A "ESCADA DOS MONGES"...
A Lectio Divina é uma “caminhada” de quatro
passos básicos:
1) LECTIO – leitura
2) MEDITATIO – meditação
3) ORATIO – oração
4) CONTEMPLATIO – contemplação
Esses quatros passos da Lectio Divina que
hoje conhecemos foram assim definidos por volta do ano 1150 pelo monge cartuxo
Guido em um pequeno livro chamado A escada dos monges. Neste livro o monge
Guido expunha a sua teoria dessa forma: “Certo dia durante o trabalho manual,
ao refletir sobre a atividade do espírito humano, de repente vi em minha mente
a escada dos quatro degraus espirituais: a leitura, a meditação, a oração e a
contemplação. Essa é a escada pelo qual os monges sobem da terra ao céu. Está
certo, a escada ter poucos degraus, mas é de uma altura tão imensa e tão incrível
que enquanto seu extremo inferior se apoia na terra, a parte superior penetra
nas nuvens e investiga os segredos do céu. (...).
A leitura é o estudo assíduo das
Escrituras, feito com espírito atento. A meditação é uma atividade diligente da
mente que, com ajuda da razão busca o conhecimento da verdade oculta. A oração
é o impulso fervoroso do coração à Deus, pedindo que afaste os males e conceda
coisas boas. A contemplação é uma elevação da mente sobre si mesma que, apoiada
em Deus, saboreia as alegrias da doçura eterna.”.
1) LEITURA “O que eu leio...”
Deve ser uma leitura pausada, atenta, como
que “degustando” a Palavra. “Como é doce ao paladar vossa palavra, mais doce do
que o mel na minha boca!”. “Saboreai e vede como o Senhor é bom” (SL 118, 103).
É importante abrir o coração e suplicar o
auxílio do Espírito Santo para não cairmos numa racionalização. Cuidado para
não manipular a Palavra de Deus, ou pensar numa 3ª pessoa! Não, isto é o que
Deus fala pra MIM neste MOMENTO da MINHA HISTÓRIA PESSOAL! Toda a Escritura nos
revela Deus, mas sobretudo olhamos para os Evangelhos, pois através dele
podemos conhecer os SENTIMENTOS DO FILHO, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Nesta hora da leitura eu não vou conduzir
nada, vou deixar-me guiar pelo Espírito Santo, ficar atendo para onde (qual
trecho) Ele vai fixar o meu coração. Pode ser num determinado versículo, numa
determinada frase ou até mesmo numa simples palavra. Numa atitude de FILIAL
ABANDONO deixar o coração totalmente vulnerável (vulnera em latim= chaga),
deixar-se chagar por Deus como Nosso Senhor na Cruz. Ali, onde meu coração se
sentiu fixado devo parar, aprofundar, insistir... “Tua palavra é lâmpada para
os meus passos.” Pronto! Abriu-se a porta e eu devo entrar, é isto que Deus
quer me falar hoje. De repente, sem dar conta, já estou no 2º passo que é a...
2) MEDITAÇÃO “O que me diz...”
Na meditação eu devo percorrer este caminho
que o Senhor me mostrou na leitura, como um peregrino que busca a Deus e não a
sua própria vontade. “Sai da tua terra e vai aonde eu te mostrar”!
Podemos usar a imaginação, entrar naquela
cena do Evangelho, colocar-nos no lugar do pecador, da prostituta, dos fariseus
e hipócritas, do filho pródigo, e porque não, do filho mais velho, que não
compreendeu a misericórdia do Pai. Tudo vai depender do caminho que o Senhor
tem para nós naquele dia, naquele momento e que estamos vivendo; da fraqueza
que precisamos aceitar, do pecado que precisamos nos arrepender, do apego que
precisamos renunciar, do irmão que precisamos aceitar ou perdoar; da cura e do
amor que nossa alma está sedenta, etc... Podemos imaginar as aves do Céu (Mt 6,
26), os lírios (v.28) do campo, o trigo, o Templo; podemos visualizar a
expressão de Nosso Senhor, suas lágrimas (Jo 11, 35, Lc 19, 41b), sua compaixão
(Lc 7, 13 e 15, 20), sua fome (Lc 4, 2), seu olhar (Mc 10, 21, Lc 22, 61), sua
voz, seu silêncio (Mt 26, 63). Podemos transportar-nos para a barca na
tempestade, para o Monte Tabor ou para o Calvário, podemos ser o Cireneu, Maria
Madalena, João ou um dos soldados, enfim, podemos com o uso da razão e
imaginação deixar a Palavra de Deus visível diante do olhar do nosso coração.
Na meditação, vamos colocar nossa mente,
nossa imaginação, nossa razão a serviço do Senhor, sob o império da sua graça,
do seu senhorio.
Importante lembrar de novo que Ele é quem
toma as rédeas do nosso coração, na Lectio Divina, nós vamos apenas obedecendo,
atraídos, arrastados (cf. Ct 1, 4), aí eu vou compreendendo o que Ele, o Amado,
tem para mim, e o meu coração deseja então expandir-se num diálogo amoroso,
falar com o Senhor e também ouvi-lo. Então, sem perceber eu já estou no 3º
passo...
3 e 4) A ORAÇÃO E A CONTEMPLAÇÃO “O que eu
digo e... o que mais...!
Na liberdade de filhos e herdeiros do Reino
abrimo-nos para este diálogo com Deus Trino. Expomos para Ele nossos medos,
nossas angústias, nossas revoltas, nossas dores, nossas carências, nossas
limitações e dificuldades. Expomos também a sede de nossa alma (minh’alma
suspira Sl 41, 23; Sl 62, 2) nosso desejo de conhecê-lo, de obedecê-lo, de
imitá-lo, de servi-lo, de segui-lo.
Na oração esperamos do Senhor as respostas
das quais necessitamos, esperamos que Ele direcione o nosso coração para o bem,
para a justiça, para a santidade. Com o tempo, a nossa oração não permanece
somente um DIÁLOGO, mas sobretudo um ENCONTRO de duas pessoas que se amam: DEUS
e a ALMA, e isto é a contemplação, quando o mais íntimo de nós se encontra no
mais íntimo de Deus, “minha vida está escondida em Cristo”. A oração e a
contemplação vão nos transformando em outros CRISTOS, imprimindo em nós a sua
mansidão, a sua imolação, a sua sede de salvar a humanidade, a sua verdade, a
sua paz... “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”.
Aprendemos a “ouvir” não só a voz do
Senhor, mas também o Seu Silêncio, “sofre as demoras de Deus”. Nada mais
difícil do que suportar a “nudez” da Palavra, quando parece que Ela nada nos
diz e o nosso coração continua árido com uma terra seca. Consola-nos refletir
que ninguém colhe no dia seguinte após ter semeado. A Lectio vai produzindo
seus frutos em nós com o correr do tempo, e isso exige uma atitude assídua e
comprometida de perseverança na leitura. A experiência nos fará transpor os
sentimentos (gozo, consolação, secura) e encontrar o próprio Deus.
A contemplação seria esse “O QUE MAIS” do
encontro entre a alma e Deus. Neste encontro o nosso coração é abrasado (nem
sempre sensivelmente), frutificando na necessidade de uma autêntica conversão.
É como um despertar para a graça. Os frutos da oração e da contemplação devem ser
ENCARNADOS, ou seja, visíveis em nossa vida cotidiana, no nosso trato com os
irmãos, os pobres, na nossa postura (interior e exterior) reverente ao próprio
Deus, aos seus ministros e aos seus mistérios.
Paz e Bem!
Paz e bem!
ResponderExcluirEm 2010 preparei esta ilustração
pora a Leitura Orante:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Lectio_Divina_pt.svg