O QUE É A FÉ?
De imediato, a fé é
um dom de Deus inato, pois já nascemos com ela, isto porque, naturalmente
acreditamos na vida que temos, e naquilo que perfaz o nosso ser e estar no
mundo. Todavia, a fé é também um dom sobrenatural, carismático, recebido do
Espírito Santo quando fomos batizados; nesse sentido, pela vivência da fé, podemos
alcançar o impossível, pois assim nos ensinou o Senhor: “Tudo é possível ao que
crê” (Mc 9,2). Ora, acreditar em Jesus é assemelhar-se a ele na convivência com
o Pai, é fazer em tudo sua vontade (cf. 1Jo 2,6); pois a fé incondicional
significa obediência total, mesmo que essa obediência resulte em morte de cruz.
Logo, acreditar no Senhor é unir-se perfeitamente a ele pela ação do Espírito
Santo na Eucaristia, ou seja, é comungar seu Corpo e Sangue, sua Alma e
Divindade, e obter como resultado a santidade que o Senhor mesmo nos comunica.
Por isso, só crê verdadeiramente quem ama incondicionalmente, porque a fé
verdadeira é fruto do amor a Deus acima de todas as coisas e do amor ao próximo
como a si mesmo.
São Tiago nos
ensina que, “a fé sem obras é morta”, neste caso, ele se refere às obras do
amor, e elas começam com o perdão dado e recebido por um coração misericordioso
que tem no perdão o maior dom de cura, visto que, um coração reconciliado vive
em permanente comunhão com o Senhor e é conduzido por ele. Quaisquer outras
obras são frutos da missão que recebemos de Deus para que se cumpra sua
Palavra: “Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não
provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus. Não provém das obras, para
que ninguém se glorie. Somos obra sua, criados em Jesus Cristo para as boas
ações, que Deus de antemão preparou para que nós as praticássemos”. (Ef
6,8-10).
Existe na Igreja um
cântico do creio onde cantamos: “Creio Senhor, mas aumentai minha a fé”...
Certa feita, “Os apóstolos disseram ao Senhor: Aumenta-nos a fé! Disse o
Senhor: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira:
Arranca-te e transplanta-te no mar, e ela vos obedecerá”. (Lc 17,5-6). Ou seja,
o Senhor está nos indicando que a fé é dom gratuito, com o poder divino de
suspender até as próprias leis da natureza para que se cumpra a vontade de Deus
em vista da salvação das almas. Por isso, quando digo: creio, estou frente a
frente com Deus em minha vida e tudo o que a compõe; desse modo, a fé é fruto
do relacionamento filial e uma firme disposição a serviço do Reino de Deus e de
sua justiça. Ela é submissão amorosa, dependência total que libera o poder de
Deus em favor de seus filhos e filhas.
Portanto, a fé como
dom de Deus não é apenas uma profissão, mais do que isto, ela é um modo de ser
que faz acontecer a vontade de Deus em todos os sentidos da vida; é isso o que
vemos na vida de Jesus, “autor e consumador de nossa fé” (Heb 12,2). Crer é
viver segundo a vontade de Deus e assim ser vontade de Deus para toda criação a
começar pela realidade na qual nos encontramos. “Na realidade, pela fé eu morri
para a lei, a fim de viver para Deus. Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo,
mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne,
eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. (Gal
2,19-20). Essa é a fé que nos foi comunicada pelo Espírito Santo para a nossa
salvação e de toda a humanidade; sem a cruz de Cristo não há fé verdadeira.
Destarte, uma fé
baseada na prosperidade material é falsa, porque não é dom de Deus, mas uma
artimanha do inimigo de nossas almas que quer que acreditemos no ter mais e não
no ser um só com Cristo, que nos diz: “Se alguém quer seguir-Me, renuncie a si
mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai
perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de Mim, vai encontrá-la. Com
efeito, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua vida? O que
pode um homem dar em troca da sua vida? Porque o Filho do Homem virá na glória
de seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a
própria conduta”. (Mt 16,24-27). “[Porque] sem fé é impossível agradar a Deus,
pois para se achegar a ele é necessário que se creia primeiro que ele existe e
que recompensa os que o procuram”. (Heb 11,6).
Paz e Bem!
Frei Fernando
Maria,OFMConv.
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