A
TÊMPERA DOS MÁRTIRES...
Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo
(Hom. De gloria in tribulationibus, 2.4: PG
51, 158-159.162-164)(Séc.IV)
Consideremos a sabedoria de Paulo. Que diz
ele? Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados
com a glória que deve ser revelada em nós (Rm 8,18). Por que, exclama, me
falais das feridas, dos tormentos, dos altares, dos algozes, dos suplícios, da
fome, do exílio, das privações, dos grilhões e das algemas? Ainda que invoqueis
todas as coisas que atormentam os homens, nada podeis mencionar que esteja à
altura daqueles prêmios, daquelas coroas, daquelas recompensas. Pois as
provações cessam com a vida presente, ao passo que a recompensa é imortal,
permanecendo para sempre.
Também isto insinuava o Apóstolo em outro
lugar, quando dizia: O que no presente é insignificante e momentânea tribulação
(cf. 2Cor 4,17). Ele diminuía a quantidade pela qualidade, e alivia a dureza
pelo breve espaço de tempo. Como as tribulações que então sofriam eram penosas
e duras por natureza, Paulo se serve de sua brevidade para diminuir-lhe a
dureza, dizendo: O que no presente é insignificante e momentânea tribulação,
acarreta para nós uma glória eterna e incomensurável. E isso acontece, porque
voltamos os nossos olhares para as coisas invisíveis e não para as coisas
visíveis. Pois o que é visível é passageiro, mas o que é invisível é eterno
(cf. 2Cor 4,17-18).
Vede como é grande a glória que acompanha a
tribulação! Vós mesmos sois testemunhas do que dizemos. Antes mesmo que os
mártires tenham recebido as recompensas, os prêmios, as coroas, enquanto ainda
se vão transformando em pó e cinza, já acorremos com entusiasmo para honrá-los,
convocando uma assembleia espiritual, proclamando o seu triunfo, exaltando o
sangue que derramaram, os tormentos, os golpes, as aflições e as angústias que
sofreram. Assim, as próprias tribulações são para eles uma fonte de glória,
mesmo antes da recompensa final.
Tendo refletido sobre estas coisas, irmãos
caríssimos, suportemos generosamente todas as adversidades que sobrevierem. Se
Deus as permite, é porque são úteis para nós. Não percamos a esperança nem a
coragem, prostrados pelo peso dos sofrimentos, mas resistamos com fortaleza e
demos graças a Deus pelos benefícios que nos concedeu. Deste modo, depois de
gozarmos dos seus dons na vida presente, alcançaremos os bens da vida futura,
pela graça, misericórdia e bondade de nosso Senhor Jesus Cristo. A ele
pertencem a glória e o poder, com o Espírito Santo, agora e sempre e pelos
séculos. Amém.
Paz e Bem!
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