira leitura nos leva a refletir sobre o Evangelho deste dia, no qual o Senhor Jesus nos ensina por sua oração o quanto precisamos da humildade para recebermos as suas graças e nos manter fiéis a aliança de amor que fizemos com Ele mediante a nossa filiação divina.
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4. Vejamos, então, como o Senhor Jesus se dirige ao Pai Celeste nos revelando como Ele faz para conter os "sábios e entendidos" deste mundo, mostrando-lhes o quanto é falsa a pretensa sabedoria humana que se funda na incredulidade e na arrogância, tornando-se inútil em todos os sentidos da vida. Uma vez que tal sabedoria nunca revela o amor de Deus nem seu poder salvador.
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5. Portanto, caríssimos, felizes são aqueles que ouvem a Palavra do Senhor e a põe em prática se unindo à Ele até o fim, pois todos seremos julgados conforme está escrito: "Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo." (2Cor 5,10).
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6. De fato, o mundo em que vivemos é um vale de lágrimas, que cada vez mais se afunda na lama fétida do pecado; ora, o único meio para se deixar esse mar de lama, se chama arrependimento sincero e o perdão Sacramental sem os quais não existe salvação.
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7. Destarte, rezemos esta bela oração do Salmo 14: "Senhor, quem morará em vossa casa e em vosso Monte santo habitará?’ É aquele que caminha sem pecado e pratica a justiça fielmente; que pensa a verdade no seu íntimo e não solta em calúnias sua língua; que em nada prejudica o seu irmão, nem cobre de insultos seu vizinho; jamais vacilará quem vive assim!" 
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8. Por fim, escutemos com atenção este comentário de Santo Irineu: "O que o Senhor nos ensina é que ninguém pode conhecer a Deus a não ser que Ele Se lhe revele; em outras palavras, não podemos conhecer a Deus sem o seu auxílio. Mas o Pai quer ser conhecido; e sê-lo-á por aqueles a quem o Filho O revelar.
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9. Com efeito, ninguém pode conhecer o Pai sem o Verbo de Deus, isto é, se o Filho não O revelar, nem conhecer o Filho sem o «agrado» do Pai. Ora, o que o Pai quer, na sua bondade, o Filho realiza-o: o Pai envia, o Filho é enviado e vem. E o Verbo de Deus conhece esse Pai infinito que para nós é invisível, e dá a conhecer o que é inexprimível." (cf Jo 1,8).
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Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208), bispo, teólogo, mártir - 
Contra as heresias, IV, 6, 4.7.3.
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

terça-feira, 16 de julho de 2024

MINHA MÃE E MEUS IRMÃOS...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 12,46-50)(16/7/24).

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1. Caríssimos irmãos e amadas irmãs, falar e agir com conhecimento de causa proferindo sentenças eternas nascidas da sabedoria divina, é graça inestimável; ninguém tem essa capacidade fora do Espírito Santo de Deus que nos foi dado no batismo.
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2. De fato, tudo o que Deus Pai expressou até hoje o fez por meio dos Patriarcas, juízes e Profetas cheios do Espírito Santo; e principalmente por meio do Seu amado Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, Sua Palavra viva e Eterna, por isso, tudo o que proferiu se cumpriu e continua se cumprindo.
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3. Ora, vivemos diante do Grande Mistério de Deus, Criador e Redentor, cuja Sabedoria é de impossível penetração, pois, nenhuma criatura poderá adentrar Nele, sem a devida permissão. Bem como nos ensinou o Senhor Jesus:
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4. "Ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lho for concedido." (Jo 6,44). Mas, por que Deus nos criou com essa dependência? Porque Ele é a Fonte Eterna que nos alimenta, Nele temos tudo o que contribui para a vida e a santidade, porque sem Ele nada podemos fazer, como também nada temos.
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5. A liturgia de hoje nos remete ao perdão que precisamos por andarmos tão distantes do Senhor de nossa vida. Todavia, para uma melhor compreensão deste enunciado, perguntemo-nos: o que é o pecado que tanto nos ofende?
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6. Como no Paraíso, o pecado é a prática da vida sem a presença de Deus nela, como se fossêmos autossuficientes, como se Dele não precisássemos; e o resultado nefasto de tal pecado são as tragédias que constatamos na face da terra que nos revela a face tenebrosa do maligno e dos seus malefícios. 
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7. No Evangelho de hoje, Jesus nos ensina que a Vontade do Pai é a Fonte inesgotável de nossa filiação divina, e nos mostra isso com a seguinte pergunta e resposta: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. 
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8. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. (Mt 12,48-50). Ou seja, o nosso vínculo familiar com Deus, é espiritual e não carnal, como o Senhor mesmo já o dissera: "O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos tenho dito são espírito e vida." (Jo 6,63).
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9. Portanto, caríssimos, não existe outro meio para vivermos como filhos e filhas de Deus, de nossa Senhora, e irmãos e irmãs do Senhor Jesus; ou seja, fazer a Sua Santa Vontade, pondo em prática a Sua Palavra, que é para nós proteção e caminho de santidade, sem a qual não podemos ver a Deus (cf. Hb 12,14).
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Paz e Bem! 
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Frei Fernando Maria OFMConv.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

SEGUIR O SENHOR JESUS E DEIXAR-SE CONDUZIR POR ELE...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 10,34-11,1)(15/7/24)

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1. Caríssimos, a liturgia de hoje nos mostra o conflito que existe no íntimo de cada um de nós quando nos dispomos a seguir o Senhor Jesus de todo o nosso coração tal qual Ele nos ensina; de fato, quando pomos em prática as suas instruções logo experimentamos o que significa ser seus verdadeiros discípulos, ou seja, viver sem apegos, repletos de coerência; caso contrário nosso seguimento não passa de aparência frívola.
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2. No Salmo desta liturgia o salmista revela o quanto é nocivo para a nossa alma a prática da fé sem a devida coerência: “Como ousas repetir os meus preceitos e trazer minha Aliança em tua boca? Tu que odiaste minhas leis e meus conselhos e deste as costas às palavras dos meus lábios! 
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3. Diante disso que fizeste, eu calarei? Acaso pensas que eu sou igual a ti? É disso que te acuso e repreendo e manifesto essas coisas aos teus olhos”. Quem me oferece um sacrifício de louvor, este sim é que me honra de verdade. A todo homem que procede retamente eu mostrarei a salvação que vem de Deus." (Sl 49).
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4. No Evangelho de hoje o Senhor Jesus nos ensina três atitudes fundamentais para segui-lo coerentemente: renúncia ao apego familiar, que significa ama-lo sobre todas as coisas; tomar a cruz e sigui-lo fielmente para sermos dignos dele; e por último, renunciar a si mesmo, isto é, não querer salvar a própria vida, mas se for a vontade de Deus, perde-la por amor a Ele.
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5. Portanto, caríssimos, o que importa mesmo não é o que deixamos para seguir o Senhor Jesus e cumprirmos a sua vontade, mas sim, o que recebemos Dele aqui, isto é, cem por cento, e no seu Reino, a vida eterna. Pois, sabemos que as vantagens deste mundo são passageiras, pois nada trouxemos a ele e nada levamos quando daqui partimos; a não o amor com que amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
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6. Destarte, escutemos atentamente o Senhor Jesus: "Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus." (Mt 7,21). Decerto, a vontade de Deus é que sigamos o Seu amado Filho até fim dos nossos dias neste mundo para obtermos como herança a vida eterna.
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

domingo, 14 de julho de 2024

Homilia do 15° Dom do Tempo Comum...


 Homilia do 15° Dom do Tempo Comum (Mc 6,7-13)(14/7/24)

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1. Caríssimos irmãos e irmãs, estamos acostumados com as seguranças que criamos em torno à nós e aos nossos planos e por vezes até nos apegamos à elas, de forma que, quando os coisas não acontecem como planejamos, logo sofremos a tentação de nos afastar da fé ou nos rebelarmos contra Deus. 
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2. De fato, isso só acontece, quando queremos que tudo esteja sob o nosso controle; e com isso, nos impedimos de viver a liberdade que a fé nos proporciona, de confiarmos tudo nas mãos de Deus e o seu admirável poder para assim vivermos conforme sua divina providência.
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3. No Evangelho de hoje, Jesus envia os Apóstolos em missão com as seguintes recomendações: "não levarem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas. 
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4. E o Senhor ainda os recomendou: “Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida. Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!”
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5. Em outras palavras, isso quer dizer: se dediquem de corpo e alma à missão que lhes confio, porque a obra de salvação é a vontade do Pai, de modo que Ele providencia tudo o que é necessário para que ela se cumpra na íntegra. 
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6. De fato, "os doze partiram e pregaram que todos se convertessem. Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo." Ou seja, a obediência às recomendações do Senhor, afasta o medo dos perigos, as preocupações com o necessário, dando-nos a certeza de que Ele caminha conosco e faz-se cumprir a Sua Palavra. 
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7. Portanto, caríssimos, não podemos esquecer que estamos a caminho do céu e a nossa missão é anunciar o Reino de Deus e a sua justiça, por palavras e principalmente com o nosso testemunho de vida, conscientes de que essa obra é de Deus e não nossa. 
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8. Destarte, sigamos fielmente suas orientações por meio de sua Santa Igreja; Ele é fiel e confirmará nossas ações de acordo com o seu plano para a nossa salvação e a salvação de todos que receberem o que lhes anunciamos conforme a nossa disponibilidade, fidelidade e dedicação.
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9. "Que a Virgem Maria, primeira discípula e missionária da Palavra de Deus, nos ajude a levar a mensagem do Evangelho ao mundo numa exultação humilde e radiosa, para além de qualquer rejeição, incompreensão ou tribulação." (Papa Francisco).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

sábado, 13 de julho de 2024

NÃO OS TEMAIS...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA (Mt 10,24-33)(13/7/24)

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1. Caríssimos irmãos e irmãs, o testemunho que damos do Senhor Jesus é um ato de amor incondicional, é a perfeita expressão de nossa adesão a Ele e aos desígnios de Deus a respeito da nossa salvação. 
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2. Em verdade, é a nossa participação direta no Reino dos céus desde já, porque não tem como separar a vida presente da vida futura, uma vez que a única coisa que nos distancia é o sopro de vida que momentaneamente nos sustenta.
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3. No Evangelho de hoje o Senhor Jesus nos trata como servos, nos mostrando que o Seu Senhorio nos é salutar, ou seja, é proteção permanente; no entanto, requer de nós a mesma humildade com que nos trata, ensinando-nos que o Seu Senhorio é serviço salvífico: “O discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do seu Senhor. Para o discípulo, basta ser como o seu mestre, e para o servo, ser como o seu Senhor." (Mt 10,24-25b).
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4. Portanto, caríssimos, este é o verdadeiro testemunho que damos de nosso Senhor Jesus Cristo, segui-lo até as últimas consequências. Assim como nos ensinou: "Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma! Pelo contrário, temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno! (Mt 10,28).
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5. Comentando este Evangelho disse São João Crisóstomo: "Mesmo que o mar se enfureça, não quebrará a rocha; mesmo que as vagas se levantem, não podem engolir a barca de Jesus. Dizei-me: que podemos nós temer? A morte? "Para mim, viver é Cristo, e morrer, um ganho" (Fil 1,21). O exílio? "Ao Senhor pertence a terra e o que ela contém" (Sl 23,1). 
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6. A confiscação dos bens? "Nada trouxemos ao mundo e dele nada podemos levar" (1Tim 6,7). Pouco me importa o que é temível neste mundo; rio-me dos seus bens. Não temo a pobreza, não desejo a riqueza. Não tenho medo da morte. É o Senhor quem me garante. 
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7. Fiar-me-ei nas minhas forças? Tenho o seu testamento, esse é o meu ponto de apoio, a minha segurança, o meu porto seguro. Ainda que todo o Universo seja abalado, eu tenho este testamento e releio-o: ele é a minha fortaleza, a minha segurança. 
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8. Qual é o seu conteúdo? "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos tempos" (Mt 28,20). Jesus Cristo está comigo, a quem temerei? Assaltem-me as vagas e a cólera dos grandes: nada disso vale, sequer, uma teia de aranha."
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(São João Crisóstomo (c. 345-407). Homilia "A partida para o exílio".)
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

quarta-feira, 10 de julho de 2024

IDE E ANUNCIAI A TODOS O EVANGELHO...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 10,1-7)(10/7/24)

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1. Caríssimos irmãos e irmãs, o modo de ser que empreendemos em nosso dia a dia revela para quem realmente vivemos e a quem de fato servimos. Ora, no batismo recebemos a filiação divina e todos os valores eternos que ela comporta, ou seja, as santas virtudes que nos identificam com Cristo e revelam a sua presença em nossa vida, pois o fundamento da santidade consiste em permanecer no Senhor até o fim de nossos dias.
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2. Mas, não podemos esquecer que somos constantemente tentados a não sermos autênticos na profissão de nossa fé e no amor ao próximo como a nós mesmos, como vimos acontecer na história de José do Egito e seus irmãos, bem demonstrado nesse diálogo: “Sofremos justamente estas coisas, porque pecamos contra o nosso irmão: vimos a sua angústia quando nos pedia compaixão, e não o atendemos. É por isso que nos veio esta tribulação”.
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3. Com efeito, o dia do nosso julgamento se aproxima como se aproximou dos irmãos de José, onde eles viram o pecado cometido contra ele, a falta de compaixão, a mentira e todo o mal que lhe fizeram. 
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4. No entanto, ao reconhecerem tais pecados é que puderam se arrepender, como vemos neste diálogo: "Rúben disse-lhes: “Não vos adverti dizendo: ‘Não pequeis contra o menino?’ E vós não me escutastes. E agora nos pedem conta do seu sangue”.
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5. Portanto, caríssimos, o silêncio de Deus sempre nos acompanha, porém, fala mais alto que todas as vozes do mundo. Por isso, escutemos o Senhor no silêncio sagrado do nosso coração por meio de nossa oração, pois é nesse encontro que Ele nos prepara para sermos autênticas testemunhas do seu Reino, porque sem essa autenticidade, somos tentados a cometer os piores pecados. 
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6. Meditemos com amor e atenção estas palavras de São João Paulo II: "O testemunho de vida cristã é a primeira e insubstituível forma de missão: Cristo, cuja missão nós continuamos, é a «testemunha» por excelência (cf Ap 1,5; 3,14) e o modelo do testemunho cristão. A primeira forma de testemunho é a própria vida do missionário, da família cristã e da comunidade eclesial, que torna visível um novo estilo de comportamento. 
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7. O missionário que, apesar dos seus limites e defeitos humanos, vive com simplicidade, segundo o modelo de Cristo, é um sinal de Deus e das realidades transcendentes. Mas todos na Igreja, esforçando-se por imitar o divino Mestre, podem e devem dar o mesmo testemunho, que é, em muitos casos, o único modo possível de ser missionário.
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8. O testemunho evangélico a que o mundo é mais sensível é o da atenção às pessoas e o da caridade a favor dos pobres, dos mais pequenos, e dos que sofrem. A gratuidade deste relacionamento e destas ações, em profundo contraste com o egoísmo presente no homem, faz nascer interrogações precisas, que orientam para Deus e para o Evangelho. 
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9. O compromisso com a paz, a justiça, os direitos do homem, a promoção humana é também um testemunho do Evangelho, caso seja um sinal de atenção às pessoas e esteja ordenado ao desenvolvimento integral do homem."
(São João Paulo II (1920-2005), papa - Carta encíclica «Redemptoris Missio», n.º 42 (trad. © Libreria Editrice Vaticana).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

segunda-feira, 8 de julho de 2024

A FÉ É O DOM DE CRER E VER ACONTECER A VONTADE DE DEUS...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA (Mt 9,18-26)(08/7/24)

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1. Caríssimos irmãos e irmãs, o Mistério da fé se faz presente na vida dos humildes de coração, daqueles que saem dos limites de sua finitude para adentrarem no estado de graça onde a ação divina realiza os prodígios que somente o dom da fé pode alcançar. 
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2. No Evangelho de hoje ouvimos o Senhor Jesus dizer à mulher com o fluxo de sangue: "Coragem, filha! A tua fé te salvou”. Sem dúvida ao escutar essa resposta a mulher experimentou os efeitos imediatos da graça recebida e se manteve confiante e feliz pela cura imediata que recebera.
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3. Todavia, muita atenção para a pergunta do Senhor Jesus no Evangelho de São Lucas: "Mas, quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra?" (Lc 18,8). De fato, em nosso tempo são tantas as distrações e vícios pelos quais somos acossados a ponto de que muitos deixarem a prática da fé pelas falsas novidades das novas tecnologias. 
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4. No entanto, perguntamos, qual será o resultado dessa onda de mentiras, perversões, injustiças, corrupção, e todo tipo de maldade que estão levando milhões ao desespero, à perdição e à falência de nossas instituições? Decerto, o mal por si mesmo se destrói, e quem o pratica o faz porque deixou-se dominar por ele. 
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5. Com efeito, também no Evangelho de hoje ouvimos o Senhor Jesus ser caçoado por aqueles que ao invés da piedade, cultivavam as distrações e a incredulidade, por isso, ao ouvirem a Sua Palavra o desprezaram, no entanto, bastou a fé daquele pai para que a graça da ressurreição de sua filha fosse alcançada. 
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6. Portanto, caríssimos, bem-aventurados os humildes de coração porque deles é o Reino dos Céus. Decerto, a humildade é a terra fértil onde a fé brota e cresce e dá seus frutos tornando-nos testemunhas dos prodígios do Senhor e do seu divino poder. 
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7. Comentando este Evangelho disse o Papa Bento XVI: "O coração de Cristo é divino-humano: nele Deus e o homem se encontram perfeitamente, sem separação e sem confusão. Ele é a imagem, de fato, a encarnação do Deus que é amor, misericórdia, ternura paterna e materna, do Deus que é Vida. 
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8. Por isso, declarou solenemente a Marta: "Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, mesmo que morra, viverá; quem vive e crê em mim não morrerá eternamente". E acrescentou: "Crês nisso?" (Jo 11,25-26). 
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9. Uma pergunta que Jesus dirige a cada um de nós; uma pergunta que certamente nos excede, excede nossa capacidade de compreensão e nos pede que nos confiemos a Ele, como Ele se confiou no Pai. 
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10. Sim, Senhor! Nós também acreditamos, apesar de nossas dúvidas e obscuridades; acreditamos em Ti, porque Tu tens palavras de vida eterna; acreditamos em Ti, que nos dá uma esperança confiável de vida além da vida, de vida autêntica e plena em Teu Reino de luz e paz."
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(Bento XVI - Angelus, 9 de março de 2008).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

domingo, 7 de julho de 2024

CRISTO JESUS É O MAIOR MILAGRE DO UNIVERSO...


 Homilia do 14° Dom do Tempo Comum (Mc 6,1-6)(07/7/24)

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1. Caríssimos, o Senhor está sempre atento às nossas súplicas e conhece as nossas necessidades, por isso, nos atende sempre que o invocamos e nos liberta de tudo o que tenta impedir a nossa comunhão com Ele e entre nós. Todavia, precisamos acolher a sua Palavra e as suas ações, por meio da fé que Dele recebemos, para po-las em prática.
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2. Com efeito, a prática da fé é uma luta constante que travamos contra o mal, como escreveu São Pedro: "Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe fortes na fé." (1Pd 5,8-9).
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3. De fato, as ações do maligno são conhecidas pelos efeitos negativos que causam às almas que se deixam atingir por elas. Ora, uma dessas ações é a indiferença que gera a incredulidade e impede as almas de receberem as graças de Deus, por isso, nunca nos deixemos atingir por ela, pois, a confiança no Senhor é o elo que nos une a Ele para sempre.
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4. Desse modo, quando falhamos, o Senhor nos encoraja e nos fortalece por meio do Sacramento da Confissão nos fazendo voltar ao estado de graça que Ele nos concede à medida que nos arrependemos e somos perdoados para perseverarmos até o fim na luta contra o pecado.
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5. No Evangelho de hoje, vimos que os concidadãos de Jesus se deixaram atingir pela incredulidade, pelo preconceito e o juízo de valor, por isso, não o aceitaram quando se revelou como o Messias enviado pelo Pai; todavia, frente à rejeição preconceituosa apresentada por eles, lhes disse: “Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares." 
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6. "E ali não pôde fazer milagre algum. Apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. E admirou-se com a falta de fé deles." Ou seja, a primeira coisa que a incredulidade faz numa alma é desqualificar a autenticidade das Palavras e das ações divinas para confundir os que crêem. 
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7. Portanto, caríssimos, ninguém ganha uma luta usando as armas erradas, por isso, muito cuidado com tais armas, pois, "Não são carnais as armas com que lutamos. São poderosas, em Deus, capazes de arrasar fortificações. Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e o reduzimos à obediência a Cristo." (2Cor 10,4-5).
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8. Comentando o Evangelho de hoje, disse o Papa Bento XVI: "Parece que Jesus está - como dizem - fazendo pouco caso da má recepção que encontra em Nazaré. Em vez disso, no final da história, encontramos uma observação que diz exatamente o contrário. O evangelista escreve que Jesus "se maravilhou com a incredulidade deles" (Mc 6,6). O espanto dos concidadãos, que estão escandalizados, é igualado pela admiração de Jesus.
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9. Ele também está, de certa forma, escandalizado! Embora saiba que nenhum profeta é bem-vindo em casa, o coração fechado de Seu povo permanece escuro, impenetrável para Ele: como é possível que eles não reconheçam a luz da Verdade? Por que eles não se abrem para a bondade de Deus, que quis compartilhar nossa humanidade?
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10. De fato, o homem Jesus de Nazaré é a transparência de Deus, Nele Deus habita plenamente. E embora sempre busquemos outros sinais, outras maravilhas, não percebemos que o verdadeiro sinal é Ele, Deus feito carne, Ele é o maior milagre do universo: todo o amor de Deus encerrado em um coração humano, em um rosto humano.
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11. Quem realmente compreendeu essa realidade foi a Virgem Maria, bem-aventurada porque acreditou (cf. Lc 1,45). Maria não se escandalizou com seu Filho: sua admiração por Ele é cheia de fé, cheia de amor e alegria, ao vê-lo tão humano e ao mesmo tempo tão divino. Aprendamos, portanto, com ela, nossa Mãe na fé, a reconhecer na humanidade de Cristo a perfeita revelação de Deus."
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

sábado, 6 de julho de 2024

VINHO NOVO, ODRES NOVOS...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 9,14-17)(06/7/24)

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1. Caríssimos, a prática da fé requer certos exercícios espirituais que nos fazem crescer na graça, no conhecimento e na intimidade do Senhor; dentre eles estão a oração, o jejum e a esmola; todavia, tais exercícios requer discrição porque não são meras expressões externas de penitência; mas sim, convivência com o Senhor com o firme propósito de vencer-nos à nós mesmos para assim realizarmos a sua santa vontade.
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2. Sem dúvida vivemos num mundo de aparências e quantos não são aqueles que fazem de tudo para obterem fama, prazer e riqueza ainda que à custa do jogo sujo do inimigo de nossas almas; e o resultado é um mundo infestado de pecados e perdição.
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3. Ora, a moda ditada pelas tentações carnais e espirituais é concordar, defender e praticar tudo o que contraria os santos mandamentos da lei de Deus, esquecendo-se que todos prestarão contas de seus atos: "Porque está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará glória a Deus (Is 45,23). Assim, pois, cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus." (Rm 14,11-12).
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4. São Paulo prevendo isso escreveu: "Nota bem o seguinte: nos últimos dias haverá um período difícil. Os homens se tornarão egoístas, avarentos, fanfarrões, soberbos, rebeldes aos pais, ingratos, malvados, desalmados, desleais, caluniadores, devassos, cruéis, inimigos dos bons, traidores, insolentes, cegos de orgulho, amigos dos prazeres e não de Deus, ostentarão a aparência de piedade, mas desdenharão a realidade. Dessa gente, afasta-te!" (2Tm 3,1-5).
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5. Portanto, caríssimos, escutemos atentamente o Senhor e ponhamos em prática as suas Palavras porque são a única fonte de paz e de segurança para as nossas almas. Eis o que Ele nos diz: "Pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. Esta é a vontade de meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia." (Jo 6,38.40)
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6. Comentando este Evangelho disse o Papa Francisco: "Só Jesus pode garantir que, nos ramos da sua vinha, os homens encontrem não apenas uvas bravas (cf. Is 5,4), mas o vinho bom (cf. Jo 2,11), o da videira verdadeira, sem o qual nada podemos fazer (cf. Jo 15,5). Esse é o propósito da Igreja: distribuir o vinho novo, que é Cristo, em todo o mundo.
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7. Nada pode nos impedir de cumprir essa missão. Ainda precisamos de odres novos, pois tudo o que fazemos não é suficiente para torná-los descendentes do vinho novo que eles são chamados a conter e expressar. No entanto, justamente por isso, acontece de os vinhateiros perceberem que, sem o vinho novo, continuarão sendo uma pedra fria, capazes de lembrar o gosto, mas não de dar o sabor.
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8. Por favor, não deixe que ninguém os distraia desta meta: dar a todos o vinho novo!" (Papa Francisco - Discurso aos bispos participantes do Curso da Congregação para os Bispos, 13 de setembro de 2018).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

sexta-feira, 5 de julho de 2024

EU QUERO MISERICÓRDIA E NÃO SACRIFÍCIO...


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 9,9-13)(05/7/24)

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1. Caríssimos, podemos dizer que quando um pecador encontra o Senhor Jesus e olha nos seus olhos misericordiosos e se deixa inundar pela sua divina misericórdia; sem dúvida terá a mesma reação de Mateus que deixou tudo para seguir o Senhor, e pôr os talentos que Dele recebera à disposição da salvação da humanidade. 
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2. Com efeito, pelo que vimos neste episódio do Evangelho de hoje, a prática da fé requer sempre a misericórdia como meio eficaz de libertação; qualquer outra atitude não acende nos que se encontram em estado de pecado mortal, a chama viva da conversão para que doravante sigam o Senhor como suas testemunhas fiéis pelo perdão recebido.
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3. De certo, ainda neste mesmo episódio constatamos, por parte dos fariseus ali presentes, uma grande resistência a atitude misericordiosa do Senhor Jesus, por ter admitido que os chamados pecadores públicos sentassem à sua mesa para fazerem refeição com ele. 
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4. Ao que o Senhor respondeu: “Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Aprendei, pois, o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício’. De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores”.
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5. Ora, de uma coisa fiquemos certos, da parte do Senhor Jesus, jamais nos faltará a misericórdia que tanto precisamos para a nossa salvação. Por isso, deixemo-nos tocar pelo Seu olhar misericordioso para que também nós deixemos tudo para o seguir, isto é, tudo o que não nos ajuda a ser misericordiosos como Ele é misericordioso conosco.
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6. Escutemos então esta exortação de são Tiago: "Falai, pois, de tal modo e de tal modo procedei, como se estivésseis para ser julgados pela lei da liberdade. Haverá juízo sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o julgamento." (Tg 2,12-13).
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7. Comentando este Evangelho escreveu São Charles de Foucauld: "Ser misericordioso, inclinar o coração para todas as misérias, as do corpo e ainda mais as da alma; é que as doenças da alma são infinitamente mais graves do que todos os males do corpo, pois não são uma ameaça à vida e à felicidade dos membros de Cristo durante alguns anos, mas para toda a eternidade. 
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8. Não devemos concentrar-nos em cuidar das ovelhas gordas, que estão limpas e são dóceis, abandonando as sarnosas ao seu triste destino, mas amar todos os homens por Deus, seu Pai e Salvador, dedicando especiais cuidados aos doentes e aos pecadores, porque eles precisam muito mais do que os outros.
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9. Jesus dá-nos todo o seu corpo para o amarmos; todos os seus membros - sãos e doentes - merecem igual amor da nossa parte, pois todos eles são seus; e, se todos devem ser amados por igual, os doentes precisam dos nossos cuidados mil vezes mais do que os outros. 
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10. Antes de ungir os outros com perfumes, cuidemos dos que estão feridos, magoados, doentes, isto é, de todos os que têm necessidades no corpo ou na alma, sobretudo estes últimos, e sobretudo, os pecadores. Podemos fazer bem a todos os homens sem exceção, com a nossa oração, a nossa penitência e a nossa própria santificação."
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São Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saara - Sobre o Evangelho).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

quinta-feira, 4 de julho de 2024

POR QUE TENDES ESSES MAUS PENSAMENTOS EM VOSSOS CORAÇÕES?


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 9,1-8)(04/7/24)

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1. Caríssimos, o perdão dos pecados é uma graça permanente que Deus dispõe à nosso favor para curar nossos males espirituais e corporais, especialmente o pecado mortal que mancha e fere as nossas almas, tirando-lhes a saúde espiritual e corporal causando-lhes enorme prejuízo. 
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2. Por isso, um dos grandes obstáculos para receber a graça do perdão que cura e salva, é o orgulho que sempre vê e julga segundo a sua ótica perversa que a torna incapaz de reconhecer e acolher a verdade; como vimos acontecer com alguns mestres da lei (cf. Mt 9,3).
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3. "Os escribas diziam que só Deus podia perdoar os pecados. E Jesus, antes mesmo de os perdoar, revela os segredos dos seus corações, demonstrando assim que possuía esse poder reservado a Deus, porque está escrito: «Só vós, Senhor, conheceis os segredos humanos» (2Cr 6,30) e «o homem vê o rosto, mas Deus vê o coração» (1Sam 16,7).
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4. Jesus revela, portanto, a sua divindade e a sua igualdade com o Pai mostrando aos escribas o que lhes ia no fundo do coração e divulgando-lhes pensamentos que eles não ousariam dizer em público, com medo da multidão. E fá-lo com total doçura." (são João Crisostomo).
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5. Caríssimos, aprendemos com esse episódio uma coisa sumamente importante para a nossa salvação, que Deus nos conhece totalmente, nada se oculta aos seus olhos até mesmo os cabelos de nossa cabeça estão todos contados, não cai um só fio sem que Ele o saiba e o permita.
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6. Ora, eis o que nos ensina São Paulo: "Aliás, sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios." (Rm 8,38). Portanto, temos somente que nos confiar a Ele e deixar que nos conduza segundo esses mesmos desígnios.
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7. Comentando este Evangelho disse o Padre Ubaldo Terrinoni: "Jesus revela o verdadeiro rosto de Deus, que é essencialmente misericordioso. Tudo confirma que onde ele está, ali Deus vive, fala, age e perdoa. É justamente diante desse perdão generoso de Deus que o homem é ajudado a reconhecer seus próprios pecados. 
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8. Quanto mais ele experimenta a misericórdia divina, mais ele abre os olhos para sua própria miséria. A experiência da misericórdia precede a descoberta do pecado. Portanto, reencontrar Deus é também reencontrar a si mesmo; como "o filho pródigo" que, ao voltar para casa, para seu pai, também voltou para a verdade sobre si mesmo. 
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9. "Aquele que retorna ao Senhor retorna a si mesmo", ensina sabiamente Santo Ambrósio, "aquele que se afasta dele abdica de si mesmo". O retorno e o encontro são possíveis se o homem responder à iniciativa divina. A misericórdia e a miséria, o dom divino e a aceitação humana, o perdão e a consciência da necessidade de ser perdoado devem se encontrar. 
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10. Sobre o alicerce de um senso humilde de si mesmo repousa a certeza de também ser fiel a si mesmo, reconhecendo suas limitações e miséria. É uma questão de empreender a mais difícil das jornadas: a jornada para dentro de si mesmo; alcançar as penetrações mais profundas para conhecer a si mesmo como se é."
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.

quarta-feira, 3 de julho de 2024

FELIZES OS QUE CRÊEM SEM TEREM VISTO...

Festa do martírio de São Tome (Jo 20,24-29)(03/7/24)
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1. Caríssimos, hoje a Igreja celebra com grande alegria a festa do martírio do Apóstolo são Tomé, aquele que deu a vida por seu Senhor e Deus, depois de ter passado pela grande prova da incredulidade mesmo depois de ter ouvido o testemunho dos outros Apóstolos de que tinham visto o Senhor ressuscitado e experimentado a alegria da Sua Ressurreição. 
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2. De fato, depois de ter participado do discipulado de Cristo, recebendo os seus ensinamentos, vivenciado os seus prodígios e milagres, ainda assim Tomé não acreditou no autêntico testemunho dos outros Apóstolos, que certamente os deixou constrangidos diante da dureza do seu coração. 
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3. No entanto, como o Senhor se faz presente sempre em todas as situações de nossa vida, de imediato se lhe apresentou e o convocou à tocar em suas chagas abertas para que fosse curado da cegueira espiritual que ainda o mantinha na morte, levando-o a experimentar como os outros discípulos a alegria da Sua Ressurreição.
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4. Com efeito, essa luta travada por Tomé, entre a incredulidade e a fé, é a mesma que travamos também nós em nossos dias, em que tudo o que vemos dos pecados cometidos pelos os homens é uma negação explícita dos ensinamentos do Senhor Jesus, da Sua Ressurreição, da Sua presença no meio de nós, e de tudo o que há de mais sagrado, e é por essa incredulidade que este mundo está se tornando um antro de perdição eterna.
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5. E isto porquê, como está escrito na Carta aos Hebreus: "Ora, sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário que se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram." (Hb 11,6). Pois, tudo nos fala de Deus, como nos ensina São Paulo: "Porque nele se revela a justiça de Deus, que se obtém pela fé e conduz à fé, como está escrito: O justo viverá pela fé (Hab 2,4).
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6. Portanto, caríssimos, certamente Tomé sofreu tal tentação e nela caiu por dois motivos: primeiro, por sua ausência na comunidade dos discípulos, pois, quanto mais isolados, mais facilmente caímos na tentação da incredulidade. Segundo, o Senhor está sempre conosco, mas precisamos estarmos com Ele, mesmo quando nos isolamos; pois Ele nos ama, e cura com as suas chagas abertas, a ferida das nossas dúvidas para que assim participemos da alegria da Sua Ressurreição.
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7. Comentando o Evangelho de hoje, disse São Tomás de Vilanova: "Tomé soltou esta exclamação sublime: "Meu Senhor e meu Deus". Esta profissão de fé, maior do que a incredulidade passada, não poderia ter soado mais alto: é todo o conteúdo da fé que está incluído nesta breve exclamação.
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8. Maravilhosa penetração deste homem, que toca no Homem e Lhe chama Deus, que toca numa coisa e acredita na outra. Tivesse ele escrito mil livros, não teria servido tão bem a Igreja. Com que clareza, fé e simplicidade chama Deus a Cristo! Que palavra tão útil e necessária para a Igreja de Deus!
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9. Foi graças a ela que as piores heresias foram outrora extirpadas da Igreja. Pedro foi elogiado por ter dito: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo» (Mt 16,16); ora, é ainda que com maior clareza que Tomé exclama: "Meu Senhor e meu Deus", confessando, com estas simples palavras, as duas naturezas de Cristo. "Porque Me viste, acreditaste; felizes os que acreditam sem terem visto" . 
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10. Estas palavras, irmãos, nos dão uma grande consolação. Sempre que dizemos ou exclamamos: "Bem-aventurados os olhos, bem-aventurado o tempo, bem-aventuradas as pessoas que tiveram a sorte de ver e contemplar tão grandes mistérios", estamos a falar a verdade, porque o Senhor disse: "Bem-aventurados os olhos que veem o que vedes" (Lc 10,23).

11. Todavia, Ele também disse: «Felizes os que acreditam sem terem visto». E estas palavras geram uma consolação ainda maior, apontam para um mérito maior. A visão dá mais alegria; a fé dá maior honra."
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São Tomás de Vilanova (c. 1487-1555), eremita de Santo Agostinho, bispo - Sermão para o Domingo in albis).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.
 

terça-feira, 2 de julho de 2024

POR QUE TENDES TANTO MEDO?


 PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 8,23-27)(02/7/24)

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1. Caríssimos, o dom de acreditar é traduzido pela confiança inabalável em Deus que tem todo poder sobre o céu e a terra, isto é, sobre toda a criação e todas as criaturas. De nossa parte temos um inimigo interior chamado medo que carregamos no mais íntimo de nós, e que precisamos combate-lo e vence-lo por meio da fé, pois, como disse o Senhor Jesus: "Tudo é possível ao que crê." (Mc 9,23b).

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2. De fato, para superarmos esse inimigo fiquemos certos de uma coisa, nada podemos por nós mesmos; ora, essa convicção nos ensina a dependermos cem por cento de Deus, como dependemos do ar que respiramos. 

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3. O ar é invisível, está dentro e fora de nós e sem ele naturalmente não podemos sobreviver. De igual modo assim também acontece com a fé em Deus, pois, é Ele quem nos sustenta na vida, como nos ensinou São Paulo: "É em Deus que vivemos, nos movemos e somos." (At 17,28).

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4. No Evangelho de hoje depois de despedir as multidões Jesus segue com os discípulos numa barca rumo à outra margem do mar da Galiléia; enquanto dormia na proa, foram surpreendidos por uma terrível tempestade que os ameaçava com o naufrágio.

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5. Tomados de pavor acordaram o Senhor, e lhe disseram: "Senhor, salva-nos, pois estamos perecendo!” Jesus respondeu: “Por que tendes tanto medo, homens fracos na fé? Então, levantando-se, ameaçou os ventos e o mar, e fez-se uma grande calmaria. Os homens ficaram admirados e diziam: “Quem é este homem, que até os ventos e o mar lhe obedecem?"

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6. Portanto, caríssimos, esse Evangelho de hoje nos mostra que pelo fato de termos sidos chamados pelo Senhor Jesus para atravessarmos o mar revolto deste mundo; não fazemos essa travessia sozinhos, pois, a Santa Igreja é a barca de Pedro e o Senhor se faz presente nela, e mesmo que apareçam as mais terríveis tempestades, nada temos a temer, porque é Ele quem nos conduz ao porto seguro da nossa salvação.

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7. Comentando esse Evangelho escreveu são Charles de Foulcaud: "Meus filhos, seja o que for que vos aconteça, lembrai-vos de que Eu estou sempre convosco. Lembrai-vos de que, visível ou invisível, parecendo agir ou parecendo dormir e esquecer-vos, Eu velo sempre, estou em toda a parte e sou Onipotente.

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8. Nunca tenhais medo, nem preocupações: Eu estou presente, Eu velo, Eu amo-vos. Eu sou Onipotente - que mais quereis? Lembrai-vos das tempestades que acalmei com uma palavra, transformando-as numa grande calmaria. Lembrai-vos de que sustentei Pedro quando caminhava sobre as águas (cf Mt 14,28ss). 

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9. Estou sempre tão perto de cada homem como estou agora de vós. Tende confiança, fé, coragem; não vos preocupeis com o vosso corpo nem com a vossa alma (cf Mt 6,25), porque Eu estou presente, sou Onipotente e amo-vos.

10. Mas, que a vossa confiança não nasça da negligência, da ignorância dos perigos, nem da confiança em vós mesmos ou noutras criaturas. Os perigos que correis são iminentes: os demônios, inimigos fortes e manhosos, a vossa natureza, o mundo, fazem-vos continuamente uma oposição encarniçada. 

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11. Nesta vida, as tempestades são quase contínuas e a vossa barca está sempre prestes a naufragar. Mas Eu estou presente, e comigo ela é insubmersível. Desconfiai de tudo e sobretudo de vós mesmos, mas tende em Mim uma confiança inabalável, capaz de expulsar toda inquietação."

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"São Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saara - Meditação «Oito dias em Efrém», a tempestade acalmada).

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Paz e Bem!

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Frei Fernando Maria OFMConv.

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