BUSCAR-ME-EIS, E ME ACHAREIS,
QUANDO ME BUSCARDES DE TODO CORAÇÃO... (Jr 29,13)
Pensando bem, estamos sempre em busca de algo que nos faça viver o que nos convém ou o
que nos propomos na existência. Todavia, nem sempre encontramos esse algo,
objeto do nosso desejo, porque no mais das vezes, nem sequer perguntamos a Deus
se esse algo procurado faz parte dos seus planos para a nossa salvação. E
quando descobrimos isso, a tendência é de nos frustrarmos ou até nos revoltarmos,
porque as coisas não aconteceram como desejávamos ou ainda como tínhamos
planejado. Não podemos esquecer que estamos a caminho da eternidade e que essa
eternidade já se faz presente aqui; e é aqui que a começamos viver, pois é em
Deus que nós “vivemos, nos movemos e somos” (cf. At 17,28); ou sem Ele. (cf. Mt
7,21-23).
Quem poderá dizer:
por que eu nasci? “Por que não morri no seio materno, por que não pereci saindo
das entranhas de minha mãe?” (Jó 3,11). Talvez todos nós tenhamos essas
indagações, mas não temos resposta convincente e definitiva para elas fora da
vontade de Deus. Aqui não se trata de pessimismo ou egoísmo, trata-se apenas de
que, por não sermos autossuficientes, mas sim, dependentes, nos tornamos
frágeis e insuficientes por nós mesmos. E por causa dessa nossa contingência, nos
tornamos seres inseguros, imaturos, inclinados às concupiscências e ao mal que
está no mundo. Com efeito, diz o Senhor no Livro de Sabedoria: “Não procureis a
morte por uma vida desregrada, não sejais o próprio artífice de vossa perda. Deus
não é o autor da morte, a perdição dos vivos não lhe dá alegria alguma. Ele
criou tudo para a existência, e as criaturas do mundo devem cooperar para a
salvação. Nelas nenhum princípio é funesto, e a morte não é a rainha da terra, porque
a justiça é imortal”. (Sab 1,12-15).
Então, o que fazer
diante tal constatação? Creio que só há uma resposta que nos ajuda a compreender
melhor a vida, fazer aquilo o que Deus nos ensina: ”Já te foi dito, ó homem, o
que convém, o que o Senhor reclama de ti: que pratiques a justiça, que ames a
bondade, e que andes com humildade diante do teu Deus”. (Miq 6,8). Pois não
somos frutos do acaso, visto que o acaso não responde ao nosso desejo de vida
permanente. Assim, entendemos que, o fato de existirmos aponta para um devir
que não tem fim, isto é, a vida não se resume ao limite no qual estamos, mas,
ao contrário, para além do que somos, existe toda uma eternidade que nos
envolve. Ela é esse mistério divino, que nos responde a tudo pelo sofrimento,
morte e ressurreição de Jesus Cristo, e nos faz compreender que por sermos “imagem
e semelhança” de Deus, também somos eternos como Deus é. Desse modo, todos os
mistérios que se nos apresenta à nossa experiência, nos são revelados pela fé
no Filho de Deus, que nos amou e se entregou por nós, para que tivéssemos a salvação,
a vida eterna Nele com Ele e para Ele.
Qualquer
experiência de fé fora da cruz de Jesus, não conduz a ressurreição, porque para
os filhos de Deus, a cruz de Cristo é o caminho perfeito da liberdade e da felicidade
dos justos, ou seja, daqueles que foram justificados pelo sangue do “Cordeiro
de Deus imolado que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). O próprio Senhor nos deu
esse ensinamento: “Jesus tornou a dizer-lhes: Em verdade, em
verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas. Todos quantos vieram antes de mim
foram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta. Se
alguém entrar por mim será salvo; tanto entrará como sairá e encontrará
pastagem. O ladrão não vem senão para furtar, matar e destruir. Eu vim para que
as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância”. (Jo 10,7-10).
Com efeito, São
Paulo nos ensina que a fé que nasce da cruz do Senhor nos foi dada pelo
Sacramento do Batismo, eis o que ele diz: “Ou ignorais que todos os que fomos
batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois,
sepultados com ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu
dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova. Se fomos
feitos o mesmo ser com ele por uma morte semelhante à sua, sê-lo-emos
igualmente por uma comum ressurreição”. (Rom 6,3-5).
Desse modo,
entendemos que se unir a Cristo Jesus pelo batismo nesta vida é encontrar-se
com o próprio Deus e permanecer Nele, pois assim nos ensinou o Senhor: “Se me
conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já o conheceis,
pois o tendes visto. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos
basta. Respondeu Jesus: Há tanto tempo que estou convosco e não me conheceste,
Filipe! Aquele que me viu, viu também o Pai. Como, pois, dizes: Mostra-nos o
Pai... Não credes que estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que
vos digo não as digo de mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, é que realiza
as suas próprias obras. Crede-me: estou no Pai, e o Pai em mim. Crede-o ao
menos por causa destas obras”. (Jo 14,7-11). “Eu e o Pai somos um”. (Jo 10,30).
Portanto, escutemos
o profeta Isaías: ”Buscai o Senhor, já que ele se deixa encontrar; invocai-o,
já que está perto. Renuncie o malvado a seu comportamento, e o pecador a seus
projetos; volte ao Senhor, que dele terá piedade, e a nosso Deus que perdoa
generosamente. Pois meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir
não é o meu, diz o Senhor; mas tanto quanto o céu domina a terra, tanto é
superior à vossa a minha conduta e meus pensamentos ultrapassam os vossos. Tal
como a chuva e a neve caem do céu e para lá não volvem sem ter regado a terra,
sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o
pão a comer, assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter
produzido seu efeito, sem ter executado minha vontade e cumprido sua missão”.
(Is 55,6-11).
Por fim, meditemos o que diz o primeiro mandamento da Lei de Deus: “Amarás o Senhor, teu Deus, de
todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças”. (Dt 6,5). E
como é amar a Deus assim? São João nos responde a essa pergunta com perfeita
maestria: “Nisto
conhecemos que amamos os filhos de Deus: se amamos a Deus e guardamos os seus
mandamentos. Eis o amor de Deus: que guardemos seus mandamentos. E seus
mandamentos não são penosos, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E
esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. (1Jo 5,2-4). Logo, “buscar a
Deus de todo coração” é unir-se a Cristo Eucarístico e permanecer fiel a Ele
até o fim, pois o Senhor assim nos exortou: ”Quem come a minha carne e bebe o
meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha
carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o
Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a
minha carne viverá por mim”. (Jo 6,54-57). Ficai, atentos, pois: “Aquele perseverar
até o fim, será salvo”. (Mt 10,22b).
Paz e Bem!
Frei Fernando
Maria,OFMConv.
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