SÉRIE MEDITAÇÕES
A VINDA ESCATOLÓGICA DE JESUS
A parusia escatológica de Jesus Cristo, o
Filho de Deus, diz respeito à sua segunda vinda, no fim do mundo, conforme ele
mesmo revelou: ”E vereis o Filho do Homem
sentado à direita do poder de Deus, vindo sobre as nuvens do céu”. (Mc
14,62b). Mas, por que ele virá, ou pra quê virá? Para julgar os vivos e mortos e
implantar o Reino de Deus plenamente (cf. 2Tim 4,1; Mt 25,31-46; 1Cor 15,21-28).
Ora, Deus não criou este mundo para que o mal se estabelecesse nele; ao
contrário, tudo o que Deus criou é bom e criou somente para o bem. Porém, se
vemos o mundo neste estado calamitoso de escravidão e torpor, é porque o homem
com sua desobediência estabeleceu este estado de desordem sobre ele mesmo e
tudo que governa. Logo, o estado das coisas não pode permanecer como está, é
preciso que seja passado a limpo, isto é, que volte à sua originalidade, sem
pecado algum, conforme a vontade de Deus.
De fato, a primeira vinda de Jesus se deu
no seio do povo hebreu, conforme as profecias, porém, não foi escatológica em
si no sentido pleno da palavra, mas sim teológica, para que os homens
conhecessem Deus, sua misericórdia e se convertessem, por meio de seu exemplo,
para uma vida de penitência, retidão e amor, de acordo com os seus desígnios
eternos. Desse modo, compreendemos que sua primeira vinda se deu para que se cumprissem
as profecias do Antigo Testamento à seu respeito; e também para que nos fosse
revelado o Reino de Deus e sua justiça, presente visivelmente na Igreja, Seu
Corpo Místico, do qual ele é a cabeça e nós somos os membros. Por ela, é anunciado
a Plenitude desse Reino e a vinda definitiva do Senhor; ele que permanece conosco
por meio dos sacramentos que realizam a nossa salvação e participação em sua
natureza divina, pois é em Deus que vivemos, nos movemos e somos (cf. At
17,28).
Então, como e quando se dará essa vinda
escatológica? Eis a resposta: “Assim reunidos, eles o interrogavam: Senhor é
porventura agora que ides instaurar o reino de Israel? Respondeu-lhes ele: Não
vos pertence a vós saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou em seu
poder, mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas
testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os confins do mundo”.
“Dizendo isso elevou-se da (terra) à vista
deles e uma nuvem o ocultou aos seus olhos. Enquanto o acompanhavam com seus
olhares, vendo-o afastar-se para o céu, eis que lhes apareceram dois homens
vestidos de branco, que lhes disseram: Homens da Galileia, por que ficais aí a
olhar para o céu? Esse Jesus que acaba de vos ser arrebatado para o céu voltará
do mesmo modo que o vistes subir para o céu”. (At 1, 6-11).
Como vimos, da parte dos apóstolos, também
nós hoje ficamos desejosos que se estabeleça logo neste mundo a verdadeira
justiça, para que haja paz e abundância para todos. Por isso, suplicamos que
venha o Reino de Cristo e que seja iminente, pois assim como ele veio uma
primeira vez, também virá segunda vez e cumprirá sua promessa de reunir em si “todas
as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra”, conforme revelado
nas Escrituras (cf. Ef 1,3-14; Mt 24,3-36).
E agora que estamos avisados de sua vinda,
o que fazer? Santo Efrém, assim nos exorta: “O Senhor, ocultou-nos o dia de sua vinda para que ficássemos vigilantes
e cada um de nós pudesse pensar que esse acontecimento se daria durante a nossa
vida. Se tivesse revelado o tempo de sua vinda, esta deixaria de ter interesse
e não seria mais desejada pelos povos da época em que se manifestará. Ele disse
que viria, mas não declarou o momento e por isso as gerações e todos os séculos
o esperam ardentemente.
Embora
o Senhor tenha dado a conhecer os sinais de sua vinda, não se vê exatamente o
último deles, pois numa mudança contínua, esses sinais apareceram e passaram e,
por outro lado, ainda perduram. Sua última vinda será igual à primeira.
Os
justos e os profetas o desejavam, pensando que se manifestaria em seu tempo; do
mesmo modo, cada um dos fiéis de hoje deseja recebê-lo em sua época, pois ele
não disse claramente o dia em que viria. E isto, sobretudo para ninguém pensar
que está submetido a uma determinação e hora, ele que domina os números e os tempos.
Como poderia estar oculto àquele que descreveu os sinais de sua vinda, o que
ele próprio estabeleceu? O Senhor pôs em relevo esses sinais para que, desde o
primeiro dia, os povos de todos os séculos pensassem que ele viria no próprio
tempo deles.
Permanecei
vigilantes porque, quando o corpo dorme, é a natureza que nos domina e nossa
atividade é então dirigida, não por nossa vontade, mas pelos impulsos da
natureza. E quando a alma está dominada por um pesado torpor, como por exemplo,
a pusilanimidade ou a tristeza, é o inimigo que a domina e a conduz, mesmo
contra a sua vontade. Os impulsos dominam a natureza e o inimigo domina a alma.
Por
isso, o Senhor recomendou ao homem a vigilância tanto da alma como do corpo: ao
corpo, para que se liberte da sonolência; e à alma, para que se liberte da
indolência e pusilanimidade. Assim diz a Escritura: Vigiai,
justos (cf. 1Cor 15,34); e também: Despertei e ainda estou
contigo (cf. Sl 138,18); e ainda: Não desanimeis (cf.
Jo 16,33).Por isso não desanimamos no exercício do ministério que recebemos (2Cor
4,1)”. (Do Comentário sobre o Diatéssaron, de Santo Efrém, diácono (Cap.
18,15-17; SCh 121,325-328). (Séc. IV).
Portanto, precisamos estar preparados, para
não sermos pegos de surpresa. Pois, assim escreveu São Paulo: “A respeito da época e do momento, não há
necessidade, irmãos, de que vos escrevamos. Pois vós mesmos sabeis muito bem
que o dia do Senhor virá como um ladrão de noite. Quando os homens disserem:
Paz e segurança!, então repentinamente lhes sobrevirá a destruição, como as
dores à mulher grávida. E não escaparão. Mas vós, irmãos, não estais em trevas,
de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão. Porque todos vós sois
filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas”. (1Tess
5,1-5).
“Assim,
pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes,
seja por palavras, seja por carta nossa. Nosso Senhor Jesus Cristo e Deus,
nosso Pai, que nos amou e nos deu consolação eterna e boa esperança pela sua
graça, consolem os vossos corações e os confirmem para toda boa obra e palavra!”
(2Tess 2,15-16).
Paz e Bem!
Frei Fernando,OFMConv.
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