EM MEIO À ESSA TRAGÉDIA, TENHAMOS UMA FÉ INABALÁVEL...
Diante de certos acontecimentos circunstanciais, como por exemplo a
tragédia na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul, ficamos como que estupefatos,
chocados e também sentindo a dor e o sofrimento daquelas famílias. Porém, em
meio a tudo isso, precisamos refletir bastante sobre como nossa vida é efêmera e
de quanto precisamos valoriza-la enquanto aqui estivermos. Quem sabe, talvez nenhum
daqueles jovens pensou que a morte estivesse tão próxima. De fato, eles foram ali
em busca de diversão, encontrar os amigos, curtir mais uma balada, ouvir
música, dançar, tomar uns drinks, festejar, namorar, etc., como é costume entre
os nossos jovens. E no entanto, encontraram uma morte tão trágica e desproporcional.
Culpados pela tragédia? Quem? Os donos da boate? Os músicos? O local?
As autoridades? Os jovens? No momento a dor é tanta que ficamos atordoados,
quem sabe, procurando uma explicação ou um entendimento para esse acontecimento
tão trágico e inesperado. De fato, existem culpados, mas mesmo que se punam
todos os culpados por essa tragédia, nada trará de volta a vida dos jovens que
foram ceifados tão dolorosamente em seus sonhos e projetos existenciais. Porém,
precisamos aprender, tirar uma lição em meio a tudo isso. E que lição tiraremos
desse triste episódio? Creio que muitas lições, uma delas diz respeito a própria
vida, pois ela nos é dada, mas naturalmente podemos perdê-la a qualquer
momento, isto porque, estamos aqui, mas não somos daqui. Por isso, não podemos
viver como se fôssemos somente daqui sem pensar no devir, ou seja, não podemos
viver como se não tivéssemos uma eternidade à nossa frente.
Uma outra lição que tiraremos dessa tragédia: não podemos confiar
em quem faz do lucro monetário o alicerce de sua vida e por isso pouco se importa
com a segurança e a vida dos demais; nem tão pouco confiar nas autoridades que
usam os cargos públicos para enriquecimento ou apenas para galgar status social
de destaque. Estes visam apenas se perpetuar no poder, como diz o ditado
popular, “não querem largar o osso, enquanto houver um mínimo de carne nele”,
pouco importando se estão dando cabo das responsabilidades que lhes confiamos
com nossa escolha democrática. Todavia, ai daqueles que apenas usufruem das
benesses do poder, como regalias pessoais e outras facilidades de tais cargos
públicos, deixando que os menos abastados morram à míngua, ou se acabem em
tragédias como essa. Ai das autoridades que assim procedem, pois naquele dia
ouvirão do Senhor: “Nunca vos conheci.
Retirai-vos de mim, operários maus!”. (Mt 7,23b).
Por outro lado, podemos tirar ainda uma lição que nos fará
enfrentar tais dificuldades com profunda determinação e sem perdermos a ternura
ou o ânimo pela vida. Pois, quantos jovens ali não se tornaram heróis dando a
vida para salvar outros jovens que estavam precisando de sua ajuda? Quanta solidariedade,
orações, súplicas, devoções pelas vidas que se foram e pelas famílias enlutadas?
De fato, nessas horas, revelamos a fé em Deus que nos sustenta, o amor que nos
faz solidários e a consolação que nos faz dar o ombro amigo à quem dele
necessita ou ainda chorar com os amigos, os entes queridos que se foram. Só sabe
a dor da cruz que é crucificado nela, mesmo sendo inocente; porém, nunca
podemos esquecer que o Filho de Deus nos ensinou carrega-la rumo à
ressurreição, ao Reino dos céus...
A nossa fé em Cristo Jesus nos ensina, a vida é um dom de Deus e
devemos vive-la para a sua maior glória em todos os sentidos. Viver para este mundo
é morrer a cada segundo; viver para a eternidade é viver em Deus, com Deus e
para Deus todo tempo que temos aqui, ou seja, é fazer acontecer o devir a cada
passo dado em direção à vida eterna. Que seja este o nosso consolo e a nossa
resposta para toda dor e sofrimento que aqui suportamos, mesmo quando não
entendemos.
Com efeito, escreveu São Paulo: “Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção
alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada. Por isso, a criação
aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus. Pois a criação foi
sujeita à vaidade (não voluntariamente, mas por vontade daquele que a
sujeitou), todavia com a esperança de ser também ela libertada do cativeiro da
corrupção, para participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus.
Pois sabemos que toda a
criação geme e sofre como que dores de parto até o presente dia. Não só ela,
mas também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos em nós mesmos,
aguardando a adoção, a redenção do nosso corpo. Porque pela esperança é que
fomos salvos. Ora, ver o objeto da esperança já não é esperança; porque o que
alguém vê, como é que ainda o espera? Nós que esperamos o que não vemos, é em
paciência que o aguardamos”. (Rom 8,18-25).
Por fim, me solidarizo e rezo por todas as famílias que estão
sofrendo a dor dessa tragédia, pois a sinto como se fosse minha própria família;
suplico ao Senhor que em seu infinito amor nos console e nos dê a graça da
perseverança em Cristo Jesus. Pedimos ainda a intercessão da Virgem Santíssima,
Maria, mãe de Jesus e nossa mãe, por aqueles que partiram, e que já estão na
eternidade, para que lhes seja dado o perdão dos pecados e ressurreição que Jesus
nos conquistou por sua morte de cruz. À Ti, Senhor, seja a glória e a majestade
aqui e por toda eternidade. Amém!
Paz e Bem!
Frei Fernando Maria,OFMConv.
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